Em resposta as recorrentes abordagens do colunista Thomaz Rural sobre o trabalho do Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam) Alfredo Lopes, editor geral do portal Brasil Amazônia Agora, escreveu um pronunciamento em nome do bom entendimento da realidade. Thomaz Rural, conhecido por suas colunas incisivas, tem criticado duramente o Idesam, especialmente no que diz respeito à atuação do Observatório da BR-319, a o PPBio, política pública da Suframa com coordenação do instituto e demais casos.
Carta Aberta a Thomaz Rural
Por Alfredo Lopes
Preliminarmente, quero tornar pública minha admiração e afeto por sua figura pública, seu compromisso de amor com nossa terra, nossa gente e nosso futuro. Essa energia que você compartilha, o que se chama de bom olhado para as questões mais urgentes do interesse público, é inspiradora. É notório que você, ao longo dos anos, tem se posicionado firmemente contra várias organizações não governamentais (ONGs), criticando o que percebe como interferências prejudiciais ao desenvolvimento do setor pecuário e agrícola.
Contudo, gostaria de propor uma reflexão mais ampla e equilibrada sobre o papel dessas organizações, destacando que o universo das ONGs é bastante amplo e diverso, e que ao menos algumas delas têm contribuído significa e verdadeiramente para o desenvolvimento da região e a proteção ambiental, alinhando-se inclusive com os interesses da pecuária e da agricultura de longo prazo. Um exemplo pertinente é a Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, que reúne mais de 380 organizações, incluindo entidades do agronegócio, empresas, organizações da sociedade civil, setor financeiro e academia.
Recentemente, essa coalizão se posicionou contra o Projeto de Lei 364/2019, aprovado pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, que, sem um debate mais amplo, coloca em risco o Código Florestal, a saúde dos nossos biomas e a segurança jurídica dos produtores rurais.
O objetivo dessas organizações não é atrapalhar, mas garantir um desenvolvimento que seja equilibrado e que seja possível ao longo das décadas, que preserve nossos recursos naturais e assegure um futuro próspero para todos. Outro exemplo relevante é o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (IDESAM). Desde sua fundação, o Idesam tem trabalhado incansavelmente para promover o desenvolvimento sustentável no interior da Amazônia.
No ano passado, ela foi premiada como a melhor ONG ambiental do Brasil. Recebe apoio e financiamento de empresas e instituições de enorme impacto e reconhecimento, como o Fundo Vale, XP Investimentos, Natura, Farm entre outras gigantes. Isso é parte do reconhecimento que o Idesam teve por desenvolver ações de desenvolvimento sustentável através de negócios de impacto. Além disso, teve seus serviços reconhecidos pelas comunidades ribeirinhas e indígenas, pelo trabalho com foco na geração de emprego, renda e oportunidades.
As indústrias do Polo Industrial de Manaus também apoiam essas iniciativas, que não se opõem ao desenvolvimento, mas sim à destruição e ao desmatamento predatório que comprometem a vida e o futuro de nossas famílias e reservas biológicas.
Thomaz, é fundamental reconhecermos que, assim como em qualquer setor, há ONGs que trabalham com seriedade, transparência e compromisso com o bem comum. A Igreja de Jesus Cristo é um exemplo clássico de uma organização não governamental que deu certo, influenciando positivamente a sociedade em diversas frentes. Da mesma forma, muitas ONGs atuam em áreas que complementam e fortalecem os esforços do setor pecuário e agrícola, como a promoção de práticas de sistemas agroflorestais, a recuperação de áreas degradadas e a pesquisa científica aplicada.
Gostaria de destacar o trabalho de pessoas como Muni Lourenço, um empreendedor raiz que apostou no sistema agroflorestal da Embrapa. Sua pecuária de leite é premiada internacionalmente, e ele serve como um exemplo de como é possível integrar ciência, sustentabilidade e produtividade.
Outro exemplo é Bosco Saraiva, que desempenhou um papel crucial na defesa da Zona Franca de Manaus, garantindo a continuidade de um modelo econômico que beneficia toda a região amazônica, apresentando uma Ação Direta de Inconstitucionalidade diante da Corte Suprema. E hoje, na direção da Suframa, tem feito um trabalho extraordinário em toda a Amazônia, na busca de soluções para o setor produtivo, os dilemas sociais, especialmente, para nossos irmãos ribeirinhos e povos originários.
Bosco apostou no Idesam como coordenador do Programa Prioritário de Bioeconomia. Talvez em uma leitura pouco empenhada e sem compromisso com o melhor entendimento, seja possível entender que a Suframa estaria tirando dinheiro das indústrias para dar para o instituto. Enquanto na realidade, no contexto de Lei de Informática onde as empresas do PIM são obrigadas a destinar, no mínimo, uma verba de 5% do seu faturamento bruto anual para atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), o Idesam consulta o interesse de tais empresas para investimento em inovações em Bioeconomia. Há de concordar que é uma grande ideia.
A verba do PPBio, evidentemente, não fica para o Idesam fazer o que bem entender. A ONG aponta e sugere bons negócios locais que precisam de investimento a empresas interessadas em fazer negócio, além de desempenhar todo o trabalho – muito bem feito por sinal – de executar, incubar e acelerar os projetos. E é assim desde 2019, e será assim até 2028. Importante lembrar também que a organização é anualmente auditada de forma independente.
É demasiadamente fácil bater repetidas vezes em um espantalho. Assim como é fácil bater no fantasma das ONGs – um inimigo pouco conhecido pode receber sem maiores problemas a culpa pelas mazelas seculares que desamparam e levam sofrimento as pessoas da região. Difícil, entretanto, é superar a contradição arcaica entre preservação ambiental e desenvolvimento, e realizar trabalhos significativos a partir de uma nova maneira de empreender na Amazônia.
Sobre o trabalho em torno da questão do asfaltamento da BR-319, mais uma vez importantíssimo foi a contribuição da instituição. É mais do que necessário elevar a pauta ambiental a primeira prateleira de prioridade. Descartando a necessidade de reintroduzir todo o problema do desmatamento e das mudanças climáticas, fica a pergunta: não é um grande feito para a nossa indústria ter suas atividades atreladas a floresta em pé? Não conseguiríamos maior visibilidade e competitividade se formos conhecidos merecidamente por ser a indústria da floresta? Pois bem, que provemos ao Brasil e ao mundo quem somos!
É imperativo que nos engajemos em um debate transparente e construtivo, que transcenda polarizações e extremismos. Precisamos nos apresentar uns aos outros, compartilhar nossas ações e aprender com as experiências alheias. Somente assim poderemos construir soluções conjuntas que beneficiem todos os setores da sociedade. Reitero, portanto, o convite para um diálogo aberto e construtivo, onde possamos discutir nossas diferenças e buscar pontos de convergência. Se assumirmos os critérios de sustentabilidade postulados por Samuel Benchimol, com seus compromissos e visão de longo prazo, teremos não apenas uma rodovia recuperada, mas a oportunidade de demonstrar ao mundo que sabemos gerenciar este cobiçado patrimônio com talento, engenho e arte. A arte de amar a Amazônia.
O convite está feito, e é hora de uma nova polarização, entre nós e com os nossos, com interlocução saudável no formato mutirão e conquista de soluções conjuntas e construtivas. P.S. Muni Lourenço, Nelson Azevedo e Estevão Monteiro de Paula são três guerreiros, nossos amigos em comum e testemunhas de nosso compromisso com a Amazônia.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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