Industrializar o país e colocar os serviços novamente na pauta de exportações, desde a construção civil até o software. Esta rota transformadora é fácil de falar e difícil de fazer. Outra oportunidade ainda mais desafiante será a de explorar sustentavelmente a biodiversidade, que é um dos caminhos para a construção do futuro próspero na Amazônia.
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
_____________________________
Industrializar ou reindustrializar? A derrocada da indústria nacional foi tão acentuada que em 2021, o país retrocedeu ao nível de 1947. O Prof. Claudio Considera (UFF), demonstrou em artigo que a indústria brasileira da transformação está “à beira da extinção”, de 36% do PIB em 1985, para 11% em 2021. Compartilho a perspectiva dele, que aponta uma possível rota de saída com a integração das universidades às empresas, para construir um crescimento e mudança deste cenário desolador.
Manaus é uma cidade industrial, formada por cadeias produtivas globais, fortemente dependentes de importações, mas que se encontra em um crescimento razoável, comparado com o restante do Brasil. O modelo de redução das barreiras comerciais adotado nos últimos anos atrapalhou a competitividade da indústria nacional. A ausência de impostos e apoio tecnológico são os grandes incentivos para o modelo extrativista e agrícola exportador.
Incentivamos o “agroexportador”, aonde os benefícios vão para um consumidor estrangeiro, com baixíssimo valor agregado nacional, quer seja pelo trabalho pouco remunerado, quer seja pela ausência de transformação industrial. Também favorecemos o produtor industrial estrangeiro, que agrega valor ao que importa daqui e de outros países produtores de commodities, exportando para o Brasil os produtos industriais e de serviços com altíssimo valor agregado, onde toneladas de soja são necessárias para comprar apenas um equipamento importado.
Esta conta “não fecha” e precisa passar por revisões. Industrializar o país e colocar os serviços novamente na pauta de exportações, desde a construção civil até o software. Esta rota transformadora é fácil de falar e difícil de fazer. Outra oportunidade ainda mais desafiante será a de explorar sustentavelmente a biodiversidade, que é um dos caminhos para a construção do futuro próspero na Amazônia.
O problema é que precisaremos de anos para chegar nestas intenções. O grande desafio será a mudança de perspectiva em relação ao modelo mental extrativista e destruidor, que reina em nossa elite econômica, com baixa produtividade de processos e alta eficiência financeira.
Manaus pode se posicionar como um epicentro na retomada industrial nacional, pois já conta com uma indústria avançada em tecnologia, dotada de cadeias de fornecedores globais, que poderá adensar a sua estrutura para maior produção de insumos no Brasil, que, se forem competitivos, poderão transformar a cidade em uma plataforma exportadora.
Esforços de longo prazo não são nosso ponto forte. Um ecossistema inovador e produtivo pode começar a dar frutos em uma década, se for feito um esforço sistêmico e coordenado. A experiência do Polo Industrial de Manaus, em outros subsetores, poderia ser aproveitada. Para isso, precisaremos alterar o pensamento padrão dos governos federal e estadual sobre as riquezas naturais: sair da extração e passar para a transformação sustentável.
Há espaço nos comércios para tantas mudanças? Certamente sim, mas não teremos apoios externos, pois não convém ver o Brasil voltar para o topo da elite econômica global, afinal em 2012 estávamos como a 6ª maior economia do mundo e em 2022 fomos a 12ª. A dúvida é como convencer os empresários dos setores vinculados com esta indústria que este é um interesse viável. Talvez com apoio da imprensa e da sociedade, estimulando a migração de recursos da ciranda financeira para uma produção sustentável. Hoje estamos longe disto, mas precisamos acordar para o que está em jogo.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
Comentários