Pesquisa da Embrapa revela papel vital das florestas urbanas na redução da temperatura, armazenamento de carbono e combate às mudanças climáticas.
O Bosque Reinhard Maack, uma das florestas urbanas mais bem conservadas de Curitiba, foi o local de um estudo de três anos conduzido pela Embrapa Florestas. Este estudo focou na avaliação da temperatura e dos gases de efeito estufa. Intitulado “Contribuição de uma floresta urbana na atenuação da temperatura do ar para enfrentamento da mudança do clima: caso do Bosque Reinhard Maack”, o projeto destacou a diminuição significativa da temperatura média anual dentro da floresta, que chegou a ser 4°C mais baixa do que em áreas externas próximas. Esses achados sublinham a relevância dos fragmentos florestais urbanos para o equilíbrio dos microclimas e no combate às mudanças climáticas, especialmente em áreas urbanas com alta emissão de gases de efeito estufa.
Esses achados fazem parte de uma pesquisa mais abrangente da Rede Saltus, intitulada “Dinâmica de gases de efeito estufa e dos estoques de carbono em florestas naturais e plantadas: práticas silviculturais para mitigação e adaptação à mudança climática”. Um estudo complementar, que também examinou a temperatura e a influência do bosque no microclima local, foi o TCC de Laura Malage, estudante de agronomia da UFPR e bolsista do CNPq na Embrapa Florestas.
Análise da fitossociologia e impacto no meio ambiente
A pesquisa incluiu uma análise fitossociológica para identificar as espécies florestais predominantes e avaliar os gases de efeito estufa, além de determinar os estoques de carbono no solo e na vegetação. Este estudo também considerou a estrutura e composição do remanescente florestal. Os resultados finais evidenciaram a capacidade do bosque em mitigar os gases de efeito estufa, conforme explicado pelos pesquisadores da Embrapa, Marcos Rachwal e Josiléia Zanatta. Eles destacaram o amplo alcance do estudo e o extenso período de monitoramento da área urbana.
Características do Bosque Reinhard Maack
O bosque urbano Reinhard Maack, cenário do estudo, é um fragmento da Floresta Ombrófila Mista, também conhecida como floresta com araucária ou pinheiral, situado ao sul de Curitiba. Criado em 1989 com o intuito de promover a educação ambiental, o bosque foi escolhido para o estudo devido ao seu alto grau de conservação e localização em uma área com poucos remanescentes florestais nativos e arborização urbana, como esclarece Rachwal.
O monitoramento das temperaturas no Bosque Reinhard Maack, conduzido de abril de 2019 a junho de 2022, ocorreu em quatro pontos específicos: na rua externa, no estacionamento próximo, na entrada da trilha e no interior da mata. Durante esse período, a variação térmica observada variou de 8,7 °C a 33,6 °C, dependendo da localização e da estação do ano. Dentro do bosque, a média anual foi de 17,1 °C, enquanto na entrada era de 19,1 °C. No estacionamento, que tinha alguma sombra de árvores, a temperatura média foi de 19,7 °C, e na área mais distante, perto de um sobrado residencial, foi de 20,9 °C.
Rachwal destaca que a presença de árvores no estacionamento e na borda da mata nativa ajudou a reduzir a temperatura em mais de 1 ºC em quase todas as estações. Zanatta complementa, enfatizando a importância de aumentar as áreas verdes urbanas para amplificar o efeito de resfriamento, mesmo que localmente.
Comparação com outros estudos em áreas urbanas
Há poucos estudos sobre o impacto dos bosques urbanos no microclima. Pesquisas anteriores incluem uma no Parque Chapultepec, no México, que registrou redução de temperatura de 2 ºC a 3 ºC em comparação com as áreas construídas ao redor. Em Maringá (PR), outra análise mostrou diferenças de 2 ºC a 3,8 ºC entre áreas sombreadas e expostas à radiação direta. Em Curitiba, um estudo adicional indicou temperaturas 2,3 ºC mais altas em áreas urbanas do que em florestas urbanas. Essas pesquisas reforçam a influência positiva da vegetação no clima dos centros urbanos.
Segundo os pesquisadores, é evidente que a proximidade de mata nativa reduz a temperatura, graças à interceptação de radiação pelas copas das árvores, que gera sombra e diminui a temperatura das superfícies sombreadas. A liberação de água pelas folhas também ajuda a resfriar o ambiente. Rachwal enfatiza que esses mecanismos ilustram o papel vital dos ecossistemas florestais urbanos no combate às mudanças climáticas, não apenas na redução da temperatura e no conforto térmico, mas também na infiltração e armazenamento de água no solo. Esses fatores sublinham a necessidade de políticas públicas que promovam a conservação e expansão desses espaços, visando mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
Inventário florestal e impacto da Araucária no armazenamento de Carbono
O estudo no Bosque Reinhard Maack incluiu um inventário florestal e análise do estoque de carbono tanto na vegetação quanto no solo, além do monitoramento da temperatura e de gases como N2O (óxido nitroso), CH4 (metano) e CO2 (dióxido de carbono). Durante a pesquisa, foram catalogados 501 indivíduos de plantas, pertencentes a 27 famílias botânicas e 39 espécies lenhosas. Foi constatado que a biomassa da Araucaria angustifolia, juntamente com Allophylus edulis e Jacaranda micrantha, representou 54% do carbono armazenado. Em particular, a Araucaria angustifolia, espécie icônica do Paraná, foi responsável por 39% do carbono estocado na biomassa do bosque, destacando sua importância no armazenamento de carbono com 40 toneladas por hectare.
O bosque, com área de 7,8 hectares, apresentou um estoque de carbono total de 260 toneladas por hectare, dividido entre a serrapilheira (6 t/ha), biomassa vegetal (102 t/ha) e solo até 1 metro de profundidade (152 t/ha). No total, mais de 2 mil toneladas de carbono estão armazenadas no bosque. As emissões anuais de óxido nitroso foram de 1 kg/ha, enquanto a absorção de metano foi de 7 kg de carbono/ha/ano, e a emissão de dióxido de carbono foi de 11 kg de carbono/ha/ano. Foi observada uma compensação de 51% da emissão de N2O pela absorção de CH4.
Mitigação e adaptação às Mudanças Climáticas
A mitigação das mudanças climáticas está associada à redução das emissões de gases de efeito estufa, enquanto a adaptação se refere à implementação de mecanismos que aumentam a resiliência das comunidades aos impactos climáticos. Neste contexto, os ecossistemas florestais urbanos desempenham um papel essencial, agindo como serviços ecossistêmicos no sequestro e armazenamento de carbono, na regulação climática e dos fluxos de água, na purificação do ar e na promoção do bem-estar da comunidade. Este estudo ressalta a importância de preservar e expandir essas áreas verdes urbanas como parte de uma estratégia abrangente para enfrentar as mudanças climáticas.
Com informações da Embrapa
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