É desolador ver a repercussão de estudos superficiais que apontam defeitos que não existem, com escândalos falsos, somados com a ausência de debate para resolver os problemas reais da Zona Franca e de tantas outras questões problemáticas do país, como o aumento da fome ou da desindustrialização.
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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A mídia adora a ultradireita, que existe pelo escândalo do falso. Há uma engenharia do caos que construiu as reputações do esgoto da política internacional. Precisamos começar a não cair e a não aceitar estas armadilhas, para a caminhada do país e do mundo para o melhor, seja pela direita, centro ou esquerda.
O meio tempo, enquanto não percebemos ou não percebíamos isso, é muito difícil e todos certamente já caímos em alguma armadilha de vídeo, ligação ou de mensagem falsa. É muito difícil e cansativo estar atento o tempo todo.
Ao mesmo tempo, temos tido dificuldade para enfrentar os pontos fracos da Zona Franca de Manaus (ZFM). São muitos tabus. Assim, sempre que alguém fala de uma desvantagem, surge uma avalanche de desinformação.
Enquanto não tivermos a clareza de que existem pontos fracos e mínimas hipóteses sobre como corrigi-los, pairará no ar uma enorme sensação de culpa e a necessidade continuada de responder a qualquer um que fale mal da ZFM e o reverso: muitos querendo falar mal, com base em premissas falhas.
É claro que existem defeitos na ZFM – mas quais são os que aceitamos e quais enfrentaremos? Como ter políticas públicas no Brasil se a solução para erros é o desmonte?
O antropólogo Jeremy Goulf tem feito alertas sobre como as políticas de “auxílio ao desenvolvimento” tiveram motivações diversas – e nem sempre são o que elas afirmam sobre si. Há muito mais de uma aspiração para um domínio global de seus proponentes e administradores do que de fato de uma transformação das sociedades que as recebem. É difícil perceber isso, pois os discursos são sedutores e possuem uma aparência técnica convincente. Assim, a mistura destes três ingredientes é explosiva.
Uma vez que não há determinismo geográfico ou necessidade de resignação para a condição subdesenvolvida (como algumas instituições “respeitáveis” têm dito), precisamos sair da armadilha da volatilidade das commodities e desenvolver robustez científica e produtiva em soluções mais modernas, mas somos insistentemente convidados a nos afastar – retirando a escada já usada em outros países, como deliberado por Ha-Joon Chang.
O pior é que órgãos de governo e legislativo brasileiros não se dão conta que as soluções estrangeiras dificilmente nos empurram para cima, mas buscam maneiras de nos manter sob a tutela forasteira. Quando perceberemos que outros países não querem nos ajudar?
Assim, não costumamos considerar méritos nossos: industrialização, tecnologias, pesquisa acadêmica, como se estas características estivessem dissociadas de nossas possibilidades, buscando a facilitação da deseducação ou desindustrialização, empurrando o país para o passado e para baixo.
No caso da Amazônia e da ZFM, temos um conjunto amplo de deficiências a serem superadas, mas precisamos ter a calma de enfrentar as deficiências reais: inclusão social, falta de infraestrutura, falta de maior uso de mão de obra qualificada, baixa presença de tecnologias locais, poucos representantes do grande capital nacional e pouca integração com insumos locais.
Precisamos começar a encarar de frente os próximos passos que construirão um futuro mais próspero na Amazônia e no Brasil. Chegou a hora de parar de apontar apenas os problemas que não existem na industrialização da região. É desolador ver a repercussão de estudos superficiais que apontam defeitos que não existem, com escândalos falsos, somados com a ausência de debate para resolver os problemas reais da ZFM e de tantas outras questões problemáticas do país, como o aumento da fome ou da desindustrialização.
Repercutem-se exaustivamente as hipóteses e saídas que levam a destruição ou a um “crescimento empobrecedor”, como asseverou o economista indiano Jagdish Bhagwati. Precisamos crescer e aprender com os erros, ao invés de debater tolices.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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