Em busca de soluções mais sustentáveis, o setor de transportes, um dos principais emissores de gases de efeito estufa, vem investindo em alternativas ambientalmente responsáveis. Uma dessas iniciativas é a parceria entre a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Volkswagen do Brasil, focada no desenvolvimento de novos compósitos com fibras vegetais para o acabamento interno de automóveis.
Há três décadas, o curauá tem sido cogitado para substituir o vidro no Polo de Duas Rodas. Chegou a hora de antecipar essa utopia. Temos demanda, recursos e responsabilidade, além do CBA, pago pela indústria.
Este projeto, liderado pelo engenheiro-agrônomo Alcides Lopes Leão e pela química Ivana Cesarino, coordenadores do Laboratório de Bioprocessos e Biotecnologia da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, em Botucatu (SP), tem duração de 18 meses. O objetivo é substituir plásticos de origem fóssil por materiais compostos com fibras vegetais, visando reduzir o peso dos veículos e, consequentemente, o consumo de combustível.
O Brasil, reconhecido como um centro de pesquisa e desenvolvimento nesse campo, tem um papel crucial neste projeto. A Volkswagen busca peças automotivas mais sustentáveis e leves, potencializando a eficiência energética dos veículos. No entanto, desafios como a baixa resistência das fibras naturais à umidade e a suscetibilidade a fungos ainda precisam ser superados.
Leão, que pesquisa o uso de fibras vegetais em materiais compostos desde a década de 1990, retoma sua colaboração com a Volkswagen após um projeto inicial financiado pela FAPESP em 2000. Este projeto atual testa quatro tipos de fibras – coco, juta, sisal e bambu – para determinar a mais adequada para incorporação ao plástico.
Componente automotivo fabricado com biocompostoLéo Ramos Chaves / Revista Pesquisa FAPESP
Inicialmente, as fibras serão integradas em escala macrométrica em seis peças do porta-malas do modelo Polo da Volkswagen. Posteriormente, a intenção é evoluir para a escala nanométrica, onde a incorporação de nanocelulose pode dobrar a resistência do composto.
Esta parceria entre a Unesp e a Volkswagen representa um avanço significativo na busca por tecnologias automotivas mais sustentáveis e eficientes, alinhando a inovação da indústria automotiva com a responsabilidade ambiental.
A Volkswagen, em parceria com a Unesp, planeja começar com aproximadamente 8 quilos de fibra por veículo, um volume que pode ser significativo considerando a produção anual da montadora
Corpo de prova elaborado com bambuLéo Ramos Chaves / Revista Pesquisa FAPESP
Em um desenvolvimento paralelo, equipes das universidades federais da Paraíba (UFPB) e de Campina Grande (UFCG), juntamente com o Instituto Fraunhofer para Tecnologia de Manufatura e Materiais Avançados, sediado em Bremen, Alemanha, estão trabalhando em um projeto similar. Financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq) e pelo Ministério da Educação e Pesquisa da Alemanha, o projeto foca no desenvolvimento de materiais de alta performance para a indústria automotiva, utilizando matérias-primas regionais. A coordenação no Brasil está a cargo da engenheira de materiais Renate Wellen, do Departamento de Engenharia de Materiais da UFPB.
Nesses materiais compostos, o polímero serve como a matriz, fornecendo a estrutura, enquanto a fibra atua como elemento de reforço. O uso exclusivo de fibras não proporcionaria a resistência necessária para a confecção de peças automotivas. A incorporação de fibras naturais em compósitos representa um avanço significativo em termos de sustentabilidade, reduzindo a dependência de plásticos derivados de petróleo e diminuindo o peso dos veículos, o que resulta em maior eficiência energética.
Esses esforços refletem a crescente tendência da indústria automotiva em adotar práticas mais sustentáveis e inovadoras, aliando avanços tecnológicos com responsabilidade ambiental
*Com informações REVISTA FAPESP
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