Em meio aos crescentes desafios globais de sustentabilidade, a macaúba, uma palmeira nativa do Brasil, emerge como uma solução promissora para a descarbonização da aviação e a agricultura. Pesquisadores, empresas e organizações ambientais estão otimistas quanto ao potencial dessa planta que pode produzir óleo vegetal e combustível sustentável para aviação, ao mesmo tempo em que recupera terras degradadas e contribui para a proteção da floresta amazônica.
A macaúba (Acrocomia aculeata) se destaca por sua alta produtividade, capaz de produzir cerca de 4 mil quilos de óleo por hectare sem melhoramento genético, um rendimento significativamente superior ao da soja, que gira em torno de 500 quilos por hectare. Esse fato foi reforçado por um estudo encomendado pela WWF Brasil, que apontou a macaúba como capaz de atender à crescente demanda por biodiesel de maneira sustentável, sem exigir alterações no uso da terra.
Comparada ao dendê, outra cultura amplamente utilizada para produção de biocombustíveis, a macaúba apresenta vantagens notáveis. Sua similaridade em produtividade é complementada pela adaptabilidade aos diversos climas e solos brasileiros, incluindo a possibilidade de ser cultivada em pastagens degradadas, o que a torna uma opção mais viável e ambientalmente responsável.
Além de seu papel na produção de combustíveis e óleos, a macaúba oferece subprodutos valiosos como proteínas vegetais, ração animal e produtos cosméticos, além da geração de créditos de carbono, ampliando ainda mais seu valor econômico e ambiental.
Com um investimento anunciado de R$ 10 bilhões pela Acelen Renováveis durante a COP28, e iniciativas por startups como S.Oleum e Inocas para o cultivo em larga escala no Cerrado, a macaúba está no centro de uma transformação verde que beneficia não apenas o Brasil, mas o planeta. Este movimento sinaliza uma mudança significativa em direção a práticas mais sustentáveis, colocando a macaúba como um símbolo de inovação e esperança para o futuro da sustentabilidade global.
Macaúba: resgate histórico e renovação sustentável na agricultura brasileira
A macaúba, uma palmeira nativa do Brasil, ressurge como protagonista em um cenário de produção sustentável, após décadas de esquecimento frente ao avanço de culturas como a soja e o dendê. Sérgio Motoike, engenheiro agrônomo e coordenador da Rede Macaúba de Pesquisas (Remape) na Universidade Federal de Viçosa, destaca que o potencial da macaúba é reconhecido no Brasil desde a década de 1930. Inicialmente, o óleo extraído de seus frutos serviu como substituto da banha, com aplicações variadas desde a fabricação de sabão até a exportação.
Contudo, na década de 1970, a soja desembarcou no cenário agrícola brasileiro, dominando o mercado de óleos vegetais devido à sua produção mais eficiente e ao óleo de superior qualidade. A substituição, entretanto, veio com um custo ambiental significativo: a expansão da soja no Cerrado levou à perda de 27,9 milhões de hectares de vegetação nativa entre 1985 e 2021, fazendo dela um dos principais vetores de desmatamento no bioma, conforme dados do MapBiomas.
De maneira paralela, o dendê, importado para o Brasil, também enfrenta críticas por seu impacto ambiental negativo, especialmente na Indonésia, onde contribuiu para uma considerável perda florestal. No Brasil, apesar de ser promovido como uma alternativa para recuperar pastagens degradadas, tem induzido a expansão pecuária para áreas de floresta, além de ser associado a conflitos em territórios indígenas e de comunidades tradicionais.
Diante dos problemas socioambientais gerados pela soja e pelo dendê, a macaúba ganhou novamente atenção como uma alternativa viável e ecológica. No entanto, desafios relacionados à germinação das sementes limitavam seu cultivo em larga escala. Após intensa pesquisa, Motoike e sua equipe desenvolveram em 2007 uma técnica que viabiliza a produção massiva de macaúba, marcando o início de uma nova era para o cultivo dessa palmeira.
Hoje, com um robusto banco de germoplasma e avanços nas técnicas de cultivo, a macaúba se posiciona como um elemento chave na transição para práticas agrícolas mais sustentáveis no Brasil. Empresas e investidores nacionais e internacionais demonstram crescente interesse nessa cultura, não apenas pelo seu potencial de produção de óleo vegetal e biocombustível, mas também pela sua capacidade de contribuir para a recuperação de áreas degradadas e para a conservação ambiental. Este movimento reafirma o papel da macaúba como uma valiosa aliada na busca por soluções sustentáveis para os desafios ambientais contemporâneos.
Revolução verde no Cerrado e aviação Sustentável
A macaúba, uma palmeira nativa do Brasil, está no centro das atenções como solução promissora para desafios ambientais e econômicos, superando culturas como o dendê em eficiência e versatilidade. Segundo Sérgio Motoike, especialista e pesquisador na área, a macaúba destaca-se pela menor exigência hídrica, possibilitando sua produção em áreas onde o dendê não prospera. Esta característica, aliada à sua capacidade de recuperação de pastagens degradadas, coloca a macaúba como uma alternativa viável ao dendê, até então insubstituível no mercado de óleo.
Empreendimentos como a S.Oleum, uma startup com planos de cultivar 180 mil hectares de macaúba no Cerrado até 2029, vislumbram não só a produção de biocombustíveis, mas também de uma gama diversificada de subprodutos, incluindo alimentos, cosméticos, proteínas, amido e celulose. Essa abordagem multiuso contrasta com as limitações da soja e do dendê, que se concentram na produção de óleo e farelo, destacando o potencial da macaúba em gerar um leque mais amplo de produtos.
Do outro lado do espectro de investimentos, a Acelen Renováveis, com apoio financeiro dos Emirados Árabes, anunciou um investimento de R$ 12 bilhões no programa Seed to Fuel, destinado a produzir combustível sustentável para aviação (SAF) a partir da macaúba. O projeto visa a produção de 1 bilhão de litros de SAF, contribuindo para uma redução significativa das emissões de CO2 no setor aeronáutico. Este esforço é particularmente relevante diante do contexto global, onde a produção de combustíveis sustentáveis ainda representa uma fração mínima do consumo total da aviação, setor sob crescente pressão para adotar práticas mais sustentáveis.
Apesar do potencial promissor e dos projetos ambiciosos em andamento, a macaúba apresenta desafios, como o período de cinco anos necessário para começar a produzir frutos e a limitação de testes em larga escala. Estas questões sublinham a importância de um planejamento cuidadoso e investimento em pesquisa para garantir o sucesso da expansão desta cultura.
A macaúba emerge, portanto, como um símbolo de inovação e esperança, representando uma oportunidade única para o Brasil liderar a transição para uma economia mais verde e sustentável, tanto no âmbito agrícola quanto na redução do impacto ambiental da aviação global.
*Com informações UM SÓ PLANETA
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