Contando os investimentos posteriores ao Acordo de Paris – pactos para redução das emissões de gases de efeito estufa – soma-se U$5,5 trilhões realizados pelas 60 maiores instituições financeiras no setor de combustíveis fósseis
O financiamento de combustível fóssil por parte dos 60 maiores bancos do mundo atingiu U$ 5,5 trilhões (R$ 27,1 trilhões) nos sete anos que se passaram desde a adoção do Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global em 1,5ºC, a partir da redução de emissões de gases estufa. Apenas em 2022, as instituições financeiras mundiais injetaram US$ 673 bilhões (cerca de R$ 3 trilhões) em empresas voltadas para a exploração de petróleo e gás natural, mostra um estudo internacional divulgado nesta quarta-feira (14).
Chamado “Bancando o caos climático”, o trabalho é a análise mais completa sobre financiamento de combustíveis fósseis em nível global. Endossada por 634 organizações de 75 países, entre elas Rainforest Action Network, Greenpeace e Fridays for Future, o estudo mostra o quanto os bancos ao redor do mundo estão comprometidos – ou não – com o clima.
Segundo o trabalho, os altos investimentos nas empresas do setor em 2022 aconteceram mesmo elas tendo registrado lucro de US$ 4 trilhões (R$ 19,7 trilhões) no período em questão.
O relatório mostra que, no geral, os bancos dos EUA dominam o financiamento de combustíveis fósseis, respondendo por 28% do total financiado em 2022. O JPMorgan Chase continua sendo o pior financiador mundial do caos climático desde o Acordo de Paris, mostra o trabalho. Citi, Wells Fargo e Bank of America ainda estão entre os 5 principais financiadores fósseis desde 2016.
Contraditoriamente, muitas instituições financeiras adotaram nos últimos anos compromissos de emissões zero como abordagem para enfrentar a crise climática. Dos 60 bancos analisados no relatório, 49 estabeleceram, desde 2021, algum tipo de meta de descarbonização, seja pela Aliança Bancária por Zero Emissões Líquidas (NetZero Banking Alliance, NZBA, em inglês), liderada pela ONU, ou por iniciativa própria.
“Nossa análise das políticas de financiamento de combustíveis fósseis e compromissos de emissões líquidas zero por todos os 60 bancos mostra que, apesar da linguagem de “net zero” adotada, as políticas dos bancos poderiam estar fazendo mais para que eles pudessem se alinhar com os compromissos climáticos globais”, diz o relatório.
O trabalho mostra também que os investimentos em combustíveis fósseis ainda continuam altos, mesmo quando cientistas de todo mundo urgem para a necessidade da transição energética para matrizes mais limpas.
Usando como justificativa a possível falha no fornecimento de energia na Europa, devido à guerra entre Rússia e Ucrânia, empresas exploradoras de gás natural conseguiram aumentar em 50% o financiamento em 2022, quando comparado com 2021. Isso aconteceu mesmo tendo a maioria dos especialistas concordado com o fato de que a expansão do GNL na Europa é desnecessária e novos projetos só contribuirão para um excesso de oferta e dependência desse combustível no longo prazo.
Para o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, os critérios “obscuros e duvidosos” dos compromissos empresariais de Net Zero e as narrativas falsas enganam consumidores, investidores e reguladores. “[Isso] Alimenta a cultura da desinformação climática e deixa a porta aberta para o greenwashing”, disse Guterres em meados de março, por ocasião do lançamento do último relatório do IPCC.
O banco espanhol Santander lidera o financiamento para empresas que extraem petróleo e gás no bioma Amazônico, seguido pelo banco americano Citi, mostra o trabalho. O total investido para tal fim totalizou US$ 769 milhões (R$ 3,8 bilhões) em 2022.
Fonte: O Eco
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