As mudanças climáticas são uma realidade que já está impactando a vida de milhões de brasileiros, especialmente aqueles que dependem da agricultura para sua subsistência. Nas eleições 2024, escolher candidatos que reconheçam a gravidade da crise climática e apresentem propostas concretas para enfrentá-la é essencial para garantir um futuro seguro e sustentável para o país
O Brasil está enfrentando uma das maiores crises climáticas de sua história, e seus efeitos estão se manifestando de forma dramática na produção agrícola. Ondas de calor, secas prolongadas e chuvas extremas têm reduzido drasticamente a produtividade das lavouras, provocando o aumento dos preços de alimentos essenciais para os brasileiros. A segurança alimentar do país está ameaçada, e especialistas alertam que o resultado das próximas eleições será crucial para definir o futuro das políticas públicas voltadas ao meio ambiente e à agricultura sustentável.
As estatísticas são alarmantes. Relatórios da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que a produção de grãos da safra 2023/2024 sofreu uma retração de 6% devido às ondas de calor que atingiram o país na primavera de 2023. Além disso, dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram um aumento de 25% nos dias sem chuvas consecutivos nos últimos 60 anos, o que agrava a vulnerabilidade da vegetação e facilita a propagação de incêndios florestais.
Os impactos econômicos também são significativos. Entre 2015 e 2021, os incêndios florestais no Brasil resultaram em um prejuízo de R$ 1,1 bilhão. Somente em agosto de 2024, as queimadas no estado de São Paulo alcançaram esse mesmo valor, segundo a Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais, representando um aumento de 33 vezes em relação às perdas do ano anterior, de acordo com a Confederação Nacional dos Municípios (CNM).
Para o agronegócio, que inclui grandes propriedades voltadas para a produção de commodities, os prejuízos são ainda maiores. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima perdas de R$ 14,7 bilhões entre junho e agosto de 2024, afetando 2,8 milhões de hectares de terras cultiváveis. No entanto, os pequenos produtores, que formam a base da agricultura familiar responsável por 70% dos alimentos consumidos no Brasil, são os mais vulneráveis.
A seca é um dos fatores que mais prejudicam os agricultores familiares. Antônio Veríssimo, de 58 anos, agricultor da terra indígena Apinajé, no Tocantins, relata que as chuvas, que antigamente começavam em setembro, têm se atrasado cada vez mais. “Este ano, só começou a chover em janeiro, e perdi toda a minha colheita de feijão, milho, batata, abóbora e melancia”, disse. O caso de Veríssimo é um exemplo claro do impacto das mudanças climáticas no Cerrado, uma das regiões mais afetadas pela alteração no regime de chuvas.
Entre as principais culturas afetadas estão o arroz, feijão, café, laranja, melancia, açúcar e hortaliças. No Rio Grande do Sul, as fortes chuvas que atingiram o estado em setembro de 2024 interromperam a semeadura de arroz, e essa situação se repete em outras regiões produtoras. Para frutas como laranja e commodities essenciais como o café e o açúcar, o efeito das secas e incêndios tem resultado em colheitas menores e preços mais altos. O café, por exemplo, já vinha enfrentando dificuldades desde uma geada atípica em 2021 e, com a estiagem de 2023, seu preço continua em alta, sem expectativa de estabilização antes de 2027.
Eleições 2024: o impacto das políticas ambientais na agricultura
Diante desse cenário, o papel das políticas públicas e das escolhas eleitorais torna-se ainda mais relevante. As eleições de 2024 serão um momento decisivo para definir a direção das políticas ambientais no Brasil, e a relação entre as decisões políticas e o clima é inegável. Políticos comprometidos com a sustentabilidade podem implementar ações que mitiguem os efeitos das mudanças climáticas, promovendo a recuperação de áreas degradadas, o reflorestamento, a proteção de nascentes e o incentivo à agricultura de baixo carbono.
Por outro lado, a ausência de políticas climáticas eficientes pode agravar ainda mais a situação. O solo, por exemplo, é um recurso fundamental para a produção de alimentos e, quando degradado por secas e incêndios, necessita de tempo e investimentos significativos para recuperar sua fertilidade. Sem políticas voltadas para a proteção dos recursos naturais e a adaptação ao clima, o Brasil corre o risco de enfrentar crises alimentares cada vez mais frequentes e severas.
Especialistas apontam que, nas eleições de 2024, é crucial escolher candidatos que tenham um compromisso claro com a causa ambiental. Muitos prefeitos e vereadores podem influenciar diretamente as políticas de uso da terra, reflorestamento e combate às queimadas em nível local. Em grandes capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Manaus, as políticas ambientais têm se mostrado insuficientes, e a tendência é que, sem uma mudança de postura, os problemas climáticos continuem a impactar a população.
A urgência de uma agenda ambiental nas eleições
Eleger políticos comprometidos com o meio ambiente é uma das formas mais eficazes de enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas. As ações que eles implementam hoje terão efeitos por décadas. A adoção de práticas sustentáveis, como o manejo de queimadas controladas, a promoção da agroecologia e a educação ambiental, são fundamentais para aumentar a resiliência climática e proteger a segurança alimentar.
Além disso, a questão da infraestrutura agrícola também depende de uma agenda pública eficiente. Investir em tecnologias para irrigação, por exemplo, é essencial para garantir que culturas como alface, cenoura e tomate possam resistir a longos períodos de seca. Da mesma forma, é necessário que o governo apoie financeiramente os agricultores que sofrem com as condições climáticas adversas, como acontece em países desenvolvidos.
No entanto, o comprometimento com o meio ambiente ainda é escasso em muitas campanhas eleitorais. Cidades como São Paulo, Recife e Manaus têm dado pouca atenção a questões climáticas em seus planos de governo. Sem líderes que priorizem a sustentabilidade, o Brasil estará cada vez mais exposto a desastres naturais e crises alimentares.
As mudanças climáticas são uma realidade que já está impactando a vida de milhões de brasileiros, especialmente aqueles que dependem da agricultura para sua subsistência. Nas eleições de 2024, escolher candidatos que reconheçam a gravidade da crise climática e apresentem propostas concretas para enfrentá-la é essencial para garantir um futuro seguro e sustentável para o país. O eleitor deve estar ciente de que, sem clima, não há comida – e sem políticas públicas eficazes, a segurança alimentar do Brasil continuará em risco.
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