Mesmo que a remoção do CO2 funcione, ela não pode fazer nada para mitigar outros aspectos da mudança climática
A possibilidade do planeta ultrapassar níveis perigosos de aquecimento global tem sido um tema de discussão por décadas, com a remoção de dióxido de carbono em larga escala (CDR) identificada desde o início como protagonista dessa reversão de temperatura. Entretanto, uma pesquisa publicada na revista Nature nesta quarta-feira (08) evidencia que mesmo que esse método funcione, a CDR não pode fazer nada para mitigar outros impactos da mudança climática, como o aumento do nível do mar ou as mudanças na circulação oceânica.
Desde a adoção do Acordo de Paris em 2015, o aumento limite da temperatura global ganhou mais destaque. O objetivo de temperatura do tratado estabelece 1,5 °C de aquecimento global como o limite máximo de longo prazo. Não há indicativo de que a temperatura deva se estabilizar, mas o texto estabelece limites abaixo dos quais as temperaturas devem manter-se, atingir seu pico e, em seguida, declinar.
O papel – e as limitações – da remoção de dióxido de carbono
Alcançar níveis de emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) iguais a zero, como implica o Artigo 4.1 do Acordo, pode levar à diminuição das temperaturas. Segundo o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), a remoção de dióxido de carbono poderia ajudar a desacelerar o aquecimento ao reduzir o gás de efeito estufa já acumulado na atmosfera e até mesmo as temperaturas, especialmente se o limite de 1,5°C for ultrapassado. Isso englobaria uma série de tecnologias e práticas, como reflorestamento, mineralização de CO₂, tecnologia de captura direta de ar, dentre outras.
Entretanto, segundo Joeri Rogelj, do Imperial College de Londres, coautor do artigo na Nature, há limites para a quantidade de novas florestas que podem ser plantadas e para a quantidade de CO2 que pode ser permanentemente sequestrada. “Se estivermos começando a usar a terra exclusivamente para o gerenciamento de carbono, isso pode entrar em conflito com outras funções importantes da terra, como a biodiversidade ou a produção de alimentos”, pontuou o pesquisador em uma entrevista coletiva.
Além disso, para uma série de impactos climáticos, não há expectativa de reversibilidade imediata após a ultrapassagem do limite máximo de aumento de temperatura. Isso inclui mudanças no fundo do oceano, biogeoquímica marinha e abundância de espécies, biomas terrestres, estoques de carbono e rendimentos de culturas, dentre outros.
Outro ponto a ser considerado é que a capacidade de CDR existente no planeta retira cerca de 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono da atmosfera todos os anos, mas, segundo um relatório de pesquisa divulgado em junho deste ano, esse número precisaria aumentar para cerca de 7 a 9 bilhões de toneladas para atingir as metas climáticas do mundo. Reverter uma ultrapassagem de 0,1°C no limite máximo de aumento da temperatura global, por exemplo, exigiria a remoção de cerca de 220 bilhões de toneladas de CO2, e uma ultrapassagem de 0,5º C exigiria a remoção de mais de um trilhão de toneladas, segundo Rogelj.
“Somente por meio de reduções ambiciosas de emissões no curto prazo poderemos reduzir efetivamente os riscos das mudanças climáticas”, afirma o pesquisador.
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