O Brasil pode ocupar um lugar de liderança positiva no mundo se abraçar a bioeconomia como o setor econômico que leve a país a outro patamar de desenvolvimento. A proposta é do cientista e consultor Carlos Nobre. “O Brasil tem tudo para se tornar a primeira potência mundial da biodiversidade”, convidou Nobre, um dos maiores especialista em mudanças climáticas do mundo e um dos formuladores do conceito de Amazônia 4.0, uma iniciativa que promove a industrialização dos chamados bioativos disponíveis no bioma. A meta é gerar empregos, renda para a população local e um incentivo para a manutenção da floresta em pé.
Projeto-piloto coordenado pelo cientista será implementado em 2021 no município de Belterra, ao sul de Santarém, no Pará. Em parceria com a Associação das Mulheres Produtoras de Cupuaçu, a iniciativa vai capacitar empreendedoras para industrializar produtos a partir do cupuaçu e do cacau.
“Estamos falando em chocolates de altíssima qualidade e vários produtos do cupuaçu. Vamos levar uma mini biofábrica super moderna, usando tecnologias muito avançadas, mas com tecnologias baratas, abertas e fáceis de aprender”, projeta Nobre.
A participação do pesquisador aconteceu durante um dos debates da tarde desta quinta, 5, do Fórum Amazônia + 21, sobre a abordagem científica da Amazônia. A mesa também contou com a presença da pesquisadora do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB), Mercedes Bustamante.
Tornando viáveis os negócios sustentáveis
O Brasil já tem mapeados caminhos, como o projeto em Santarém, para tornar viáveis mais e melhores negócios sustentáveis na Amazônia. Outro exemplo do bom uso da biodiversidade da região é a iniciativa Inova Amazônia, do Sebrae Nacional. Lançada em março de 2020, combina ciência e tecnologia para apoiar negócios que usem recursos naturais de forma sustentável, gerando mais riqueza para empreendedores, startups e pesquisadores na região.
“Começamos no Pará, mas queremos atrair empreendedores de todo o Brasil para que desenvolvam seus negócios em parceria com os empreendedores dos nove estados da Amazônia Legal”, explicou o gerente de Inovação do Sebrae Nacional, Paulo Renato Macedo Cabral.
Ciência e tecnologia são mesmo fundamentais. Foram fatores determinantes, por exemplo, para que Rondônia passasse a ser um produtor competitivo de café, cultivado por populações indígenas. “Há décadas, mineiros, capixabas trouxeram sua cultura do café pra cá, mas não deu certo.
Recentemente, graças ao investimento de instituições como a Embrapa, o estado se tornou um grande produtor do grão”, conta o superintendente do Sebrae/RO, Daniel Pereira. O café cultivado na Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal, Rondônia, é plantado sob princípios de sustentabilidade e proteção da floresta e já recebeu diversos prêmios por sua qualidade.
Outro exemplo de que sé possível superar desafios e implementar a bioeconomia na Amazônia é a Inovam Brasil. Fundada em 2004, a empresa trabalha com o beneficiamento da castanha do pará também de forma sustentável e conservando a floresta em pé. “O produto da floresta tem sido valorizado”, confirma o gestor da empresa com sede em Ji-Paraná, Rondônia, José Alexandre de Lamarta
A janela de oportunidades do desenvolvimento sustentável
Tais exemplos mostram como o desenvolvimento sustentável é um caminho importante para transformar a Amazônia. A região detém alguns dos piores indicadores socioeconômicos do Brasil: 48,1% de sua população vive com até meio salário mínimo per capita e mais de 82% das pessoas não têm acesso a saneamento básico. E a bioeconomia é um caminho mais que viável para as economias amazônicas – capaz de equilibrar crescimento e conservação.
Para o diretor do escritório da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), ligada à ONU, Carlos Mussi, o conceito de bioeconomia não pode ser confundido com produtos. “Trata-se de uma estratégia de desenvolvimento”, lembrou Mussi. Para o consultor Marc Jean Dourojeanni, o desafio brasileiro é transformar a ampla biodiversidade brasileira em vantagem competitiva.
“A luta é tentar convencer os governos a favorecer um estilo de desenvolvimento que permita à bioeconomia prosperar”, afirmou Dourojeanni.
Mussi e Dourojeanni participaram de uma das sessões na tarde desta quinta do Fórum Amazônia, ao lado do pesquisador da Universidade Federal do Pará, Gonzalo Enriquez, e do secretário-adjunto de Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Pedro Alves Neto.
O mundo mudou
Em outro painel do Fórum, experientes diplomatas fizeram questão de lembrar: o Brasil precisa reconhecer que o mundo mudou. Está muito mais globalizado do que era há 40 anos, quando o país investiu em um modelo no qual “vencer” a floresta era o desafio a ser superado.
Pelo lado do mercado, houve também transformações profundas nas últimas décadas. Os consumidores buscam hoje produtos que combinem utilidade e propósito. Por isso, o país precisa se ajustar e projetar uma nova visão da Amazônia para o mundo.
“É essencial que o governo brasileiro tome medidas que reprimam e eliminem atos ilegais na Amazônia”, completou Barbosa.
O embaixador compôs a mesa sobre a visão internacional que o mundo tem da região amazônica. Também participaram o diretor executivo da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), embaixador Carlos Lazary, e o professor, ambientalista e biólogo norte-americano especializado em conservação, ecologia e biologia, Thomas Lovejoy, do Yale Institute. Todos concordam que a atenção dada à Amazônia hoje pela comunidade internacional não tem precedente na história.
Infraestrutura deve mitigar impacto socioambiental
O segundo dia do Fórum Amazônia + 21 foi encerrado com uma mesa sobre infraestrutura. Coube ao secretário nacional de Transportes Terrestres do Ministério da Infraestrutura (MInfra), Marcello da Costa, apresentar os projetos e ações do governo federal para o desenvolvimento dos modais de transporte da região amazônica.
Costa destacou a preocupação com a mitigação do impacto socioambiental dos projetos de engenharia na região e as demandas multimodais específicas da Amazônia, que demanda hidrovias, aeroportos, portos, rodovias integradas.
Fonte: CNI
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