Uma das principais reivindicações dos servidores da Fundação Nacional do Índio, que anunciam greve a partir de hoje (23/6), é a saída do presidente da FUNAI, o delegado da PF, Marcelo Augusto Xavier da Silva.
Os argumentos para a saída dele estão em artigo publicado nesta quarta (22/6), na Folha, e assinado por Angela Kaxuyana e Maria Emília Coelho, ambas da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB).
Ferrenho defensor dos interesses de Bolsonaro, Silva – como o ex-antiministro Ricardo Salles – age na direção oposta à função para a qual foi designado desde que assumiu o cargo, em 2019, a de proteger e zelar pelos Direitos dos Povos Indígenas. A lista de desmandos é longa e envolve boicote à demarcação de Terras Indígenas, perseguição a funcionários concursados e lideranças indígenas e militarização da FUNAI, só para citar alguns.
A tensão entre a FUNAI e a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (UNIVAJA) – explicitada durante as buscas por Bruno Pereira e Dom Phillips, quando Silva também tentou desqualificar os até então desaparecidos – não é de hoje. Em junho do ano passado, o Amazonas Atual já noticiava as investidas de Silva contra a UNIVAJA, tentando incriminar indígenas críticos ao presidente Jair Bolsonaro em denúncias oferecidas ao Ministério Público Federal. Na ocasião, a acusação era descumprimento à “quarentena da COVID-19” (sic). O mesmo veículo, reproduzindo conteúdo da Folha, mostra que Silva recorreu até à Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) contra a entidade.
Matéria da Mongabay relembrou que a sanha de Silva contra a UNIVAJA, bem como sua tentativa de desqualificação contra Bruno e Dom, tiveram de ser freadas na Justiça, quando um juiz federal do Amazonas ordenou à FUNAI que retirasse as acusações. A matéria também apresenta dados sobre a violência crescente na região do Vale do Javari.
Como cereja do bolo, matéria da agência de jornalismo investigativo Sport Light, assinada por Lúcio de Castro, apontou o enriquecimento de empresas recém-abertas que fecharam contratos milionários, da noite para o dia, como fornecedoras da FUNAI na gestão de Silva. As empresas estariam ligadas a bolsonaristas. A batata está assando, e o cheiro não é nada bom.
Em tempo: A jovem ativista indígena Txai Suruí ergueu no palco do Cannes Lions 2022 um cartaz com os dizeres “Salve a Amazônia” (em inglês). O festival é o principal da publicidade em todo o mundo. O evento não previa discursos. Ela foi convidada a receber o prêmio Leão de Ouro para a agência África pela peça “O Jatobá Refugiado”, vencedor da categoria Outdoor. “As pessoas precisam entender que perder a Amazônia significa não ter mais planeta, [o] que afetará a todos”, afirma Txai. O caso foi noticiado pela Folha e pelo Conexão Planeta.
Texto publicado originalmente em Clima INFO
Comentários