A crise hídrica no Amazonas é uma das mais severas já registradas, com o Rio Negro alcançando o menor nível desde o início dos monitoramentos históricos em 1902, o que aponta uma situação crítica para o Estado.
O Rio Negro, um dos principais corpos d’água do Amazonas, voltou a registrar queda em seu nível nesta segunda-feira, 4 de novembro, marcando 12,17 metros na estação de monitoramento do Porto de Manaus. A nova redução ocorre após uma breve elevação registrada entre 17 e 25 de outubro, mas reflete um panorama contínuo de estiagem que impacta gravemente a região. Esse é o menor nível registrado desde o início dos monitoramentos históricos em 1902, apontando uma situação crítica para o Estado.
Histórico e comparativo: a baixa mais extrema em 122 anos
Em outubro, o Rio Negro encerrou o mês com um nível de 12,18 metros, sendo essa a média mantida até a última sexta-feira. Em um contexto de escassez de água sem precedentes, os registros do Porto de Manaus indicam que 2023 tem sido um ano excepcionalmente seco, ultrapassando os índices mínimos observados em 2010, quando o rio chegou a 13,63 metros. Este ano, a cota mínima chegou a 12,11 metros, registrada em 9 de outubro. Essa redução significativa levou o Serviço Geológico do Brasil (SGB) a emitir um alerta no seu 45º Boletim de Monitoramento Hidrológico da Bacia do Rio Amazonas, publicado em 29 de outubro, destacando que o Rio Negro havia chegado a 12,22 metros naquele momento.
Conforme dados do SGB, o Rio Negro registra atualmente a cota mais baixa em 122 anos, e a tendência é que o nível continue oscilando. A descida ocorre a um ritmo de cerca de 5 centímetros por dia, conforme aponta o órgão. A pesquisadora Jussara Cury, do SGB, esclarece que o rio ainda passa pelo processo final de vazante, uma vez que o período chuvoso não começou plenamente na região da bacia amazônica. “O período chuvoso ainda não se consolidou na bacia. Por isso, antes de iniciar as subidas, o rio ainda passará por essas variações de nível”, destaca Cury.
O impacto da estiagem se espalha por todo o Estado, influenciando também o comportamento do Rio Solimões, onde municípios como Tabatinga, a 1.108 km de Manaus, e Manacapuru, a 68 km da capital, registraram níveis baixos semelhantes. Em Itacoatiara, no curso da Bacia do Rio Amazonas, o nível do rio chegou a uma marca negativa de -11 centímetros, e Parintins, a 369 km de Manaus, também relatou uma queda expressiva no nível de suas águas. Esses dados refletem a gravidade da seca e indicam uma situação de alerta em toda a rede hidrográfica da região.
Emergência e ações governamentais
A intensidade da estiagem obrigou o Governo do Amazonas a declarar estado de emergência nos 62 municípios do Estado, afetando áreas urbanas e comunidades ribeirinhas. Segundo o boletim mais recente divulgado pelo governo na última sexta-feira, 2 de novembro, mais de 200 mil famílias estão diretamente impactadas pela seca, que compromete tanto o abastecimento de água quanto a subsistência das populações que dependem dos rios para atividades cotidianas, como transporte, pesca e agricultura.
Além disso, a situação compromete a economia local, pois a baixa dos rios dificulta a navegação e o transporte de mercadorias, que dependem amplamente das vias fluviais. Em algumas comunidades, a redução do nível dos rios dificulta até o acesso a embarcações de socorro e atendimento de saúde, aumentando a vulnerabilidade de milhares de pessoas.
O que esperar nos próximos meses?
Especialistas apontam que o cenário climático do Amazonas e a variação no nível dos rios podem se estabilizar com a chegada do período de chuvas. No entanto, a recuperação dos níveis normais de água pode demorar, especialmente devido à intensidade da atual estiagem e às projeções climáticas que indicam padrões irregulares de chuva. O monitoramento contínuo dos rios é essencial para entender o ritmo de recuperação e a necessidade de possíveis intervenções emergenciais para mitigar o impacto na população.
O SGB e outros órgãos governamentais têm reforçado as ações de monitoramento e a comunicação com a população sobre as oscilações dos níveis das águas, alertando para cuidados necessários nas áreas afetadas. O retorno das chuvas será fundamental para normalizar a situação, mas os dados históricos ressaltam que a população deve se preparar para períodos de seca mais intensos e frequentes.