O evento MeetUp Acelera reuniu especialistas e inovadores para discutir o futuro da bioeconomia amazônica, com o Programa Prioritário em Bioeconomia (PPBio) desempenhando um papel crucial na promoção da sustentabilidade e desenvolvimento econômico da região.
A castanha-do-Brasil, um produto extrativista proeminente da Amazônia, possui um potencial significativo para impulsionar o desenvolvimento social, a geração de renda, o emprego e a sustentabilidade econômica e ambiental na região. Para alcançar esse potencial, enfrenta-se o desafio de aprimorar a estruturação da cadeia produtiva, a conexão entre os diversos atores envolvidos, e o investimento em pesquisa, inovação e em práticas aprimoradas abrangendo desde a produção até o armazenamento e envase.
A transformação da cadeia da castanha em uma potência global, baseando-se em um modelo de desenvolvimento sustentável e inclusivo, foi o tema central do quarto encontro do ‘Meetup Acelera – edição bioeconomia’. O evento, uma iniciativa do Idesam em parceria com o Impact Hub Manaus e a Fundação Rede Amazônica, visou ampliar a rede de atores no âmbito da Amazônia e ocorreu tanto presencialmente quanto online.
Produção e exportação da Castanha-do-Brasil
Em termos de produção, a castanha-do-Brasil, predominantemente extraída de forma sustentável por comunidades amazônicas, registrou um volume de 38.169 toneladas anuais, conforme dados de 2022 do IBGE. Contudo, uma grande parte dessa produção é vendida in natura e o Brasil exporta apenas uma fração do seu potencial, contrastando com países como a Bolívia, que movimenta cerca de US$ 150 milhões em exportações de castanhas.
Transformação da realidade das comunidades extrativistas
O investimento na cadeia produtiva da castanha poderia significativamente melhorar a vida das comunidades responsáveis pela sua extração e pela conservação das florestas. A Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Acre (Cooperacre), ativa desde 2001, exporta castanhas para nove países e possui duas usinas de beneficiamento, embora opere apenas com metade de sua capacidade devido a limitações de mercado.
Os obstáculos para a comercialização da castanha incluem a presença de aflatoxinas, uma substância tóxica produzida por fungos em condições inadequadas de armazenamento. Além disso, a falta de valorização do trabalho de conservação florestal realizado pelos extrativistas é um gargalo para o fortalecimento da cadeia.
A Comaru, uma cooperativa do Amapá, exemplifica o sucesso alcançado através do trabalho colaborativo. Desde 1992, a cooperativa tem trabalhado na cadeia da castanha, beneficiando o óleo desde 2021. O presidente da Comaru, Bruno Dutra de Freitas, enfatiza a importância da união entre comunidades tradicionais, cooperativas e associações para acessar mercados que valorizam a qualidade do produto. O Coletivo da Castanha e o Observatório da Castanha-da-Amazônia (OCA) são exemplos de iniciativas que fortalecem essa rede colaborativa, facilitando o compartilhamento de informações sobre produção, estoques, comercialização e percepções sobre a cadeia de valor da castanha.
Conexão digital na cadeia da castanha
O Instituto Certi desenvolveu uma plataforma digital para abordar os desafios da cadeia da castanha-do-Brasil. Esta plataforma inclui um hub de marketplace, onde cooperativas e associações da Amazônia Legal podem negociar diretamente com a indústria, e o software “Vende Onde?”, que possibilita a rastreabilidade do produto. Rafael Gomes, representante do instituto, destacou que essas ferramentas digitais agregam valor e geram renda para as comunidades, além de garantir a origem do produto e a segurança do extrativista.
Átila Denys, advogado e economista com ampla experiência em negócios da Zona Franca de Manaus, enfatizou a necessidade de explorar novos caminhos além do modelo tradicional. Como investidor em produtos da sociobiodiversidade, ele mencionou a importância de valorizar produtos sustentáveis, algo já mais reconhecido em mercados estrangeiros. Denys também destacou iniciativas como o Café Apuí Agroflorestal, que utiliza capital privado para apoiar produtores no plantio em Sistemas Agroflorestais, promovendo reflorestamento e geração de renda, além de futuros créditos de carbono para amortizar empréstimos.
Suframa e o fomento à Bioeconomia
Tainara Tenorio, engenheira de operações na Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), explicou como a Lei de Informática e seus subsídios beneficiam a Amazônia Ocidental e o Amapá. Ela informou que os bens de informática representam uma grande parte do faturamento do Polo Industrial de Manaus, gerando uma obrigação de investimento em Bioeconomia, que alcançou R$ 1,77 bilhão em 2022.
Os recursos da Lei de Informática são destinados a aceleradoras, incubadoras, fundos de investimento, startups, Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) e programas prioritários, com fiscalização da Suframa. Para acessar esses recursos, é necessário ser uma unidade credenciada pelo Comitê das Atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (Capda), que inclui representantes do governo federal e dos estados da Amazônia Ocidental. Manaus abriga 56% das unidades credenciadas, enquanto o interior do Amazonas e outros estados da região de atuação da Suframa representam o restante.
Distribuição de recursos pela Suframa em Programas Prioritários
A Suframa, na atualidade, direciona recursos do Comitê das Atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (CAPDA) para cinco programas prioritários, abrangendo diversos setores. Estes incluem Economia Digital (R$ 49 milhões), Recursos Humanos (R$ 49 milhões), Bioeconomia (R$ 95 milhões), Indústria 4.0 (R$ 285 milhões) e Empreendedorismo Inovador (R$ 40 milhões). O Programa Prioritário em Bioeconomia (PPBio), que recebeu uma parcela significativa desses fundos, é coordenado pelo Idesam desde 2019, refletindo o compromisso da região com o desenvolvimento sustentável.
Fomento a novos negócios
Durante a sessão voltada para o Pitch de Novos Negócios, diversas startups apresentaram seus projetos e ideias. Entre eles estavam a Apoena, de Manaus (AM), focada na agroindústria de produtos da sociobiodiversidade e em valorizar as populações tradicionais através de novos processos. Além disso, a Cooperativa dos Agricultores do Vale do Amanhecer (Coopavam), situada em Juruena (MT), que envolve assentamentos e Terras Indígenas, e a Taberna da Amazônia, que conecta pequenos empreendedores da Região Norte com o mercado consumidor nacional através do e-commerce, também marcaram presença. Estes exemplos ilustram a diversidade e inovação presentes na cadeia produtiva da castanha-do-Brasil e na bioeconomia da região.
Confira o evento em:
Com informações do Idesam
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