As consequências do aquecimento global e do desmatamento vão além das previsões mais sombrias dos cientistas climáticos. As alterações no clima da Terra e nos ecossistemas estão diretamente ligadas ao aumento no número de casos de doenças transmitidas por mosquitos como dengue, zika e chikungunya, principalmente em regiões que anteriormente eram consideradas seguras. Um novo estudo prevê que a infecção por esses vírus pode aumentar em 20% nos próximos 30 anos devido às mudanças climáticas.
A crescente propagação
As temperaturas mais altas estão permitindo que doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti proliferem em regiões mais frias, como o sul do Brasil e o sul da Europa. Esse avanço também está sendo facilitado pelo desmatamento, já que florestas ricas em biodiversidade, com mais predadores, tendem a inibir a presença do mosquito transmissor
Em 2022, o Brasil atingiu um marco histórico: pela primeira vez, foram registradas mais de mil mortes por dengue. Este número tem tendência a crescer, com o Centro de Operações de Emergências de Arboviroses relatando um aumento de 22% de casos fatais até junho de 2023, em comparação ao mesmo período do ano anterior
Um futuro assustador
Se a atual situação já é preocupante, um estudo da Universidade de Michigan (EUA) indica um futuro ainda mais sombrio. O potencial de transmissão das arboviroses — que incluem dengue, zika e chikungunya — pode aumentar em 20% nos próximos 30 anos devido às mudanças climáticas
A pesquisa de Michigan analisou a incidência de arboviroses em quatro capitais brasileiras: Manaus, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. De acordo com o epidemiologista Andrew Brouwer, coautor do estudo, “os órgãos de controle brasileiros devem estar preparados não apenas para o aumento da incidência das doenças como dengue e zika, mas também para temporadas de transmissão mais longas e uma expansão da área geográfica de ocorrência”
A perspectiva alarmante
O estudo também projetou temporadas de risco aumentadas em dois a três meses no Rio de Janeiro e em dois meses em Recife até 2050 Mesmo São Paulo, que está no limite do potencial de transmissão devido às temperaturas mais baixas, pode se tornar mais vulnerável a surtos de novembro a abril.
Enfrentar a crescente ameaça das arboviroses requer uma resposta multifacetada que aborda tanto a crise climática quanto a saúde pública. É fundamental que os órgãos de controle de doenças, os formuladores de políticas e o público em geral estejam cientes da ligação entre as mudanças climáticas e o aumento das doenças transmitidas por mosquitos. Apenas por meio de uma abordagem unificada e integrada será possível mitigar o risco crescente representado por essas doenças devastadoras.
- Novo estudo prevê aumento de 20% na infecção por vírus como dengue, zika e chikungunya nos próximos 30 anos devido às mudanças climáticas.
- O Brasil bateu o recorde de mortes por dengue em 2022, ao ultrapassar pela primeira vez na história recente a barreira dos quatro dígitos, com 1.016 óbitos.
- De acordo com o Centro de Operações de Emergências de Arboviroses, já são 635 casos fatais registrados até 11 de junho, um aumento de 22% em relação ao mesmo período do ano passado.
- O potencial de transmissão das arboviroses — doenças que incluem, além da dengue, zika e chikungunya — pode aumentar 20% nos próximos 30 anos devido às mudanças climáticas.
- “Os órgãos de controle brasileiros devem estar preparados não apenas para o aumento da incidência das doenças como dengue e zika, mas também para temporadas de transmissão mais longas e uma expansão da área geográfica de ocorrência”, afirma o epidemiologista Andrew Brouwer, coautor do estudo e pesquisador da Escola de Saúde Pública da Universidade de Michigan.
- A pesquisa mostra ainda temporadas de risco aumentadas em dois a três meses no Rio de Janeiro e em dois meses em Recife até 2050.
Este cenário preocupante de aumento nas taxas de infecção por vírus transmitidos por mosquitos, como a dengue e o zika, deve-se a uma combinação de fatores, incluindo as mudanças climáticas e o desmatamento. As mudanças climáticas estão levando a um aumento das temperaturas, o que favorece a proliferação do mosquito Aedes aegypti, vetor dessas doenças, em regiões que antes eram mais frias.
Por outro lado, o desmatamento está diminuindo a biodiversidade nessas áreas, removendo os predadores naturais do mosquito e diminuindo a competição, proporcionando um ambiente perfeito para o Aedes aegypti se instalar e se reproduzir.
Como mencionado por Sérvio Pontes Ribeiro, pesquisador da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), o reflorestamento das áreas urbanas e suas periferias é uma solução potencial para combater a proliferação do mosquito. Ao aumentar a biodiversidade dessas áreas através do reflorestamento, podemos atrair predadores naturais do mosquito e outras espécies de mosquitos que não são vetores de doenças, mas que podem competir com o Aedes aegypti.
É importante notar que, além das medidas de prevenção e controle do mosquito, como a eliminação de criadouros, o reflorestamento é uma estratégia de longo prazo que pode ajudar a controlar a proliferação dessas doenças. Essa estratégia requer planejamento e investimento, mas pode ter um impacto significativo na redução do número de casos dessas doenças no futuro.
Para enfrentar esses desafios, será crucial uma colaboração global, envolvendo não apenas profissionais de saúde, mas também cientistas ambientais, governos, ONGs e a comunidade em geral. É um lembrete de que a saúde humana está intimamente ligada à saúde do nosso planeta, e que precisamos trabalhar juntos para proteger ambos.
*Com informações da MONGABAY
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