Análises promovidas por José Alberto Costa Machado e Mauro Thury De Vieira Sá – recentemente atualizados para ilustrar estragos da crise – http://www.centrocelsofurtado.org.br/congresso2012/arquivos/file/15_Polo_Industrial_de_Manaus.pdf, para responder ao preconceito/desinformação de que a indústria instalada em Manaus se define como uma planta de montagem, revelaram que: “Os dados apurados a partir da PIA (Produção Industrial Anual), e o contraste com os do Brasil mostraram justamente o contrário: o senso comum de que o PIM pouco adiciona valor merece escrutínio mais criterioso, uma vez que a indústria de transformação do Amazonas, que praticamente se confunde com o PIM, tem adicionado mais valor por cada real produzido do que a indústria de transformação do Brasil como um todo”.
Na entrevista desta semana com o professor Mauro Thury, as lentes do otimismo apressado levaram o entrevistador a colocar, equivocadamente, o PIM na liderança nacional da indústria de transformação quando se trata de agregação de valor. E ainda: que o hiato entre o fator produtivo e o esforço em pesquisa e desenvolvimento precisa ser melhor investigado, assim como qualquer inferência entre contingenciamento de verbas de pesquisa e desempenho industrial sem confirmação empírica deve ser considerada especulativa, afirma Mauro Thury.
Desafios da ZFM + 50 anos
A participação amazônica na indústria de transformação ainda é pequena, entretanto, extraordinária e meritória se considerarmos que, do total de 519.624 estabelecimentos industriais do Brasil, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, 50% das unidades ficam no Sudeste, e apenas 0,64% ou 3 302 empresas, estão localizadas no Amazonas. Nesse contexto, lembra Mauro Thury em seu último trabalho, “Desindustrialização e Amazônia: Uma Aproximação com Foco no Polo Industrial de Manaus”, apresentado no III Congresso Internacional Celso Furtado, setembro/2016, ‘… pelo índice de densidade, o discurso de que sua produção pouco adiciona valor não corresponde ao que o indicador PIA) mostra’. Ele observa ainda, que o resultado de tal índice para o Amazonas se deve bastante à fabricação de bebidas, com a particularidade do Estado produzir concentrado de refrigerante. E conclui que a indústria de transformação brasileira perdeu densidade desde meados os anos 1990, enquanto a indústria de transformação amazonense tem padecido com a crise de 2015-2016. Isto impõe desafios para a Amazônia, o Amazonas e ZFM, na direção de ampliar participação no mercado, pinçar oportunidades para adensar seu tecido produtivo, com maior apropriação in loco daquilo que é gerado na Amazônia Legal, buscando interações entre a lógica do polo industrial e a produção primária amazônica, serviços com alta agregação ou apropriação de valor providos pela região.
Pesca e segurança alimentar
Entre as “apropriações de valor providos pela região” há que se destacar permanentemente uma das vocações de negócios mais gritantes, a pesca e a piscicultura. Apesar da recorrência temática o assunto padece de objetividade e sistematização em todos os níveis. Vítimas de indicadores pouco analisados e de políticas públicas truncadas, sequer temos informação confiável a respeito do monitoramento da pesca sazonal, insumo eficaz apenas ao proselitismo eleitoreiro. Alardeamos promover a aquicultura, na perspectiva de uma cadeia organizada, mas ainda somos incapazes de organizar a atividade pesqueira, racionalizar a safra, regular estoques e o aproveitamento integral das espécies, para alimentos e outras cadeias relacionadas.
O pesquisador do Inpa, Efrem Ferreira, destaca a necessidade de ordenar a pesca artesanal, pois dela dependem os segmentos mais desfavorecidos do extrato social. Ele recomenda investimentos em inovação tecnológica ajustados às espécies e condições climáticas e culturais regionais e uma rede de informações já consolidadas e acessíveis aos interessados. Como aproximar ou integrar os ativos regionais com a expertise de meio século do polo industrial de Manaus? Esta é uma cobrança que fazemos a nós mesmos e significaria investir em soluções de inovação tecnológica à luz das demandas cotidianas, tanto do mercado como da sobrevivência digna dos ribeirinhos. Por que não apoiar a produção de barcos pesqueiros com placas de energia solar na cobertura, capazes de produzir energia para conservação e beneficiamento do pescado. O protótipo já existe, com licença autorizada, e foi criado pelo Instituto de Energia e Ambiente, da USP, fabricado por uma empresa do Paraná, ora utilizado na Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, no Médio Solimões, onde a pesca artesanal do pirarucu tem manejo sustentável com adequados acertos socioeconômicos. Truta, salmão, tilápia, tambaqui… são espécies consagradas porque responderam até aqui ao conjunto dessas recomendações, lembrando sempre que o Nordeste padece da escassez de água, mas consolidou a criação de tilápias em cativeiro.
Variedade de espécies, dimensões imensas do espelho d’água na Amazônia, entre outras megalomanias não são isoladamente garantias nem saídas factíveis de uma vocação da Amazônia para produzir e exportar peixes, sobretudo enquanto perdurar a desarticulação entre pesquisa e mercado, entre intervenção política – aqui entendida como transformação da atividade produtiva em fabricação de sufrágios para o imediatismo do jogo eleitoral – e produção para valer. Estamos, pois, devendo transparência, emergência e didatismo na informação, para degustar o sabor e os benefícios dessa deliciosa economia. Os chineses desembarcam em massa na Amazônia porque já sabem disso, dependem disso e nenhum governo se sustenta sem poder comida a seu povo, isso se chama segurança alimentar, prioridade absoluta dos populosos países asiáticos.
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected]
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