O que pode ser a pior seca no Amazonas em muitas décadas já começa problemas de abastecimento e isolando comunidades. Saiba mais sobre as causas, as medidas emergenciais e os impactos na região.
A estiagem no estado do Amazonas em 2024 está se configurando como uma das mais severas já registradas, com 20 das 62 cidades em situação de emergência. A Defesa Civil alertou para níveis dos rios abaixo do esperado em todas as calhas, com o Rio Negro em Manaus apresentando uma significativa queda de 54 centímetros somente em julho. Este cenário já afeta diretamente cerca de dez mil pessoas, isolando comunidades, encalhando embarcações e causando problemas de abastecimento de insumos essenciais.
Causas da seca
O desmatamento, queimadas e mudanças climáticas têm alterado drasticamente o regime hidrológico dos rios amazônicos, resultando em cheias e secas cada vez mais intensas e frequentes. Em 2023, o Rio Negro registrou o menor nível de água desde 1902, com 14,75 metros no porto de Manaus. Jochen Shöngart, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), em entrevista a Agência Brasil destacou que a amplitude das cheias e vazantes aumentou 1,6 metro, impactando especialmente as florestas alagadas e as populações ribeirinhas dependentes desses recursos.
Medidas de enfrentamento
Em resposta à crise, o governo estadual, liderado por Wilson Lima, criou um Comitê de Enfrentamento à Estiagem, envolvendo 33 secretarias e órgãos do governo, além de um Comitê Técnico-Científico com dez especialistas para assessorar a gestão pública. As medidas incluem a garantia de abastecimento de água potável, insumos e medicamentos, proteção da produção rural, adequação da logística da rede estadual de ensino e a entrega de ajudas humanitárias.
Impactos econômicos e sociais
A seca extrema de 2023 causou a morte de 209 botos no Lago Tefé e Coaraci devido à hipertemia, com temperaturas da água atingindo 39,1°C. As altas temperaturas e a seca intensa têm afetado a sobrevivência de várias espécies aquáticas, e pesquisas do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá mostraram que 23% das áreas de várzeas no baixo Amazonas tiveram a duração do período de inundação aumentada em mais de 50 dias por ano.
A seca também traz impactos econômicos significativos. A escassez de água afeta a agricultura e a pesca, que são vitais para a subsistência das comunidades locais. Estudos indicam que a redução da cobertura florestal, devido ao desmatamento e às queimadas, diminui a evapotranspiração e, consequentemente, a precipitação na região, exacerbando o problema da seca.
Perspectivas pouco animadoras para o futro
Pesquisadores estão preocupados com novas secas severas devido ao regime hidrológico inferior ao esperado. Monitoramentos do Serviço Geológico do Brasil indicam chuvas abaixo do esperado em grande parte da Bacia do Rio Amazonas. Fleischmann, do Instituto Mamirauá, em entrevista a Agência Brasil, enfatizou a necessidade urgente de programas de acesso à água na Amazônia, destacando o paradoxo de estar na maior bacia hidrográfica do mundo enquanto muitos ainda sofrem com a falta de água potável.
A situação no Amazonas é um alerta para a necessidade de políticas públicas eficazes e sustentáveis que visem a conservação ambiental e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. A implementação de medidas preventivas e a criação de infraestruturas de abastecimento de água são essenciais para evitar futuras crises hídricas e garantir a sobrevivência das populações e da biodiversidade na região.
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