“A situação hoje é como a que se vivia nas décadas de 1970 e 1980. Hoje estamos com mais de 20 mil garimpeiros dentro da Terra Yanomami, com total inação do governo e impunidade”, lamentou Luís Ventura, do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), ao jornalista Carlos Madeiro no UOL.
A evolução do garimpo ilegal na reserva Yanomami reflete, em boa parte, o panorama das políticas socioambientais no Brasil nas últimas quatro décadas: do descontrole total na virada dos anos 1980 e 1990, passando pela diminuição da atividade nos anos 2000, até a retomada a partir de 2017.
O novo garimpo, no entanto, tem algumas características que o diferencia daquele visto no final do século passado: ao invés do “garimpo artesanal”, autônomo, o empreendimento garimpeiro dos anos 2020 é muito mais sofisticado em equipamentos e material, e movimenta um volume muito maior de recursos financeiros – e, por tabela, de armas. Mais poderoso em termos econômicos e políticos, o garimpo espalha terror e violência entre os indígenas, tomando inclusive infraestrutura pública necessária para o atendimento médico das comunidades, como pistas de pouso e postos de saúde.
“Não adianta fazer operações”, disse Maurício Yekwana, da Hutukara Associação Yanomami, à jornalista Renata Lo Prete no podcast O Assunto, do g1. “Tem que ter investigação de inteligência para poder ver quem são as pessoas que estão financiando [o garimpo]. Se a gente quebrar ou prender esses financiadores, o garimpo quebra”. Na entrevista, ele também ressaltou uma preocupante aproximação entre grupos associados a facções criminosas com jovens indígenas.
A omissão do governo federal no combate ao garimpo na Terra Yanomami fez com que a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) ingressasse com mais uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) pedindo garantias de proteção às comunidades indígenas por parte das União. No documento, a APIB ressalta a conivência do presidente da República e de seus aliados “com os crimes cometidos pelo garimpo em Terras Indígenas, o que provocou uma nova onda de migração de garimpeiros para os locais de extração de minerais”. JOTAe UOL deram mais informações.
Em tempo: O garimpeiro Eliézio Monteiro Neri foi preso na última 5a feira (5/5) em Boa Vista (RR), em uma ação conjunta da Polícia Federal com a PM roraimense. Condenado pela Justiça por crime de genocídio contra uma comunidade Yanomami, Neri estava foragido desde 2018, quando o Tribunal Regional Federal (TRF) da 1a Região emitiu mandado de prisão. O crimeaconteceu em julho de 1993 na região de Haximu, na fronteira entre Brasil e Venezuela: em retaliação à morte de dois garimpeiros (que, antes disso, tinham executado quatro indígenas), os criminosos invadiram a aldeia e executaram 12 indígenas, incluindo cinco crianças, três adolescentes e três mulheres. Outros quatro garimpeiros – João Pereira de Morais, Pedro Emiliano Garcia, Juvenal Silva e Francisco Alves Rodrigues – também foram condenados entre 19 a 20 anos de prisão pelo episódio, o primeiro a ser considerado pela Justiça brasileira como um caso de genocídio. Folha e g1 repercutiram a notícia.
Fonte: Clima Info
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