O presidente da França, Emmanuel Macron, garantiu sua reeleição no último domingo (24/4), depois de enfrentar uma disputa mais acirrada do que o esperado com sua adversária de extrema-direita, Marine Le Pen. A vitória de Macron foi bastante celebrada na Europa não apenas por barrar uma eventual chegada de protofascistas ao poder em Paris, mas também por garantir um pouco mais de estabilidade política à União Europeia, que enfrenta os reflexos da guerra entre Rússia e Ucrânia.
O resultado da votação na França também foi uma sinalização ao Brasil, que aguarda há pelo menos dois anos pela aprovação do acordo comercial entre Mercosul e União Europeia pelos países do bloco europeu. A França de Macron tem sido um dos principais obstáculos nesse processo, com o presidente agora reeleito se posicionando repetidas vezes contra o acordo sob a justificativa de que ele trará concorrência desleal de produtores rurais na América do Sul, que não sofrem as mesmas restrições ambientais de seus contrapartes europeus.
Como Jamil Chade observou no UOL, Macron tende a endurecer sua posição neste tema depois das eleições, já que se comprometeu durante a campanha em reforçar a atuação do governo em temas de meio ambiente e clima. Isso coloca um problema não apenas para o Mercosul, mas também para a UE, que entende que o acordo é extremamente vantajoso para os interesses econômicos do bloco.
Ainda assim, se o objetivo do Brasil é aprovar o acordo com a UE, a vitória de Macron pode ter sido uma boa notícia. Como lembrou o cientista político Thomás de Barros, da Sciences Po, à RFI, Le Pen seria um obstáculo político ainda mais substancial ao processo por conta de sua postura protecionista. Não à toa, no debate realizado na semana passada, antes da votação, Macron e Le Pen concordaram com a rejeição do acordo Mercosul e UE, ainda que por motivos diferentes – Macron pelas questões ambientais, Le Pen pelo protecionismo.
Outro analista da SciencesPo, Gaspard Estrada, comentou ao Valor que o avanço do acordo Mercosul-UE depende mais das ações do Brasil e de seus parceiros sul-americanos do que dos franceses e europeus. “O que pode destravar o nó sobre o acordo é que haja um acordo político entre os líderes. Não podemos esquecer que a conclusão das negociações foi anunciada com Jair Bolsonaro e Macron no poder, antes dos problemas políticos. Tudo pode terminar também com acordo, mas para isso é preciso ter pessoas na mesa com vontade de negociar”.
Fonte: ClimaInfo
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