Em meio ao aquecimento global, as águas oceânicas, uma vez refrescantes, estão se tornando surpreendentemente quentes, lembrando caldeirões ferventes em alguns locais. O arquipélago de Florida Keys, nos Estados Unidos, tem experimentado temperaturas oceânicas comparáveis às de banheiras de hidromassagem, impactando seriamente a vida marinha e levantando questões cruciais sobre a saúde de nossos ecossistemas.
Segundo relatórios da Reuters, uma boia de medição de temperatura da água no Parque Nacional de Everglades, especificamente em Manatee Bay, registrou uma temperatura máxima de 38,44°C na tarde de segunda-feira, 24 de julho. Outras boias nas proximidades indicaram temperaturas próximas, chegando a 38°C e 32°C.
Estes números estão bem acima das temperaturas médias esperadas para a área nesta época do ano, que normalmente variam entre 23°C e 31°C, de acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOAA).
O Guardian destacou que essas temperaturas recordes podem ser sem precedentes, apontando para um estudo de 2020 que indicava a temperatura mais alta já registrada anteriormente em água do mar sendo de 37,61°C, no Golfo Pérsico.
As ondas de calor que afligem os oceanos estão se tornando mais frequentes e intensas, devastando a vida marinha e potencialmente alterando os ecossistemas de maneira irreversível. Estudos de 2019 constataram que o número de dias de ondas de calor oceânicas triplicou nos últimos anos. Uma dessas ondas de calor, ocorrida em 2021, provavelmente causou a morte de mais de 1 bilhão de animais marinhos ao longo do Pacífico do Canadá, afirmam especialistas.
Em resposta a essas “águas escaldantes”, cientistas em Florida Keys realocaram cerca de 1.500 espécimes de corais para tanques em terra, na tentativa de preservá-los. O laboratório marinho do Instituto de Oceanografia da Flórida da Universidade do Sul da Flórida está abrigando esses corais, coletados de viveiros offshore e colônias-mãe.
Não só a Flórida está sendo impactada por essa mudança drástica. O Mar Mediterrâneo também está enfrentando temperaturas recordes. Na segunda-feira, 24 de julho, as águas atingiram 28,71°C, superando o recorde anterior de 28,25°C registrado em 2003, conforme reportado pelo Euronews.
O aquecimento do Mediterrâneo pode gerar chuvas intensas não apenas no sul da Europa, mas em grande parte do continente. Isso pode ocorrer nos meses de outono e inverno, quando o Mar Mediterrâneo libera o calor retido.
O impacto do aquecimento global nos oceanos ainda é um território pouco explorado, com mais de 80% dos mares ainda não mapeados ou observados. Nathalie Zilberman, oceanógrafa da Universidade da Califórnia em San Diego, aponta para a falta de dados como uma barreira significativa para a compreensão das alterações em curso nos oceanos profundos. Isso inclui um enigma intrigante: um pedaço de gelo marinho do tamanho da Argentina que parece ter desaparecido do Oceano Antártico.
A intensificação das condições extremas nos oceanos do mundo destaca a urgência em entender e combater as causas do aquecimento global. A saúde dos oceanos é uma questão de sobrevivência para muitas formas de vida, incluindo a nossa.
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