Cláudio Barrela é empresário, presidente do Sindicato da Indústria de Plástico, Conselheiro do CIEAM e da FIEAM, com uma trajetória no setor produtivo que começou no chão de fábrica, em 1976, quando o Polo Industrial de Manaus dava os primeiros passos, portanto, sabe dizer porque esta economia é diferente, necessária ao país e saudável ao planeta. E mais: sabe mostrar que a ZFM produz um montante de recursos que são gerados aqui e usados em outras regiões, deixando o Amazonas literalmente a ver os navios da prosperidade zarpando a cada dia. A riqueza aqui gerada tem que ser aqui aplicada. “Com Samuel Benchimol foi criado o conceito de Sustentabilidade. Agora é a vez da Prosperidade” – Confira …
Entrevista com Alfredo Lopes
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BrasilAmazoniaAgora – Em suas entrevistas e debates você defende a manutenção da economia do Amazonas, baseada no programa Zona Franca de Manaus, porque aqui temos um diferencial de sustentabilidade, geramos riqueza e, assim, protegemos indiretamente a floresta. Isso precisaria ser levado em conta pela Reforma Fiscal. Você acredita, então, nesta economia que anda de braços com a ecologia?
Cláudio Barrela – Isso faz parte do DNA de quem aqui vive e gera riquezas. Se não protegermos a floresta ela vai se virar contra a gente. Esta é a Lei da Ação e da Reação, a terceira Lei de Isaac Newton, que ainda em vigor, não é?. Nosso maior pensador, o professor Samuel Benchimol, apresentou ao mundo, em 1992, na Conferência da ONU, no Rio de Janeiro, sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, o mais completo conceito de Sustentabilidade de que se tem notícia: “…politicamente correto, socialmente justo, economicamente viável e ambientalmente equilibrado”. No caso do Amazonas, nossa economia esbanja um comportamento mais do que Sustentável após 53 anos de vigência do Programa Zona Franca de Manaus, mais de 90% da cobertura vegetal original conservada. E se mais não avançamos é porque os fundos da indústria destinados à promoção do crescimento econômico e social nem sempre são aproveitados para este fim. Ora, se nós criamos o conceito de sustentabilidade, agora é a hora de implantar a prosperidade.
BAA – Segundo os indicadores contidos no Ranking Estadual de Competitividade, o Amazonas ocupa o 16º lugar no Brasil e o 1º na Amazônia, embora os índices de Sustentabilidade Social e Ambiental de Manaus e do interior padecem dos destaques que seriam esperados. Por que isso continua ocorrendo?
C.B. – Este é o nosso calcanhar de Aquiles. Não que isso faça parte da estrutura e funcionamento do Programa Zona Franca de Manaus e que utiliza 8% de contrapartida fiscal no bolo dos gastos fiscais do Brasil, por situar-se numa região remota. A despeito disso, geramos 500 mil empregos a partir de Manaus e espalhamos oportunidades, produtos de padrão mundial, por todo o país. O problema é a gestão dos fundos e contribuições para pesquisa, desenvolvimento econômico e social da região. São aproximadamente R$ 2 bilhões/ano, dos quais, menos de 20% são aplicados conforme determinam as leis que regem essa maçaroca de recursos.
BAA – O que é estranho é que pouca gente sabe disso? Por que não contar estes fatos para o contribuinte e pressionar o poder público para cumprir a Lei?
C.B – Assumimos nossas falhas, tanto na prestação de contas ao contribuinte, como na timidez da cobrança junto ao poder público. Veja porque: Estudos da Fundação Getúlio Vargas apontam que o Amazonas, apesar de seus IDHs de países subdesenvolvidos, é um dos cinco maiores contribuintes da Receita Federal. Isso está no site da Receita. Esses recursos não são constitucionais, mas essa aplicação equivocada é ilegal do ponto da Carta Magna. São recursos que deveriam ser aplicados na região para reduzir as inaceitáveis diferenças socioeconômicas entre o Norte e o Sul do Brasil. Infelizmente, mesmo com a fama de paraíso fiscal, um estigma injusto e oportunista da mídia do Sudeste, na verdade somos o paraíso do fisco!
BAA – Você dirige um dos mais importantes setores do Polo Industrial de Manaus, setor de plásticos. Como se aplica o conceito de sustentabilidade um setor industrial tão atacado pelos ambientalistas?
C.B. – O compromisso de gerar emprego é, a nosso ver, a melhor política de sustentabilidade ao nosso alcance. A indústria de plástico instalada em Manaus já ocupou 15 mil empregos diretos e hoje ocupa menos da metade destes postos de trabalho. Impossível competir com a cadeia asiática de suprimentos. Com a pandemia isso, porém, começou a mudar. Hoje temos uma indústria que se prepara para aderir ao plástico verde pois, depois de quatro décadas de insistência, conseguimos recursos de pesquisa para inserir princípios ativos abundantes na região para conferir melhor reciclagem e menor prazo de biodegradabilidade. Em nosso radar, estão experiências vitoriosas da Embrapa de dar ao plástico utilizações sustentáveis com as embalagens comestíveis. Eis uma razão adicional para que os recursos para pesquisa fiquem na região.
BAA – E o que precisa para atuar de acordo com a Lei num setor tão decisivo? Afinal, o desafio que nos aguarda é consolidar a economia do conhecimento. Você concorda?
C.B. – Quando a Covid-19 mostrou as dimensões de seus danos à vida e à economia, as entidades de classe da Indústria FIEAM, CIEAM, ELETROS e ABRACICLO se uniram para achar soluções urgentes e de médio prazo. Fizemos um trabalho de alcance social e humanitário sem precedentes na história de responsabilidade social da indústria no Brasil. E mais: montamos um grupo de trabalho com excelentes profissionais da economia e do planejamento para desenhar o futuro, novos formatos do programa ZFM: Desenvolvimento sustentável da Amazônia – diversificação produtiva e promoção da bioeconomia a partir da Zona Franca de Manaus. Este documento foi entregue ao Gal. Hamilton Mourão, dia 24 de agosto último, e está disponível no site do CIEAM. Para nós, é inconcebível pensar em desenvolvimento sustentável no Estado do Amazonas sem a manutenção de uma Zona Franca de Manaus fortalecida e de uma nova gestão das riquezas que aqui são gerados, um Fundo de Desenvolvimento com uma gestão transparente e participativa, que inclua agentes sociais, além do poder público. Só assim, com a riqueza aqui gerada e aplicada na região, investiremos na indústria do conhecimento, vamos mostrar que é preciso reduzir a burocracia e exigir que parte desses recursos se destinem a prover infraestrutura adequada para a região.
BAA – Por fim, suas considerações derradeiras, sobretudo aos jovens empreendedores que querem unir talento com desenvolvimento integral neste almoxarifado de biodiversidade ?
C. B. – É muito importante registrar que somos conhecedores de nossas demandas e capacidades. E temos plena consciência do que precisamos para alavancar o desenvolvimento regional e acabar com tantas desigualdades entre o Norte e o Sul do Brasil e com tantos jovens vagando pelas ruas do descaso. Na crise, fabricamos e doamos itens de EPIs e para os profissionais que estavam combatendo a Covid-19. Fomos à luta e coletamos mais de 200 toneladas de alimentos para os segmentos fragilizados pela fome. Agora queremos trabalhar sem tormentos, sem maledicência ou separatismo. Queremos porque sabemos nos unir e aonde queremos chegar, lançando as bases de uma nova civilização chamada Brasil.
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