As ararajubas, com suas vistosas plumagem amarela e toques de verde-oliva nas pontas das asas, é mais do que apenas uma bela ave da Amazônia: é um símbolo da natureza e da luta pela preservação da biodiversidade.
Sua brilhante coloração, embora encantadora, também se tornou sua maior vulnerabilidade. Durante anos, a ave foi alvo de tráfico de animais silvestres. Isso, combinado à contínua perda de habitat, resultou na redução drástica da população de ararajubas. Estima-se que apenas alguns milhares de indivíduos ainda voem pelos céus da Amazônia, bioma onde são originárias.
No Pará, onde aproximadamente 80% da população da espécie está concentrada, o cenário é ainda mais sombrio. Há um século, a capital, Belém, chegou a declarar a ararajuba extinta em sua região.
O renascimento e a esperança
Contudo, não é o fim para estas aves luminosas. Um programa de reintrodução, conduzido pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-bio) e pela Fundação Lymington, com o fundamental apoio do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP), está em andamento para trazer a ararajuba de volta aos céus do Pará.
Esse esforço conjunto de organizações e instituições visa não apenas restaurar a população da ave na região, mas também sensibilizar a população sobre a importância da preservação da biodiversidade e dos perigos do tráfico de animais silvestres.
Em um mundo onde histórias de extinção são comuns, o retorno da ararajuba pode ser um brilho de esperança para a Amazônia e para todos aqueles que acreditam na coexistência harmônica entre seres humanos e a natureza.
Projeto de reintrodução dá nova vida às ararajubas na região metropolitana de Belém
Desde 2018, um programa de reintrodução desenvolvido no parque, liderado pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio) e pela Fundação Lymington, tem trabalhado para trazer de volta essa espécie ameaçada. Em apenas alguns anos, cerca de 50 aves foram reintroduzidas na natureza, apesar das interrupções devido à pandemia da Covid-19.
“Os resultados são um lembrete da vitalidade das Unidades de Conservação. Elas preservam ecossistemas e permitem um uso sustentável dos recursos por populações tradicionais,” expressa Karla Bengtson, presidente do Ideflor-Bio.
Origens e adaptação
As aves reintroduzidas têm diversas origens: muitas vêm da Fundação Lymington, focada na reprodução da espécie; outras são resgatadas do tráfico ou liberadas de zoológicos e criadores. Atualmente, 27 ararajubas habitam o local: 11 em vida livre e 16 em fase de adaptação.
Marcelo Vilarta, biólogo responsável pelo projeto, detalha o processo de adaptação. As aves são alocadas em dois viveiros. No viveiro da esquerda, acolhem-se os novos chegados, enquanto o da direita, que imita seu habitat natural, é o passo final antes da soltura.
A ameaça continua
Vilarta alerta para a contínua atração das ararajubas, o que pode potencializar o tráfico. “Elas são irresistíveis, o que atrai aqueles que desejam retirá-las da natureza”, lamenta. A esperança é que a criação de áreas protegidas e o fortalecimento da fiscalização reduzam essa ameaça.
As ararajubas, pertencentes à família dos psitacídeos, são aves endêmicas da Amazônia brasileira, com uma população estimada entre 3 mil a 10 mil indivíduos, embora esse número esteja em declínio. Sociáveis e colaborativas, têm comportamentos distintos que facilitam sua identificação. Alimentam-se principalmente de sementes e frutos, como açaí e murici. Em contraste com araras maiores, sua expectativa de vida é de cerca de 40 anos.
Desde o início do projeto, apenas um casal se reproduziu, um sinal dos desafios contínuos que a espécie enfrenta. Vilarta acredita que o aumento de movimentação no parque, que foi reaberto ao público em 2018, pode ter impactado a reprodução.
Apesar dos obstáculos, o projeto tem sido considerado um sucesso. Para Vilarta, do ponto de vista ecológico, vale todo o esforço. “Estamos dando a essas aves a chance de desempenhar seu papel na natureza e fortalecer a população da espécie”, conclui.
*Com informações O ECO
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