A ciência está de luto. O professor Warwick Kerr nos deixou, no último sábado, contagiados por sentimentos de perda e de agradecimentos por uma trajetória ímpar na história da pesquisa do Brasil. Com 96 anos de idade, o entomologista, engenheiro agrônomo e geneticista, aplaudido mundialmente por suas preciosas descobertas nesse desafio de decifrar o enigma amazônico, e disputado por instituições como Esalq/ USP, UNESP, incluindo academia Americana de Ciências, foi no Inpa que ele chegou mais perto do enigma. Descobridor de polinizadores, precursor de ensaios de alimento funcional na floresta, lançou as bases de uma bioeconomia inteligente e promissora na floresta.
Nos anos 70, logo após a implantação da ZFM, o governo do Amazonas tratou de atrair investidores para o setor primário, um gargalo do tripé comércio, indústria e agricultura. Essa era a origem de investimentos da Fazenda Aruanã, criada para produção de proteína bovina. Em Itacoatiara a praga muquirana envenenava o gado e na Fazenda Inês, no mesmo formato, o governo federal desapropriou para fazer uma usina hidrelétrica. Era, pois, preciso refazer o caminho, no qual o papel do Prof. Warwick Kerr, teve papel fundamental. Suas pesquisas com insetos ajudaram a equacionar o mistério de plantio extensivo de espécies de alto valor econômico. Ele se formara em Piracicaba, na lendária Esalq, Escola Superior de agricultura Luiz de Queiroz, onde foi professor de Sérgio Vergueiro e Gabriel Teixeira de Paula Neto, dois engenheiros agrônomos que conduziram o reflorestamento com milhões de árvores de Castanha, Copaíba, Pupunha.
A seu alvitre, a semeadura de maracujá e urucum expandiram a oferta de pólen ao plantio. A milionésima castanheira da Fazenda Aruanã, plantada pelo Prof.Warwick, lá está, desenvolvida, viçosa e frutificando, como todo o acervo precioso de suas pesquisas. Academia, economia e sustentabilidade, eis um dos levados deste referencial de compromisso, foco e resultados. Orientou que o projeto da Fazenda Aruanã mantivesse todas as APP’s e faixas de floresta nativas, separando os blocos de remoção para que nenhuma Castanheira plantada nessa área ficasse distante mais do que 1500 m de uma área de floresta nativa. Isso foi essencial para o alcance dos polinizadores que têm seu habitat na floresta. Agradeço ao meu curso de agronomia por ter tomado essa cautela ao projetar a Fazenda. Professor Kerr, Charles Clemens, Hans Muller, Vivaldo Campbell, Moyses Israel, entre outros alucinados pelo conhecimento e arautos do bioempreendimento, provaram que é possível domesticar a Castanha, a mais excelsa e preciosa espécie da floresta.
Foi isso que surpreendeu a Academia Americana de Ciências, em 1990, que reconheceu suas realizações distintas e contínuas em pesquisa inédita e de extrema relevância. “Um ser humano muito afável. Todos aqueles que conviviam com ele se sentiam acolhidos. Sempre foi muito espirituoso, com uma palavra interessante, uma palavra nova, uma palavra de incentivo, de encorajamento às pessoas. Ele tinha ideias muito claras sobre a importância do sistema federal de ensino superior, da universidade pública, da universidade democrática”, descreveu o Valder Steffen, reitor da Universidade Federal de Uberlândia, onde ainda desenvolvia pesquisas e compartilhava seu acervo extraordinário de saberes. Muito obrigado, dileto Professor Warwick Kerr.
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