“E qual planta industrial brasileira foi criada, exatamente, com essa atribuição de substituição de produtos importados? Sim, fomos nós, gestores e empreendedores do Polo Industrial de Manaus.”
Nelson Azevedo (*) [email protected]
A perda de um ente querido sempre representa um momento de reflexão e revisão de vida. Isso se confirma com a partida do meu amigo e irmão, muito querido, Sérgio Melo. Mais ainda neste momento penoso que atravessamos, isso se torna importante, por acreditarmos na vida além da morte. Importa, pois, compartilhar, tanto a reflexão, nascida desta dor profunda que sentimos todos aqueles que tivemos o privilégio de sua amizade, como uma revisão dos conteúdos deste relacionamento tão próximo e fecundo que nutrimos em mais de três décadas. Um relacionamento de compromisso com nossa economia e com nossa gente.
Abalos e oportunidades
Como será nosso trabalho cotidiano na trincheira de defesa da Zona Franca de Manaus sem a presença proveitosa, providencial e estimulante deste parceiro, tão importante para a compreensão, proteção e importância de nossa economia baseada em contrapartida fiscal? Refletir sobre essa ausência significa reconhecer que temos de supri-la de algum jeito, impossível em muitas qualidades desse amigo, mas necessário nas demandas que se impõem e com as quais ele se envolveria integralmente. Nada como um bom exemplo para nos motivar… Afinal, com esta pandemia, nossa economia já experimenta novos abalos no curto prazo e nos obriga a perguntar o que Sérgio gostaria que fizéssemos, além de lamentar sua partida? Este reconhecimento, com certeza, é a melhor maneira de homenagear sua memória, como também, a melhor das revisões dos fatos de nossa história cinqüentenária, para replanejar nosso Estado e nossa Amazônia, depois que acordarmos deste pesadelo da Covid-19.
Substituição de importações
A crise dos suprimentos, que começou a contaminar nossas cadeias produtivas, antes da disseminação do maldito vírus, mostrou a tragédia econômica que paralisou nossa produção e produtividade. Por questão de inteligência, não temos mais direito de deixar isso se repetir. “Há males que vêm para bem”, diziam os antigos. E entre as lições e benefícios indiretos dessa peste está a necessidade de mobilização dos atores públicos e privados para a retomada da indústria brasileira – como temos dito desde sempre – no combate às mazelas da dependência asiática. E qual planta industrial brasileira foi criada, exatamente, com essa atribuição de substituição de produtos importados? Sim, fomos nós, gestores e empreendedores do Polo Industrial de Manaus.
Expertise e eficiência
Para suprir emergencialmente essa dependência dos produtos médicos/hospitalares da pandemia, nossa indústria mostrou expertises, experiência e, sobretudo, eficiência para produzir, com tecnologia e inovação instalada, os equipamentos de proteção pessoal, os chamados EPIs, respiradores e ventiladores para os pacientes, produtos de higiene, como o álcool em gel a toque de caixa, entre outros. A necessidade nos torna solidários e expeditos enquanto os desafios despertam nossa determinação e criatividade. Este impulso não podemos perder, nem essa força pode se dispersar. Revisar a história e resgatar habilidades sempre foram pautas de tantas andanças e reuniões com Sérgio. Ele defendia com veemência a ZFM porque acreditava com veemência e conhecimento técnico e econométrico deste programa de desenvolvimento, seus avanços, bem como seus gargalos e paradoxos.
Fortalecimento do Pró-Amazônia
Sempre apontávamos os estragos da falta de infraestrutura na planilha de custos das empresas, a timidez das ações públicas e o imperativo de ampliação da competitividade para crescimento deste programa de acertos chamado ZFM. E aí debatíamos fórmulas de incluir a a mobilização, primeiramente, dos estados da Amazônia Ocidental, além do Amapá, para assegurar a diversificação, adensamento e regionalização dos benefícios de nossa economia. Uma de suas propostas sempre foi o fortalecimento do Pró-Amazônia, onde as entidades de classe do setor produtivo e da sociedade estão representadas. Com essas ponderações, podemos dizer que a guerra por nossos direitos apenas continua, muitas batalhas e oportunidades estão a surgir, querido irmão e amigo, Sérgio, você estará sempre com a gente…
(*) Nelson é economista, empresário e vice-presidente da FIEAM, Federação das Indústrias do Estado do Amazonas e presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânica e de Material Elétrico de Manaus
Comentários