Um levantamento realizado pela renomada editora de artigos científicos e análise de informações, Elsevier, revelou que o Brasil é líder indiscutível em pesquisas sobre a Amazônia. Com base em uma vasta base de dados que compreende milhões de artigos científicos publicados em todo o mundo desde 1975, o estudo apontou que o Brasil é o país com o maior número de publicações sobre o bioma, consolidando-se como a principal referência em investigações científicas amazônicas.
Em 2022, os pesquisadores brasileiros publicaram um impressionante total de 2.617 artigos sobre a Amazônia, mais do que o dobro da quantidade de artigos produzidos pelos Estados Unidos, o segundo país no ranking, que publicou 1.231 artigos no mesmo período. Esse resultado é um reflexo do compromisso do Brasil com a pesquisa e a conservação da maior floresta tropical do mundo.
No entanto, essa liderança brasileira nem sempre foi evidente. Até 2005, os Estados Unidos eram responsáveis pela maioria das publicações relacionadas à Amazônia. A virada ocorreu a partir de 2006, e vários fatores podem explicar essa mudança.
Um dos fatores-chave apontados é a redemocratização do Brasil e a promulgação da Constituição Federal de 1988, que colocou questões ambientais em destaque e as trouxe para o centro do debate político. Além disso, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro em 1992, destacou a responsabilidade dos países na conservação ambiental, impulsionando o interesse por pesquisas na região amazônica.
A criação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, em 1988, também aumentou a relevância do tema da mudança climática global e sua conexão com a destruição da Amazônia. O Plano Real, que estabilizou a moeda brasileira, proporcionou maior estabilidade às instituições de financiamento à pesquisa e às instituições de ensino superior, permitindo um planejamento mais eficaz para a pesquisa científica.
Outro marco importante foi a crescente base de pesquisadores brasileiros dedicados à Amazônia. Já em 1990, o professor Carlos Nobre e seus colegas publicaram pesquisas sobre modelos climáticos que analisavam o desmatamento na região.
Após o Brasil e os Estados Unidos, o Reino Unido, a China e a Alemanha figuram entre os países que mais realizam pesquisas sobre a Amazônia. Notavelmente, a China apresenta um aumento crescente em sua produção científica e poderá superar o Reino Unido nos próximos anos.
Dentro da América do Sul, o Peru e a Colômbia também se destacam entre os países com maior número de publicações sobre o bioma amazônico.
Além disso, o estudo da Elsevier identificou que as universidades e centros de pesquisa brasileiros foram os principais responsáveis pelas publicações entre 2012 e 2021. Das dez instituições mais atuantes no tema, nove estão no Brasil, com a única exceção sendo o Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS), da França.
A Universidade de São Paulo (USP) lidera a lista, com quase 4 mil artigos publicados sobre a Amazônia no período. Em seguida, estão a Universidade Federal do Pará (UFPA), o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e a Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Isso destaca o compromisso das instituições de ensino superior brasileiras com a pesquisa na região amazônica.
Os dados também indicam a crescente relevância das instituições localizadas na região amazônica, como a UFPA, o Inpa e a Ufam, que desempenham um papel cada vez mais significativo na compreensão da complexidade da Amazônia.
A autonomia financeira das universidades estaduais paulistas, como a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), bem como o aumento do orçamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), contribuíram para que a comunidade científica do Estado de São Paulo se dedicasse efetivamente ao estudo da Amazônia.
O aumento das pesquisas brasileiras sobre a Amazônia reflete o compromisso das agências de fomento e o investimento de recursos na ciência. Entre os dez principais financiadores de pesquisas na Amazônia, seis são órgãos nacionais, com destaque para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ambos ligados ao Governo Federal, e as Fundações de Amparo à Pesquisa dos Estados de São Paulo (Fapesp) e do Amazonas (Fapeam).
O estudo da Elsevier confirma o compromisso do Brasil com a pesquisa e a conservação da Amazônia, reforçando sua posição como líder mundial nas investigações científicas sobre esse ecossistema vital.
USP lança Centro de Estudos da Amazônia Sustentável para promover a pesquisa interdisciplinar na região
A Universidade de São Paulo (USP), uma das instituições de ensino superior mais prestigiadas do Brasil, deu mais um passo significativo em direção à promoção da pesquisa interdisciplinar e ao compromisso com o desenvolvimento sustentável da Amazônia, com o lançamento do Centro de Estudos da Amazônia Sustentável (Ceas). Este centro é um dos cinco novos centros temáticos lançados este ano pela USP, com o objetivo de abordar questões relevantes para a sociedade, agregando pesquisadores de diversas áreas.
Sob a coordenação do renomado professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física (IF) da USP, e com a vice-coordenação de Gabriela di Giulio, da Faculdade de Saúde Pública (FSP), o Ceas tem como missão central a produção, integração e disseminação do conhecimento científico. Isso ocorrerá por meio de atividades acadêmicas e científicas interdisciplinares e transdisciplinares relacionadas ao ensino, à pesquisa e à extensão, todas voltadas para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
O Ceas surge em um momento crucial, quando a região amazônica enfrenta desafios ambientais e sociais sem precedentes, incluindo o desmatamento, a degradação florestal, as mudanças climáticas e questões relacionadas à saúde pública. A criação deste centro reflete o compromisso da USP em contribuir de forma efetiva para a compreensão desses desafios e para o desenvolvimento de soluções sustentáveis.
Além do Ceas, a USP lançou outros quatro centros temáticos em 2023, cada um dedicado a uma área relevante de pesquisa:
- Centro de Agricultura Tropical Sustentável (Stac): Concentrando-se na agricultura tropical, este centro tem como objetivo desenvolver práticas agrícolas sustentáveis que respeitem o meio ambiente e promovam a segurança alimentar.
- Centro de Estudos de Carbono em Agricultura Tropical (CCarbon): Este centro se dedica ao estudo do carbono em sistemas agrícolas tropicais, com o objetivo de entender como as práticas agrícolas afetam o ciclo do carbono e as mudanças climáticas.
- Centro de Estudos e Tecnologias Convergentes para Oncologia de Precisão (C2PO): Focado na área da saúde, este centro visa avançar no campo da oncologia de precisão, desenvolvendo abordagens personalizadas para o tratamento do câncer.
- Centro Observatório das Instituições Brasileiras: Este centro tem como objetivo analisar e promover melhorias nas instituições brasileiras, contribuindo para o desenvolvimento político e social do país.
A criação desses centros temáticos demonstra o compromisso da USP com a pesquisa de ponta e a solução de problemas que afetam a sociedade brasileira e global. Além disso, enfatiza a importância da colaboração interdisciplinar na busca por respostas para desafios complexos.
O Ceas, em particular, assume um papel crucial na preservação da Amazônia e no avanço do conhecimento sobre esse bioma vital, que desempenha um papel fundamental no equilíbrio ambiental do planeta. Com sua atuação interdisciplinar, o centro promete ser um catalisador para soluções inovadoras e sustentáveis para os problemas que afetam a região amazônica.
*Com informações JORNAL DA USP
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