Não há fim de crise sem esperança no futuro. Não há progresso sem otimismo. Se seguirmos a vender o medo, o caos e a ameaça de crises, teremos que cuidar para não ficarmos em uma verdadeira crise eterna, enquanto aqueles que as apreciam se aproveitam.
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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2022 foi um ano repleto de crises, de brigas, de ataques e de poucos aspectos positivos. Quando eles surgiam, tinham um “que” de falsidade. Renunciamos aos nossos propósitos comunitários e ficou frequente tratar verdadeiro e falso como coisas iguais, como se fosse necessário provocar confrontos. Foram muitas falsidades propagadas, com um contraditório ausente, desnecessário ou cansativo. Foram tantos os destaques para mentiras, que se ampliou enormemente a falta de contato com a realidade de uma parcela expressiva da população.
Com isso, o debate público empobreceu e foi inundado por mensagens falsas, exaustivamente repetidas. Com este ambiente, faltaram diálogos. Tivemos abundantemente conversas nas quais só um falava, sem nenhuma motivação para ouvir ou acolher o outro. Os debates, quando feitos, reforçavam os discursos sabidamente falsos, porque se deu muito espaço ao falso. Foi um ano difícil.
Houve ainda a expectativa de respostas fáceis e rápidas para problemas complexos. Muita falácia e unguentos como remédios para a cura de todos os males. Da mesma forma, com pouco espaço para a inclusão de ideias alternativas. Usou-se de tudo para validar as falácias – menos argumentos sólidos. Igualmente, sem repúdio do falso e cansando a todos com contraditórios inúteis ou inexistentes.
Assim, ficamos, de crise em crise, sem a esperada euforia – que ainda não veio – pelo fim das máscaras, pelo fim das centenas de mortes diárias por Covid-19 e por diferentes motivadores que deveriam trazer a esperança, que foi sutilmente subtraída em 2022. Aliás, se estivermos atentos, veremos que em todos os lados acontece uma tentativa de destruição de qualquer raio de esperança.
2022 terá sido assim para todos? Não acredito. Foi um ano com uma quantidade enorme de boas notícias, de desenvolvimentos pessoais, de criação de oportunidades, mas isso quase não ocupou o espaço público – pois nele há, atualmente, uma enorme afeição pela destruição. Os “mercados”, que só parecem satisfeitos quando há desgraça e o autoritarismo de suas ideias, também estão em constante concordância ou discordância incondicional nos relacionamentos institucionais, seguindo em sua eterna “crise”.
Não há fim de crise sem esperança no futuro. Não há progresso sem otimismo. Se seguirmos a vender o medo, o caos e a ameaça de crises, teremos que cuidar para não ficarmos em uma verdadeira crise eterna, enquanto aqueles que as apreciam se aproveitam. Sempre que há guerra, existe alguém vendendo armas, poucos vencedores e muitos vencidos.
O que realmente tivemos em 2022 foi uma grande prosperidade para quem conseguiu transcender o falso. A problemática é que a prosperidade precisa ser para mais pessoas, pois só assim haverá desenvolvimento. Fora disso é uma derrota coletiva e uma crise que nunca acaba, salvo para os vendedores de crises, que seguirão prósperos.
Oxalá em 2023 encontraremos uma rota alternativa, retomando o diálogo público e construindo verdades compartilhadas e compartilháveis.
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