Uma pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) encontrou uma alternativa sustentável para o isopor: painéis isolantes feitos a partir de folhas de buritizeiro da Amazônia.
Sustentabilidade pode ser definida como a busca pelo equilíbrio entre o suprimento das necessidades humanas e a disponibilidade dos recursos naturais, não comprometendo as gerações futuras, isto é, um desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro.
Esse conceito surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para discutir sobre dois objetivos: o desenvolvimento econômico e a conservação do ambiente.
E foi isso que uma pesquisa realizada na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP) buscou: um substituto sustentável para painéis isolantes térmicos. O resultado é fruto da dissertação de mestrado da aluna Alessandra Silva Batista, do Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais.
A palmeira de espécie Mauritia flexuosa L. é conhecida popularmente como buriti, e tem porte médio, podendo chegar a 40 metros de altura e de 30 a 60 cm de diâmetro. É uma das mais utilizadas na região Amazônica.
A pesquisa identificou um material natural que supera o isopor dos painéis de isolamento: a bioespuma feita a partir das folhas do buritizeiro (Mauritia flexuosa L.), ou buriti, como é conhecida popularmente, uma palmeira nativa da Amazônia.
A motivação do estudo
Painéis estruturais de isolamento térmico são amplamente utilizados na construção civil, principalmente em telhados, devido ao seu baixo custo e a praticidade de se montar. Como são utilizadas espumas sintéticas (isopor) para a construção desses painéis, viu-se a necessidade de se buscar alternativas mais sustentáveis para a sua composição.
Foi então que a pesquisadora identificou que o material natural da região Amazônica conhecido como miriti é um potencial substituto para essas tradicionais espumas sintéticas, devido à sua baixa densidade e alto teor de celulose.
Um painel isolante feito com folhas de palmeira apresenta vantagens sobre os painéis sintéticos, tais como: biodegradabilidade, menor flamabilidade e baixo impacto na extração do material, já que ele provém das folhas.
“Na Amazônia, a palmeira do buritizeiro em si é muito utilizada, ela é fonte de renda, fonte de alimento, pelo fruto, mas hoje é utilizada mais como fonte de renda para artesanato. Então, a gente quer gerar mais valor ao produto (…) É o nosso desejo que toda a cadeia produtiva desse produto seja feita de forma sustentável“, disse Batista.
A bioespuma de folhas do buritizeiro
Para desenvolver a bioespuma, a pesquisadora usou as folhas do buriti, mais especificamente a parte interna do pecíolo da folha, popularmente conhecida na Amazônia como miriti, que tem um aspecto esponjoso. Essa espuma sustentável se mostrou capaz de substituir a camada central de painéis estruturais de isolamento, ou seja, os isopores tradicionais.
“A gente tem a folha e aquela parte que seria a haste da folha, o pecíolo, que possui em sua parte interna um material de extrema leveza que é muito utilizado pelas populações tradicionais para confecção de artesanato. Quando a gente se deparou com esse material nós percebemos o alto valor tecnológico dele”, detalhou a pesquisadora.
Foram avaliadas algumas propriedades mecânicas do miriti e comparadas à norma (exigências mínimas para o material que compõe o núcleo de um painel, como por exemplo, densidade aparente geral) de painéis de isolamento. O núcleo de miriti obteve resultados acima do exigido pela norma, para todas as propriedades analisadas.
A pesquisa concluiu que o miriti, além das vantagens frente aos isolantes sintéticos, apresenta resultados satisfatórios para as propriedades mecânicas avaliadas, comportamento adequado em relação à absorção de água e uma boa resposta térmica quando exposto a diferentes temperatura
Como a bioespuma do buritizeiro é inédita, o produto ainda está em processo de patente pelos pesquisadores da USP, mas a equipe está buscando parceiros para financiar o trabalho junto com a indústria.
Texto publicado em Tempo. com
Comentários