O aperto financeiro dos brasileiros parece não ter fim. Depois de anos de crescimento diminuto e renda achatada, a disparada da inflação está corroendo o poder de compra das famílias. Dois fatores contribuem decisivamente para o encarecimento do custo de vida no Brasil: os aumentos do preço dos combustíveis e da tarifa elétrica. O efeito cascata disso abrange praticamente toda a economia. Na Folha, Alexa Salomão trouxe dados de uma análise da TR Soluções que projetam um aumento de pelo menos 12% na tarifa elétrica residencial na média do país, quase quatro pontos percentuais acima do reajuste do ano passado (8%), sem considerar a variação tributária e de bandeira tarifária. A conta ficará mais pesada para os consumidores no Nordeste: a previsão é de aumento tarifário de 17%. No Ceará, a mordida já está sendo sentida pelos clientes: a principal distribuidora elétrica do estado confirmou reajuste superior a 24%.
A escalada da tarifa elétrica desafia consumidores residenciais, indústrias e o poder público. Por um lado, a eletricidade mais cara pode tornar a inflação ainda mais descontrolada, dificultando a vida dos brasileiros mais pobres. Por outro lado, eventuais mudanças na estrutura da tarifa elétrica, tal como esboçadas pelo Congresso Nacional nos últimos meses, podem trazer insegurança jurídica ao setor, afastando investidores e dificultando a atração de potenciais compradores para a Eletrobras, por exemplo. Para piorar, como lembrado ontem aqui, a tarifa pode ficar ainda mais cara por conta das usinas termelétricas contratadas sob regime de urgência no ano passado, com valores muito superiores aos praticados pelo mercado.
Ao mesmo tempo, o aumento do preço da gasolina e do diesel também está pesando no bolso dos brasileiros. Aqui, o governo federal demonstra maior preocupação – afinal, além da importância dos combustíveis para o escoamento da produção, essa pauta é importante entre os caminhoneiros, grupo que pode causar problemas políticos sérios ao atual presidente da República caso façam um repeteco do locaute de 2018.
A troca no comando do ministério de minas e energia, encabeçado pelo novo ministro Adolfo Sachsida, intensificou a pressão do Palácio do Planalto sobre a Petrobras para mudar a política de reajuste de preços. A alternativa, no entanto, ainda está no campo das ideias: como noticiado pela Folha, o próprio presidente rejeitou a possibilidade de o governo fazer um tabelamento de preços, opção que especialistas sustentam que pode resultar em problemas de abastecimento no país. Outras ideias, como a criação de um fundo de apoio para subsidiar o preço dos combustíveis, tropeçam na matemática financeira necessária para sua viabilização.
A falta de opções concretas não impede o governo de ampliar seus ataques à direção da Petrobras. De acordo com Malu Gaspar n’O Globo, o Planalto vislumbra trocar não apenas o presidente da empresa, José Mauro Coelho, mas também três diretores das áreas financeira, tecnológica e de relações institucionais. O curioso é que, tirando o primeiro, os dois últimos não têm rigorosamente nada a ver com os reajustes de preço. Entre executivos e funcionários da Petrobras, a movimentação é vista como uma tentativa do presidente de fazer aquilo que ele tanto criticou nos governos passados: o aparelhamento político da estatal.
Outro flanco do ataque governista à Petrobras está no CADE, que analisa possíveis práticas anticoncorrenciais da Petrobras. O governo tem a expectativa de que uma decisão do órgão forçe a empresa a mudar sua política de preços sem precisar “sujar as mãos”, por assim dizer. No entanto, em entrevista à Folha, o superintendente-geral do conselho, Alexandre Barreto, afirmou que o órgão “não tem competência para disciplinar a política de preços da Petrobras e não pode determinar a ela ou a qualquer empresa que pratique preço A ou B”.
Fonte: Clima INFO
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