Analogamente a um relatório médico, podemos dizer que o diagnóstico da Terra é grave, porém, ainda é possível reverter essa situação. No entanto, o tempo para agir está se esgotando.
O mundo iniciou o mês do Meio Ambiente com um importante alerta. Em 31 de maio, a revista científica Nature publicou um estudo abrangente que confirma a situação de risco enfrentada pela saúde do nosso planeta. Cientistas realizaram uma análise semelhante a um check-up médico, avaliando indicadores vitais como fluxo de água, uso de fósforo e conversão de terras. Infelizmente, os resultados revelam que a atividade humana empurrou a Terra para uma zona perigosa em sete dos oito indicadores de segurança e justiça planetária recentemente estabelecidos.
Os cientistas utilizaram referências “seguras e justas” para o planeta, comparando-as aos sinais vitais do corpo humano. Essas medidas e limites são baseados em uma síntese de estudos anteriores realizados por universidades e grupos científicos da ONU, como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e a Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos. Os resultados são alarmantes, pois indicam que a Terra enfrenta crises crescentes de disponibilidade de água, carregamento de nutrientes, manutenção do ecossistema e poluição por aerossóis. Essas ameaças comprometem a estabilidade dos sistemas de suporte à vida e agravam a desigualdade social.
Para ter acesso ao estudo “Safe and just Earth system boundaries”, em inglês, clique aqui
Abordagem inovadora
Este estudo representa uma abordagem inovadora ao medir o bem-estar da Terra e da população humana que a habita. Considerado a tentativa mais ambiciosa até o momento de combinar indicadores de saúde planetária com indicadores de bem-estar humano, o relatório busca realizar uma avaliação científica interdisciplinar de todo o sistema planeta-pessoas. O professor Johan Rockström, um dos principais autores do estudo, explica que essa abordagem se faz necessária diante dos riscos que enfrentamos.
“É uma tentativa de fazer uma avaliação científica interdisciplinar de todo o sistema planeta-pessoas, algo que devemos fazer devido aos riscos que enfrentamos”, explica o professor.
Diagnóstico e soluções
Analogamente a um relatório médico, podemos dizer que o diagnóstico da Terra é grave, porém, ainda é possível reverter essa situação. No entanto, o tempo para agir está se esgotando. O professor Joyeeta Gupta, co-presidente da Comissão da Terra e especialista em meio ambiente e desenvolvimento, destaca que a saúde do planeta afeta diretamente as pessoas.
“Nosso médico diria que a Terra está realmente muito doente agora em muitas áreas. E isso está afetando as pessoas que vivem na Terra. Devemos abordar não apenas os sintomas, mas também as causas”
Portanto, é necessário abordar tanto os sintomas quanto as causas. David Obura, outro membro da comissão, ressalta que as soluções vão além das políticas em vigor, envolvendo também mudanças no estilo de vida, como redução do consumo de carne, consumo responsável de água e adoção de uma dieta mais equilibrada. Ele reforça que é possível realizar essas mudanças, mas é preciso um compromisso maior.
“Existem vários medicamentos que podemos tomar, mas também precisamos de mudanças no estilo de vida – menos carne, mais água e uma dieta mais equilibrada”, disse ele. “É possível fazer isso. Os poderes regenerativos da natureza são robustos… mas precisamos de muito mais comprometimento.”
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Indicadores-chave
O estudo selecionou cinco dos nove sistemas planetários originais – clima, biosfera, água, nutrientes e poluição do ar – e identificou oito indicadores-chave quantificáveis para monitorar esses sistemas. Esses indicadores foram cuidadosamente escolhidos para serem implementáveis por partes interessadas em diferentes áreas, como cidades, empresas e países ao redor do mundo.
Considerações de justiça
Além disso, o documento considera a justiça entre espécies, a justiça intergeracional e a justiça intrageracional. A justiça entre espécies prioriza a preservação de outras espécies e ecossistemas, além da humanidade. Já a justiça intergeracional leva em conta como as ações tomadas hoje afetarão as gerações futuras. Por fim, a justiça intrageracional considera fatores como raça, classe e gênero, que influenciam a desigualdade, a vulnerabilidade e a capacidade de resposta às mudanças nos sistemas planetários.
O estudo revela a gravidade da situação e a necessidade urgente de agir para proteger a saúde do nosso planeta. Os limites seguros do sistema terrestre já foram violados em diversas áreas, exigindo um comprometimento maior por parte de governos, empresas e indivíduos. Ações imediatas e mudanças significativas nos padrões de consumo são essenciais para reverter essa tendência preocupante. O tempo está se esgotando, e é fundamental tomar medidas para garantir a sustentabilidade e a preservação do nosso planeta para as gerações futuras.
Além disso, houve críticas sobre a dificuldade de definir limites precisos e universais para todos os sistemas planetários, considerando as complexidades e interconexões envolvidas. Alguns pesquisadores argumentam que a abordagem das fronteiras planetárias pode ser muito simplista e não levar em conta os contextos regionais e as diferentes realidades socioeconômicas.
Limites
No entanto, a Comissão da Terra defende que a análise dos limites do sistema terrestre é fundamental para fornecer orientações e metas claras para a sustentabilidade global. Eles enfatizam a importância de estabelecer metas quantitativas e científicas que possam ser implementadas em níveis locais e globais, a fim de direcionar as ações de governos, empresas e sociedade civil em direção a um futuro mais sustentável.
Embora o estabelecimento de limites planetários e a busca por justiça ambiental possam ser desafiadores, o estudo ressalta que é essencial enfrentar essas questões para garantir um planeta saudável para as gerações futuras. O professor Johan Rockström destaca que estamos nos aproximando de pontos críticos e danos permanentes aos sistemas de suporte à vida. Portanto, é necessário agir com urgência e tomar medidas para reverter os limites violados e promover a justiça ambiental.
Em última análise, o estudo e a análise dos limites do sistema terrestre fornecem um importante alerta sobre os impactos da atividade humana no planeta e destacam a necessidade de uma abordagem mais sustentável e equitativa para garantir a saúde e a prosperidade de todas as formas de vida na Terra.
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