É desolador constatar o descaso histórico com a infraestrutura do Amazonas e da Amazônia e, mesmo com ações emergenciais, não há cenário bom pela frente
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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São assustadores os efeitos da seca nos rios da Amazônia. É alarmante a interrupção do fluxo de navios de maior porte por muito mais tempo que o previsto, em decorrência da maior seca histórica e da redução da lâmina d’água, o que colocou o calado máximo abaixo de 8m em alguns pontos críticos da conexão entre Manaus e Belém. As ações que o DNIT tem em curso não serão suficientes para sanar o problema rapidamente. Isso vai levar a desabastecimentos de vários produtos, por conta do maior tempo de rompimento desta infraestrutura e corredor crítico.
A ação breve que pode ser feita é desafiante e a sua execução deve ser a partir do dia 24/10, podendo levar, segundo o DNIT, entre 15 e 45 dias. Se forem os 45 dias, teremos a ajuda da natureza, pois é quando, historicamente, os rios também começam a subir. Isso significa que as medidas emergenciais em curso parecem insuficientes e lentas. É desolador constatar o descaso histórico com a infraestrutura do Amazonas e da Amazônia e, mesmo com ações emergenciais, não há cenário bom pela frente.
As empresas da região conhecem esta sazonalidade e até fazem estoques. Acontece que eles não serão suficientes, se o tráfego ficar tanto tempo interrompido. Em 10/10/2023, quando um dos trechos ficou com menos de 8m de calado acentuou a preocupação. Desde então, o volume de contêineres é pequeno frente ao que transita para Manaus. Há informações de que a repartição entre o rô-rô caboclo e a cabotagem seria da ordem de 30%/70%. Se for 40%/60% ou 50%/50% como estimativas anteriores, ainda seria alarmante ficar por mais de 30 dias sem trânsito robusto.
Há uma ação fundamental dos armadores: dar transparência sobre quantos contêineres estão retidos, em cada sentido, onde estão, quantos já passaram, chegaram e saíram de Manaus ou fora da área de crise. Outra medida fundamental é o DNIT alocar mais equipamentos para que antes de 10/11/2023 esta hidrovia retome os 8m de calado. A alternativa dos caminhões, por rodovias, inexiste, pois a BR-319, de Porto Velho até Manaus, não tem asfalto no trecho do meio. Precisa ser recuperada, com as devidas e necessárias salvaguardas ambientais.
Devem existir problemas nas cadeias de abastecimento de Manaus. Mais de 30 dias é inaceitável. Contudo, nem que seja só pelo susto, é possível transformar a crise histórica em oportunidade. Primeiro: ações para reduzir ao máximo o tempo de interrupção da hidrovia. Isso é o que importa. Fora disso, precisam ser construídas ações preventivas para o próximo ano. Enquanto isso, é também importante que mais equipamentos e tecnologia sejam alocados na zona de crise, para reduzir substancialmente o prazo.
Convém que a Suframa crie um Grupo de Trabalho para estruturar um Plano de Ação para minimizar os riscos associados com a situação. Fiz uma pequena lista de vídeos no YouTube abordando o problema e algumas possíveis ações. Estão em https://bit.ly/seca2023AM. Fica a expectativa de que possamos dialogar nesta construção coletiva de um Amazonas e Amazônia melhores, com visão sistêmica, serenidade, determinação e, principalmente, velocidade de ação, fora disso dependeremos só da chuva, que São Pedro normalmente providencia.
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Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Diretor Adjunto do CIEAM
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