O pecuarista e líder empresarial Muni Lourenço, presidente da Federação da Agricultura do Estado do Amazonas, é um entusiasta do mutirão institucional pelo fortalecimento do setor primário. “Ver as entidades de classe da indústria, comércio e serviços trabalhando em sintonia não tem preço. Quem sai ganhando com isso é a população, novas oportunidades e novos postos de trabalho”, diz. Confira a entrevista!
Follow Up – Há 20 anos, a Suframa contratou a FGV/ISAEL, Fundação Getúlio Vargas e Instituto Superior de Administração e Economia para produzir o Projeto das Potencialidades Regionais no setor primário, com ênfase na fruticultura e produção de proteína animal, especialmente de peixes. Por que quase a totalidade desses projetos está nos escaninhos da autarquia e continuamos a importar 80% de nosso cardápio alimentar?
Muni Lourenço – Este projeto foi pensado e encomendado para a recuperação das finalidades institucionais do Distrito Agropecuário da Suframa, deixado em segundo plano em seguidas administrações da Autarquia, acredito que por falta de recursos. É importante retomar este tema para não perdermos mais tempo em refazer o que já está feito. Ele é um excelente ponto de recomeço deste desafio de interiorização do desenvolvimento com apoio as iniciativas agrícolas e agroindustriais. Precisamos, agora, ter clareza dos gargalos que nos impediram de avançar.
FUP – Na sua opinião os tempos são outros e nos permitem identificar e equacionar os tais gargalos?
ML – Uma das questões cruciais é a cidadania fiscal e isso só se resolve com a regularização fundiária. O agricultor, hoje, esbarra na candidatura ao crédito porque não tem escritura da terra que ocupa. Fica refém da burocracia que lhe bloqueia financiamento ou lhe garantiria preços mínimos para seus produtos. Agora, enfim, a questão dos lotes do Distrito Agropecuário da Suframa DAS ganhou novo suporte jurídico. Trata-se da Resolução nº 71 do Conselho de Administração da Suframa, através da qual a Autarquia, com lotes de 100 a 2.500 hectares ao custo unitário de R$ 65, vai disponibilizar aos interessados a partir de processo de licitação. Esta é uma boa notícia. Os projetos já estão desenhados e os agricultores terão a chance de avançar.
FUP – São 600 mil hectares no DAS, com muita área para criar um Distrito Hortifruti de alto nível que abasteça Manaus com produtos de primeira qualidade. Como viabilizar isto?
ML – Neste desafio temos uma extraordinária vantagem competitiva que são os técnicos da Embrapa sempre a postos para prestar um serviço de alta tecnologia e produtividade. Sou usuário e testemunho de tantas soluções nos diversos segmentos, sempre dentro dos padrões de sustentabilidade e de excelência. Na pecuária, fizemos uma revolução no Amazonas com apoio do Sistema Integração Lavoura-Pecuária-Floresta. O Sistema consiste na exploração de atividades agrícolas e pecuárias, de forma integrada, em rotação ou sucessão, na mesma área e em épocas diferentes, aumentando a eficiência no uso dos recursos naturais, com menor impacto sobre o meio-ambiente,
FUP – E onde entra a participação do Estado, como fazer para agilizar essa mudança?
ML – Temos encontrado muito apoio na Suframa, nesta gestão Alfredo Menezes. Não apenas na regularização fundiária mas na interlocução com os agricultores e suas entidades. Vemos a participação do Estado como decisiva, no planejamento e na mobilização de seus técnicos nas agências técnicas e de movimentação com o mercado. A Afeam (Agência de Fomento) tem trabalhado com o IDA, ADS e Serpro com o Sebrae e Federação da Agricultura. O caminho é este, lembrando que é preciso compatibilizar os incentivos com a produção de ração para os diversos segmentos de produção de proteína animal.
FUP – Qual é sua mensagem para 2020, suas expectativas e sugestões de trabalho?
ML – Temos trabalhado mais próximos e constatado que esta lógica funciona. Neste final de ano, a reunião derradeira de 2019 do Conselho Superior do Cieam (Centro da Indústria do Estado Amazonas), contará com a presença dos representantes do Setor Primário, um gesto de confirmação da importância de trabalharmos juntos. Essa integração das entidades e instituições da classe produtora, associada ao segmento público, se consolida também no Comitê de Apoio ao Desenvolvimento do Agronegócio no Amazonas. Instalado na Federação das Indústrias do Estado do Amazonas, com apoio do Cieam, Faia e Fecomércio, Seplan, Suframa, Ida, Serpro, Ufam, UEA, Inpa, Embrapa e produtores rurais. “Ver as entidades de classe da Indústria, Comércio e Serviços trabalhando em sintonia com a Agricultura não tem preço. Quem sai ganhando com isso é a população, novas oportunidades de negócios e novos postos de trabalho”.
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