“Esses cenários inovadores já estão nos debates das Comissões do CIEAM e na rotina inovadora com abordagem sistêmica e sustentável – do Polo Industrial de Manaus como um modelo de desenvolvimento econômico que se quer verde, capaz de prosperar sem comprometer os recursos naturais da região.”
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
A Amazônia, com sua vasta e intrincada rede de rios, sempre representou um desafio logístico para a indústria e o comércio regional. Com uma dependência total de balsas e navios, as vazantes extremas dos rios trazem enormes prejuízos. Em 2023, uma severa vazante expôs essa fragilidade logística, gerando perdas de até R$1,4 bilhão. No entanto, em meio à crise, emergiu uma parceria inovadora entre o Porto Chibatão, liderado por Jhony Fidellis, e o Centro da Indústria do Estado do Amazonas (CIEAM), representado por Augusto Rocha, professor da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e líder da Comissão de Logística.
Vazante e seus impactos
A estiagem de 2023 revelou um cenário de incertezas nas operações portuárias. Durante 59 dias, a navegação foi interrompida, isolando Manaus do restante do país e causando escassez de pro dutos, interrupções na produção industrial e uma alta significativa nos preços de mercadorias. Esse panorama alarmante mostrou a urgência de buscar soluções que garantissem a continuidade do fluxo de mercadorias, mesmo em condições adversas. E este ano elas foram criadas.
Os prejuízos para a indústria, somados às dificuldades enfrentadas pelo comércio, ameaçavam o desenvolvimento econômico e impactavam diretamente a população, que viu o custo de vida disparar com a falta de produtos essenciais. Tornou-se imperativo encontrar uma solução inovadora.
Resposta caseira e pioneira
Foi nesse contexto que o Porto Chibatão, liderado por Jhony Fidellis, em parceria com o CIEAM e liderança como Augusto Rocha, professor da UFAM, demonstrou um espírito de inovação e resiliência. Até então, desde o início do ano, as reuniões com o poder público esbarravam em embaraços de toda ordem. Unindo esforços com a indústria local e entidades públicas e privadas, essas lideranças buscaram mitigar os efeitos da vazante e garantir a manutenção das operações logísticas.
A solução emergencial envolveu o deslocamento de parte do porto flutuante do Chibatão em Manaus para Itacoatiara, distante 250 km em linha reta, permitindo que, mesmo durante a seca, os navios continuassem suas operações de desembarque e embarque de mercadorias. Ao “levar o porto até o navio”, a indústria conseguiu manter seu fluxo de produção, evitando um colapso econômico ainda maior.
Porto Chibatão e CIEAM somam talentos
A parceria entre o Porto Chibatão e o CIEAM foi essencial para o sucesso dessa operação. A expertise logística do Chibatão, com sua infraestrutura flutuante e rápida adaptação às condições do rio, garantiu a continuidade das operações de carga. Por outro lado, o CIEAM atuou como um elo entre a indústria e as soluções logísticas, buscando minimizar os prejuízos e garantir a estabilidade econômica da região.
Essa colaboração é um exemplo de como o setor privado, em parceria com entidades representativas, pode liderar em tempos de crise. CIEAM não só garantiu que as demandas da indústria fossem atendidas, mas também trabalhou ativamente para alinhar as necessidades do setor produtivo com as soluções logísticas disponíveis.
Superando prejuízos e retomando a produção
Graças a essa parceria, o tempo de inatividade dos navios foi reduzido para apenas 3 a 5 dias, uma melhora significativa em relação ao ano anterior, quando os atrasos ultrapassaram 59 dias. A agilidade operacional permitiu que a economia do Amazonas evitasse uma repetição do prejuízo bilionário de 2023, e aliviou o impacto financeiro sobre a população.
Além dos benefícios imediatos, essa colaboração revelou o potencial do Amazonas de se adaptar e superar desafios com criatividade e eficiência, transformando problemas em oportunidades de inovação.
O papel da Academia
A participação de Augusto Rocha, professor da UFAM, foi vital não só por sua liderança no CIEAM, mas também por trazer uma abordagem estratégica fundamentada em dados e conhecimento técnico. Sua visão foi crucial para equilibrar soluções de curto prazo com a necessidade de uma logística portuária mais robusta e sustentável no longo prazo. A contribuição da academia mostrou-se indispensável, oferecendo uma perspectiva crítica para os problemas enfrentados pelo setor produtivo.
Um exemplo para o futuro
A parceria entre o Porto Chibatão e o CIEAM é um exemplo de como a colaboração entre o setor privado e as entidades industriais pode ser decisiva em momentos de crise. Em vez de esperar por soluções governamentais, essas lideranças agiram rapidamente, mostrando que a inovação pode surgir da própria região amazônica. Essa iniciativa evitou prejuízos maiores para a economia local e abriu novas possibilidades para o futuro da logística na Amazônia. A capacidade de adaptação às condições adversas será um diferencial competitivo que poderá ser replicado em outros contextos, garantindo o sucesso da indústria amazonense, mesmo diante de desafios ambientais e logísticos.
Sustentabilidade é caminho sem volta
Com base nas descobertas dessa parceria, podemos vislumbrar uma série de iniciativas inovadoras para o Polo Industrial de Manaus (PIM), que apoiarão o desenvolvimento econômico e também vão contribuir para a preservação da floresta e a melhoria das condições sociais da região. Eis alguns caminhos já escolhidos e em andamento.
Infraestrutura Verde
A adoção de tecnologias como coberturas vegetadas, paredes verdes e sistemas de reuso de água pode mitigar os impactos da urbanização e promover a conservação de recursos naturais.
Corredores Logísticos Sustentáveis
Criar corredores logísticos que priorizem o transporte por cabotagem e hidrovias, com redução de emissões de carbono, seria uma solução ideal. Barcos movidos a energia solar ou biocombustíveis podem reduzir o impacto ambiental.
Tecnologias de Energias Renováveis
Expandir o uso de energias renováveis, como solar, biomassa e pequenas hidrelétricas, pode reduzir a dependência de combustíveis fósseis e fortalecer o modelo sustentável do PIM.
Bioindústria e Biotecnologia
A bioeconomia oferece um futuro promissor para a Amazônia, com a exploração sustentável de bioativos da floresta, fortalecendo a indústria regional e criando produtos de maior valor agregado.
Parcerias Público-Privadas para Infraestrutura
O avanço em parcerias público-privadas pode acelerar o desenvolvimento de infraestrutura sustentável, como estradas verdes, sistemas de coleta de resíduos e redes inteligentes de energia.
Economia Circular
A economia circular pode incentivar a redução, reutilização e reciclagem de materiais, promovendo um ciclo de vida sustentável para os produtos do PIM. A inovação em bioplásticos já coloca o Amazonas no topo do ranking de intensidade tecnológica.
Tecnologia e Digitalização
O uso de tecnologias como inteligência artificial, big data e IoT pode otimizar a eficiência da infraestrutura e dos processos industriais, garantindo menor impacto ambiental e aumento de produtividade.Esses cenários inovadores já estão nos debates das Comissões do CIEAM e na rotina inovadora – fundamentados numa abordagem sistêmica e sustentável – do Polo Industrial de Manaus como um modelo de desenvolvimento econômico que se quer verde, capaz de prosperar sem comprometer os recursos naturais da região.
Veja entrevista entre Jhony Fidellis e Augusto Rocha aqui.
Alfredo é filósofo, foi professor por muitos anos na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, quando voltou para sua terra natal e hoje é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal BrasilAmazôniaAgora
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