“É imperativo que a União e os governos locais declarem uma emergência climática e implementem medidas urgentes e sustentáveis para mitigar esses danos da estiagem. O modelo de desenvolvimento insustentável deve ser revisto, priorizando a proteção do meio ambiente e o bem-estar das comunidades que dependem dele para sobreviver.”
Por Nelson Azevedo
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O que era ruim, piorou. A seca severa que assola a Amazônia é mais do que uma questão ambiental, é uma crise humanitária que exige uma ação imediata e decisiva. O vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, veio a Manaus na semana passada para ajudar o Estado, mas foram tímidas suas medidas diante do tamanho da tragédia que permanecerá entre nós até quando durarem suas causas. E quais são as causas que já foram empurradas para debaixo do tapete? Estamos todos omissos em relação a elas, desde quando o presidente da CNI, Robson Andrade, alertou para os propósitos federais em transformar o Brasil num grande roçado.
Nem por terra nem por água
As entidades de classe do setor privado há mais de um ano alertam os riscos e ameaças da navegabilidade com a estiagem prevista pela Ciência. Pedem o balizamento e a dragagem dos rios e a recuperação da BR-319 – com mais veemência – desde a crise do oxigênio, há mais de dois anos, obrigou o governo brasileiro, enfim, a despachar o oxigênio para Manaus. Por via aérea o risco de explosão é alto.
E por via terrestre, puts, esqueceram que a rodovia está sem manutenção há mais de trinta anos. Agora, com a seca recorde, não vai nem vem as mercadorias e os insumos do Polo Industrial de Manaus por terra nem por água. E quem aguenta trabalhar com esse frete aéreo? E por que tanta dificuldade para reduzir as tarifas do combustível?
Os rios desapareceram
Na ótica das populações ribeirinhas e dos povos originários, o pedido de socorro não cessa de se multiplicar. Articulação das Organizações e Povos Indígenas do Amazonas (APIAM), por exemplo, fez um apelo urgente para que a União e os governos da Amazônia declarem uma emergência climática e adotem medidas sustentáveis para enfrentar essa situação. Ou seja, por que tanta demora para enfrentar os danos generalizados causados pela estiagem histórica, evidenciados pelas mazelas sociais, educacionais, desemprego, desabastecimento, falta d’água e serviços médicos na região. Nossa logística passa pelos rios e eles desapareceram.
Sede na Amazônia
A estiagem histórica exacerbou as desigualdades sociais já presentes com destaque na Amazônia. Comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas e extrativistas, que dependem diretamente dos recursos naturais, sofrem um impacto desproporcional. A escassez de água e alimentos resultante da seca coloca em risco suas vidas e modos de subsistência. É triste ver a região com 20% da água doce do planeta sem água potável para seus ribeirinhos.
Danos educacionais
A falta de água afeta diretamente as escolas, a falta dos rios torna as distâncias proibitivas para as crianças se deslocarem para suas aulas na imensidão amazônica. Tudo isso torna ainda mais difícil para as crianças e jovens continuarem seus estudos. As condições precárias de ensino, combinadas com o deslocamento quase impossível devido à seca, contribuem para uma crise educacional que terá impactos a longo prazo na vida escolar futura dessas comunidades.
Agravamento da pobreza
A agricultura, o extrativismo, a pesca, principais fontes de emprego na região, sofreram enormes perdas devido à seca. Isso levou ao desemprego em dimensões preocupantes, agravando a pobreza nas áreas afetadas. Além disso, o desabastecimento de alimentos básicos afeta a segurança alimentar de toda a população, criando uma situação de emergência humanitária. E a falta de água potável, fazemos questão de insistir, é uma das consequências mais devastadoras da seca.
As comunidades enfrentam a difícil escolha de consumir água contaminada ou percorrer longas distâncias em busca de fontes de água seguras. Isso não só prejudica a saúde, mas também coloca em risco a vida de muitos habitantes da Amazônia.
Modelo insustentável de desenvolvimento
Por fim, a seca torna ainda mais difícil o acesso aos serviços de saúde. As condições climáticas adversas impedem a locomoção e o abastecimento de hospitais e clínicas, enquanto a falta de água dificulta a higiene e a prevenção de doenças. Isso cria uma situação de emergência médica que precisa ser enfrentada sem delongas. Afinal, a seca histórica na Amazônia não é apenas uma questão ambiental, mas sim uma crise humanitária que afeta profundamente a vida das pessoas na região.
É imperativo que a União e os governos locais declarem uma emergência climática e implementem medidas urgentes e sustentáveis para mitigar esses danos da estiagem. O modelo de desenvolvimento insustentável deve ser revisto, priorizando a proteção do meio ambiente e o bem-estar das comunidades que dependem dele para sobreviver. A Amazônia clama por nossa ação, e a hora de agir é agora.
Nelson é economista, empresário e presidente do sindicato da indústria Metalúrgica, Metalomecânica e de Materiais Elétricos de Manaus, conselheiro do CIEAM e vice-presidente da FIEAM.
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