“Por fim, o apelo está feito, e é hora de uma nova polarização, inteligente e criativa, ou seja, reaproximação construtiva, entre nós e com os nossos, com interlocução saudável no formato mutirão e conquista de soluções conjuntas e colaborativas.”
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
A polarização política que se instaurou no Brasil e no mundo é um fenômeno que preocupa a todos que desejam um país mais unido e próspero. As decisões que envolvem interesses coletivos estão travadas, enquanto divergências pessoais ganham espaço, obscurecendo os verdadeiros desafios e oportunidades que nos cercam.
Para além das disputas de quem está mais certo, é fundamental que reconheçamos a necessidade de um diálogo construtivo que priorize os interesses comuns deixando em segundo plano as diferenças pessoais. A admiração pelo compromisso e dedicação de líderes públicos à nossa terra e ao nosso futuro deve ser a base desse diálogo. A energia positiva e a visão estratégica que esses líderes compartilham podem ser a chave para resolver as questões mais urgentes do interesse público.
O papel das ONGs
Ao longo dos anos, muitas figuras públicas têm se posicionado contra diversas ONGs, criticando o que percebem como interferências prejudiciais ao desenvolvimento dos setores mineral, pecuário e agrícola. No entanto, é crucial adotarmos uma perspectiva mais ampla e equilibrada sobre o papel dessas organizações. Como qualquer tipo de organização ou instituição, o universo das ONGs é vasto e diverso. E temos ótimos exemplos que demonstram contribuição significativa para o desenvolvimento da região e a proteção ambiental, alinhando-se com os interesses de longo prazo.
A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, por exemplo, reúne mais de 380 organizações, incluindo entidades do agronegócio, empresas, organizações da sociedade civil, setor financeiro e academia. Recentemente, essa coalizão se posicionou contra o Projeto de Lei 364/2019, que coloca em risco o Código Florestal e a segurança jurídica dos produtores rurais. O objetivo dessas organizações é garantir um desenvolvimento sustentável e equilibrado ao longo das décadas, preservando nossos recursos naturais e assegurando um futuro próspero para todos.
Podemos brigar e discutir o quanto quisermos. O fato é que ninguém terá êxito quando bater 50ºC na sombra, com rios secos e terras improdutivas.
Exemplos de sucesso
Outro exemplo relevante é o Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam), que tem trabalhado incansavelmente para promover o novos mercados e negócios de impacto social e ambiental no interior da Amazônia. Premiada como a melhor ONG ambiental do Brasil no ano passado, o Idesam recebe apoio de empresas de renome, como o Fundo Vale, XP Investimentos, Natura e Farm, pelo seu trabalho de geração de emprego, renda e oportunidades para as comunidades ribeirinhas e indígenas.
As indústrias do Polo Industrial de Manaus também apoiam essas iniciativas, que não se opõem ao desenvolvimento, mas sim ao desmatamento predatório que compromete a vida e o futuro de nossas famílias e reservas biológicas. É fundamental reconhecermos que muitas ONGs trabalham com seriedade, transparência e compromisso com o bem comum, complementando e fortalecendo os esforços do setor pecuário e agrícola.
Integração e Sustentabilidade
Pessoas como Muni Lourenço, que apostou no Sistema Agroflorestal da Embrapa e tem sua pecuária de leite premiada internacionalmente, demonstram como é possível integrar ciência, sustentabilidade e produtividade. Bosco Saraiva, na direção da Suframa, tem feito um trabalho extraordinário em toda a Amazônia, buscando soluções para o setor produtivo e os dilemas sociais, especialmente para nossos irmãos ribeirinhos e povos originários.
A verba do Programa Prioritário de Bioeconomia (PPBio), gerido pelo Idesam, não fica para a ONG fazer o que bem entender. O Idesam sugere bons negócios locais que precisam de investimento a empresas interessadas, desempenhando todo o trabalho de execução, incubação e aceleração dos projetos. Desde 2019, essa iniciativa tem sido auditada de forma independente, assegurando transparência e eficiência.
Propósitos comuns
É fundamental que asseguremos os direitos de contrapartida fiscal para os três setores da economia: indústria, comércio/serviços, e agricultura. A população não quer apenas o asfaltamento da BR-319. Queremos fiscalização e controle, incluindo o uso de inteligência artificial e outros recursos tecnológicos para evitar atividades predatórias e criminosas. Além disso, queremos projetos de agricultura familiar para abastecer Manaus, que atualmente importa 80% dos seus alimentos. Também desejamos o aproveitamento sustentável das oleaginosas no traçado da rodovia, ou seja, parques tecnológicos para inovar com sustentabilidade na direção da prosperidade geral.
Para completar, precisamos de infraestrutura de transportes no modal aéreo, fluvial e rodoviário, que esteja em condições de contrapartida fiscal. É um absurdo pagarmos as mesmas tarifas do Sudeste numa região remota como a Amazônia.
Ninguém vai longe sozinho
É demasiadamente fácil culpar ONGs pelos problemas históricos da região. Difícil tem sido superar a ilusória contradição entre preservação ambiental e desenvolvimento, realizando trabalhos significativos a partir de uma nova maneira de empreender na Amazônia. A contribuição dessas organizações é vital, especialmente em projetos como o asfaltamento da BR-319, elevando a pauta ambiental à prioridade máxima.
É imperativo que nos engajemos em um debate transparente e construtivo, que transcenda polarizações e extremismos. Precisamos nos apresentar uns aos outros, compartilhar nossas ações e aprender com as experiências alheias. Somente assim poderemos construir soluções conjuntas que beneficiem todos os setores da sociedade.
Reiteramos, portanto, o convite para um diálogo aberto e construtivo, onde possamos discutir nossas diferenças e buscar pontos de convergência. Se assumirmos os critérios de sustentabilidade postulados por Samuel Benchimol, com seus compromissos e visão de longo prazo, teremos não apenas uma rodovia recuperada, mas a oportunidade de demonstrar ao mundo que sabemos gerenciar este cobiçado patrimônio com talento, engenho e arte.
Por fim, o apelo está feito, e é hora de uma nova polarização, inteligente e criativa, ou seja, reaproximação construtiva, entre nós e com os nossos, com interlocução saudável no formato mutirão e conquista de soluções conjuntas e colaborativas. Este é um chamado à população para que possamos, juntos, construir um futuro melhor, onde as diferenças sejam respeitadas e os interesses comuns sejam prioritários.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
Coluna Follow-up é publicada às quartas, quintas e sextas feiras no Jornal do Comércio do Amazonas, sob a responsabilidade do CIEAM e coordenação editorial de Alfredo Lopes, editor do portal
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