No mural Interessante Ler, do conselheiro do CIEAM, Mauricio Loureiro, uma notícia sobre Informação e Democracia foi destacada, certamente, porque chamou a atenção nesse contexto de furdunço político que o país atravessa. “Especialista alemão em informação digital diz que o volume de dados que produzimos nos deixa cada vez mais expostos e previsíveis, e prevê um futuro inquietante”. Para Martin Hilbert – que é doutor em Comunicação, Economia e Ciências Sociais, professor da Universidade da Califórnia e assessor de tecnologia da Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos – o volume de informação que há no mundo causa espanto, isso tem abalado o conceito de privacidade, com reflexos preocupantes no regime democrático. Nos anos 70, em pleno Regime Militar, vale lembrar, quando o Brasil já cobrava dos generais o acordo de retomada da Democracia, o compositor Caetano Veloso ironizava o teor das informações, em “Caminhando contra o vento”, a multiplicidade e a utilidade política e ideológica dos conteúdos: “… o sol nas bancas de revista, me enche de alegria e preguiça, quem lê tanta notícia?”. Aqui, ali e acolá, o desafio é o mesmo que abala a condição humana desde que a palavra foi inventada – segundo os estudiosos há 8000 anos antes de Cristo. Desde então, a linguagem serviu para expressar notícias dos impulsos humanos, seus desejos, preocupações e necessidades, ou camuflar verdades que escondem o mundo real. E pensar que a busca pela verdade atordoa o ser humano bem antes da pergunta de Pilatos ao Nazareno. A informação, portanto, é denúncia, anúncio ou cortina de fumaça para quem tem controle ou poder sobre sua disseminação. A circulação frenética, instantânea e inesperada desequilibrou essa procura milenar de saber o que se esconde atrás de fascinante é ambígua aparência.
A pós-verdade e a delação acuada
Vivemos, hoje no Brasil, o mundo dá pós-verdade, que divide os fatos entre antes e depois da delação. O delator, na qualidade de corruptor supostamente arrependido, em nome da própria sobrevivência exprime aquilo que é a sua verdade, sob o restrito critério da sedução e do voluntarismo do inquisidor, com o fixo propósito de reduzir suas penas. Nos anos 80, o filósofo canadense Marshal McLuhan, em Os Meios de Comunicação como Extensão do Homem, levou muito porrete ao mostrar que o meio é um elemento importante da comunicação e não somente um canal de passagem ou um veículo de transmissão. Este foi o ponto que gerou maior controvérsia em sua obra, pois até então era comum se estudar o efeito do meio quanto ao conteúdo, sem que se atentasse para as diferenças evidenciadas por cada suporte midiático. Três décadas depois, a demagogia da classe política confirmou suas intuições. Num mundo onde políticos podem usar a tecnologia para mudar mentes, operadoras de telefonia celular podem prever nossa localização e algoritmos das redes sociais conseguem decifrar nossa personalidade melhor do que nossos parceiros mais íntimos, o meio é a mensagem e o mais eficaz meio de dominação. Aprumando a lente, fica eloquente o fato de que o fluxo de dados entre cidadãos e governantes pode nos levar a uma “ditadura da informação”, algo imaginado pelo escritor George Orwell no livro 1984, diz Martin Hilbert, o pensador alemão.
O dogma é a mudança
Nesta segunda-feira, a Volkswagen, uma empresa com solidez consagrada, e que viu sua reputação balançar por uma denúncia “viralizada” nas redes sociais, promoveu um seminário em São Paulo sobre redes sociais, conteúdos e alcance da informação. Este evento dedicou espaço especial ao YouTube, uma rede que transmite mais imagens, estáticas ou em movimento, em detrimento do texto. O consumidor se vende ou se compra pelo que se apresenta ao seu olhar – e não à razão, audição ou qualquer outro sentido que possa determinar. Isso tem implicação em todas a vida social, no processo das relações produtivas e comerciais, no maior ou menor poder de sedução. Venderá mais quem souber seduzir mais a beleza que aparece, pouco importa o conteúdo que possa credenciar sua qualidade ou valor. Alegria ou preguiça de decidir? Nem uma coisa nem outra… dizem os gurus da comunicação, para quem a única verdade que pode ser dogmatizada é o movimento, a certeza inabalável de que tudo muda. É hora, portanto, de parar para entender, antes de continuar, se não quiser se deixar dominar ou naufragar…
Esta Coluna é publicada às quartas, quintas e sextas-feiras, de responsabilidade do CIEAM. Editor responsável: Alfredo MR Lopes. [email protected] |
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