O evento “Diálogos Amazônicos”, encerrado no último domingo (6/8), se desdobrou em duas narrativas distintas. Enquanto autoridades exibiam otimismo pela construção de políticas públicas participativas, as lideranças indígenas demonstraram insatisfação e cobraram medidas concretas.
Em um forte protesto no último dia do evento, manifestantes se opuseram à exploração de petróleo na Amazônia, com atenções voltadas para o pedido da Petrobras de perfurar um poço exploratório no bloco FZA–M–059, localizado na bacia da Foz do Amazonas.
Edmilson Oliveira, cacique do Povo Karipuna e representante do Conselho dos Caciques dos Povos Indígenas do Oiapoque, região diretamente afetada pela decisão da Petrobras, expressou sua preocupação. Ele alegou que a comunidade não foi adequadamente informada e destacou a ausência de diálogo com os Povos Tradicionais. Oliveira insistiu que os territórios indígenas não estão livres de perigo, contrariando as garantias apresentadas.
Durante a abertura dos “Diálogos Amazônicos” na sexta-feira (4/8), a Agência Brasil apontou críticas ao modelo de desenvolvimento que prevalece na Amazônia. Concita Sompre, presidente da Federação dos Povos Indígenas do Pará, condenou veementemente a exploração dos recursos naturais e o enriquecimento de nações estrangeiras à custa da degradação do território indígena.
O célebre cacique Raoni Metuktire se posicionou mais uma vez como a voz de um povo que busca justiça e preservação. Em sua fala, Raoni trouxe à tona um problema que não é apenas dos povos indígenas, mas de todo o mundo: as mudanças climáticas.
As consequências das alterações climáticas, que incluem secas mais severas, inundações, perda de biodiversidade e deslocamento de comunidades, não se restringem apenas às áreas tribais ou ao Brasil. Elas afetam o planeta como um todo, atingindo todas as nações e gerações.
No entanto, para os povos indígenas, a ameaça é ainda mais iminente, pois estão intrinsecamente conectados à terra e dependem dela para sua sobrevivência cultural e física. A demarcação de terras, além de ser um direito ancestral dos povos indígenas, representa também uma maneira de proteger a floresta e, consequentemente, combater as mudanças climáticas.
O cacique Raoni, com sua longa trajetória de ativismo e reconhecimento internacional, aproveitou a ocasião para fazer um apelo direto ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Seu pedido? A urgente demarcação das terras indígenas ainda não oficializadas. Para Raoni e muitos outros líderes indígenas, a demarcação é mais do que uma questão de direitos; é uma necessidade para a preservação da cultura, da biodiversidade e, em última análise, do próprio planeta.
A APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) não se limitou a defender os territórios. Ela solicitou fortalecimento nos projetos de gestão territorial, prejudicados pelo narcotráfico. Para Kleber Karipuna, coordenador executivo da entidade, as propostas representam “novos tempos” para os Povos Indígenas.
Hilário Moraes, coordenador Executivo de Articulação das comunidades quilombolas Malungu, salientou que as soluções discutidas têm potencial global. No entanto, ele sublinhou que a implementação exige cooperação entre todos os países da Amazônia Legal.
Um novo movimento, denominado “Seres e Saberes da Amazônia”, também foi lançado no sábado (5/8). Conforme relatado pelo Brasil de Fato, o movimento visa centralizar a Amazônia nas políticas de desenvolvimento do Brasil, integrando organizações e indivíduos que defendem a população do bioma.
Como resultado dos “Diálogos Amazônicos”, cinco relatórios foram gerados a partir das discussões, que serão posteriormente apresentados aos líderes durante a Cúpula da Amazônia.
Os “Diálogos Amazônicos” deixaram claro: enquanto alguns veem progresso e diálogo, os Povos Indígenas continuam clamando por ação concreta, respeito e reconhecimento
*Com informações da Agência Brasil
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