Liderada pela Embrapa, iniciativa de restauração da vegetação no Cerrado promove práticas de conservação do solo e proteção das nascentes, beneficiando agricultores e preservando os recursos naturais
A restauração ecológica no Cerrado tem trazido benefícios imediatos para agricultores e para o meio ambiente. Com o apoio da Embrapa Cerrados, o Projeto Produtor de Água no Descoberto mostrou que conservar a vegetação nativa e manejar o solo adequadamente não são apenas boas práticas ambientais, mas também econômicas.
O Projeto Produtor de Água, iniciado em 2012 na bacia do Pipiripau e agora expandido para o Descoberto, é uma parceria entre diversas instituições, incluindo a Embrapa, a Emater-DF e a Caesb. O objetivo é promover práticas sustentáveis que garantam a preservação dos recursos hídricos no Cerrado, um dos biomas mais ameaçados do Brasil.
Agricultores da região, como Vicente Ferreira, do Núcleo Rural Capão da Onça (Brazlândia – DF), e sua esposa Florinei Cardoso, já colhem os frutos dessa iniciativa, tanto no campo quanto na qualidade de vida. O casal foi um dos primeiros a aderir o projeto de restauração da vegetação, iniciado no início deste ano.
Vicente contou ao portal Ciclovivo que antes, as chuvas corroíam o solo e assoreavam os rios. Agora, com as práticas que adotaram, foi possível enxergar um solo mais saudável e produtivo, e a água chega limpa ao córrego que passa por sua propriedade.
Desafios e soluções
Para a pesquisadora da Embrapa Cerrados e líder do projeto, Fabiana Aquino, plantar mudas não equivale à restauração completa de um ecossistema, sendo apenas o ponto de partida para estimular a recuperação natural. Em alguns casos, o processo de restauração acontece de forma eficaz, mas em outros, pode não se concretizar. Por isso, Aquino destaca que o monitoramento contínuo é essencial para garantir resultados.
Esse é justamente o caso da propriedade de Vicente e Florinei, localizada na bacia do Descoberto. A área de 18 hectares apresenta desafios típicos da região: parte da vegetação nativa foi invadida por espécies exóticas, que dificultam o desenvolvimento de plantas nativas. O cercamento da área e o plantio de mudas de espécies arbóreas locais foram algumas das soluções recomendadas pela Embrapa para reverter o quadro.
A presença de plantas invasoras, como aponta a pesquisadora, é um dos maiores obstáculos para a restauração ecológica. Na explicação da especialista, essas espécies limitam a germinação das plantas nativas e comprometem todo o processo de recuperação do solo e dos cursos d’água. Dessa forma, para enfrentar esse problema, um mapeamento das áreas invadidas está sendo realizado pela equipe do projeto, com o objetivo de propor soluções específicas para cada propriedade envolvida.
Com isso, a pesquisadora Marina Vilela, que também faz parte da equipe do projeto, avalia que o enfoque individualizado é uma das marcas do projeto, uma vez que cada propriedade tem suas próprias características e desafios. Ela acrescenta que o papel dos profissionais é analisar cada caso e propor soluções que atendam às necessidades específicas de cada agricultor.
Benefícios econômicos e ambientais
O Projeto Produtor de Água no Descoberto não beneficia apenas o meio ambiente. Os agricultores envolvidos também são recompensados financeiramente por suas práticas conservacionistas. Por meio do conceito de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), parte dos recursos arrecadados pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) é destinada aos produtores que seguem as recomendações do projeto. Isso se reflete tanto no pagamento anual quanto nos benefícios indiretos, como instalação de cercas, manutenção de estradas e apoio técnico para o manejo do solo.
Vicente reconhece que o aspecto financeiro foi um dos fatores que o atraiu para o projeto, mas destaca que o maior valor está no apoio técnico recebido. o agricultor pontua que sem esse suporte, seria muito mais difícil implementar essas práticas e obter os resultados alcançados atualmente. Além do dinheiro, Vicente ressalta que o conhecimento adquirido também é fundamental para o sucesso da produção.
A união entre solo e água
A conservação do solo e da água está no centro do Projeto Produtor de Água. Conforme explica Fabiana, o solo e água são inseparáveis, uma vez que o manejo adequado do solo, com técnicas conservacionistas, aumenta a infiltração da água e evita a erosão. Isso garante não só a preservação das nascentes, mas também melhora a disponibilidade de água para a agricultura.
Além disso, visão é compartilhada por outros agricultores da região, que já observam os benefícios das práticas conservacionistas para suas propriedades e para a comunidade em geral. Com a união de esforços entre produtores, pesquisadores e instituições, o Cerrado ganha novas perspectivas para enfrentar os desafios do futuro. Ao mesmo tempo, os agricultores têm a oportunidade de aumentar sua produtividade de forma sustentável, preservando o que é mais essencial para a vida no campo: a água.
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