O fato é que estes desafios são recorrentes e fazem com que o ser humano progrida ainda mais, pelo menos no campo tecnológico. Sigo com minhas dúvidas se no campo afetivo e espiritual este mesmo ser humano melhora. Tento acreditar que sim. Mas os inúmeros fatos do cotidiano me fazem também a acreditar no contrário.
Farid Mendonça Junior
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Ao atravessar este ano de 2020, ainda na vigência da pandemia do Covid-19 e suas consequências, penso em outras épocas da humanidade em que o objetivo era sobreviver.
Imaginar por exemplo o ano de 33 D.C, ou seja, o ano da morte de Jesus, e pensar no quanto dolorido foi para aquelas pessoas que ali estavam testemunhando tal fato e o sofrimento vivido.
Pensar na queda de Roma no ano simbólico de 476 e de toda uma civilização que muitos ganhos trouxe para a humanidade, como no direito, na arquitetura, na arte, entre outros.
Ou então, imaginar os cenários de catástrofe causado pelas pandemias de peste negra em diversos anos durante a Idade Média, que em muitos casos chegou a dizimar mais da metade da população europeia.
Retornar ao ano de 1.453 com a queda de Constantinopla e o fim de outra civilização (Império Romano do Oriente).
Lembrar dos horrores da I Guerra Mundial (1914-1918) e da II Guerra Mundial (1939-1945), com os diversos tipos de ódios, torturas, mortes , doenças, xenofobias e campos de concentração.
Além da pandemia de 1918, mais conhecida como gripe espanhola e que acabou ceifando a vida de milhões de pessoas.
Completando tudo isso, temos as diversas crises econômicas do capitalismo moderno (principalmente ao longo dos séculos XIX e XX) como foi o caso da crise de 1929 e o atual século XXI.
Ainda estamos no meio do furacão da atual pandemia. Ainda nos parece distante uma saída disso tudo.
O objetivo da humanidade em 2020 é certamente sobreviver. Talvez o de 2021 também tenhamos o mesmo objetivo. A chegada da vacina é esperada por todos. Estamos cansados do tema único dos jornais e da nossa realidade, a pandemia.
Como nas outras épocas já citadas e outras mais, o ser humano passa por grandes adversidades e é forçado a dar o máximo de si e, no curto espaço de tempo, buscar soluções para os problemas cada vez mais complexos que surgem.
Qual será o próximo grande problema? Não sabemos. Pode ser um asteróide caindo, uma outra pandemia mais forte, uma guerra nunca antes vista, uma crise econômica nunca antes experimentada, uma catástrofe vinda da natureza, etc. É a nossa existência sendo posta à prova.
O fato é que estes desafios são recorrentes e fazem com que o ser humano progrida ainda mais, pelo menos no campo tecnológico. Sigo com minhas dúvidas se no campo afetivo e espiritual este mesmo ser humano melhora. Tento acreditar que sim. Mas os inúmeros fatos do cotidiano me fazem também a acreditar no contrário.
Voltaremos a reconstruir, a sonhar, a ter esperança, a pensar no amanhã, no futuro. A pensar que o planeta pode ser um lugar melhor para nossos filhos, pois para a gente, de 30 em diante, as tentativas parecem não ter dado certo.
Penso no estado psicológico crítico em que se encontravam estes seres humanos ao atravessarem todas as catástrofes da história citadas, entre outros momentos difíceis. O que deveriam estar pensando, sentindo?
O que um judeu em pleno campo de concentração em 1945 sentiu ao ver as tropas aliadas chegando e dando fim àquele sofrimento? Alívio? Esperança? Raiva? Gratidão? Não conseguia pensar em nada, tal era o dano que lhe fora causado?
Seria tão bom se pudéssemos evitar futuras catástrofes. Seria tão bom transformar a terra no céu, ou pelo menos neste “céu” de bondade de nossa imaginação. Talvez ainda estejamos só no início do aprendizado e de muitas experiências ruins que ainda teremos que passar.
Que pelo menos saibamos aproveitar melhor o interstício entre as catástrofes. Amar mais uns aos outros e tentar aproveitar melhor cada momento que a vida nos dá.
O ato de respirar já é gratificante por si só. Que nós possamos valorizar ainda mais a vida e o que realmente é essencial.
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