A ZFM, portanto, agrega ao PIB do Amazonas cerca de US$ 7,5 bilhões a cada ano. Para substituir o programa ZFM por outra atividade – a questão colocada pela visão liberal do atual governo – é preciso que esta nova matriz econômica seja capar de agregar este valor para evitar prováveis transtornos no tecido social. Anotações de Jaime Benchimol – Maio 2022
Edição Alfredo Lopes
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Segundo a Fundação Getúlio Vargas, nos estudos interdisciplinares realizados pela Escola de Economia de São Paulo, Zona Franca de Manaus – impactos, efetividade e oportunidades, são gerados em Manaus 500 mil empregos, entre diretos e indiretos, de acordo com os dados do IBGE e da RAIS. Em 2021, Manaus faturou em torno de Us$ 29 bilhões.
Considerando que se tratou um ano de pandemia, é um faturamento substantivo. E quanto desse faturamento pode ser considerado valor agregado, ou seja, salários, impostos, serviços que são comprados aqui, os lucros dos investidores que moram na cidade… Vamos voltar aqui às anotações do economista Jaime Benchimol, feitas no Seminário promovido pela PanAmazonia, realizado no início de Maio. Seus cálculos, elaborados com parceiros da área econômica, permitem afirmar que 25% do faturamento do Polo Industrial de Manaus é o valor agregado localmente.
A ZFM, portanto, agrega ao PIB do Amazonas cerca de US$ 7,5 bilhões a cada ano. Para substituir o programa ZFM por outra atividade – a questão colocada pela visão liberal do atual governo – é preciso que esta nova matriz econômica seja capar de agregar este valor para evitar prováveis transtornos no tecido social.
Substituir a ZFM parece fácil, difícil é gerar os empregos que ela oferece. Para uma comparação imediata com uma indústria que gera 10% dos empregos pelo mundo afora em tempos sem pandemia, o turismo, uma atividade que, no último ano sem COVID-19, o Brasil inteiro faturou US$ 6 bilhões em 2019, somando os recursos pagos pelos turistas, investimentos e resultados obtidos. Ou seja, se todos os turistas tivessem vindo a Manaus e gasto, aqui em Manaus, tudo o que eles gastaram no Rio de Janeiro, na Bahia, em Nova Iguaçu, Nordeste, Sul e Centro-Oeste, todos os estados brasileiros não seriam suficiente para substituir o programa Zona Franca de Manaus.
Foi feita, também, uma estimativa de comparação entre o faturamento de soja e o da ZFM. Os dados estão contaminados pela conjuntura mundial deste momento, mas há alguns anos, toda a exportação de soja brasileira, não só de grãos, mas de farelo e de óleo etc… não seria suficiente para repor o faturamento da ZFM. Em suma, diz Jaime Benchimol, teremos dificuldades para encontrar modulações substitutivas para esse programa de redução das desigualdades regionais.
A tese de mestrado de Jaime Benchimol versou sobre a ZFM, em 1980, na Universidade de Berkeley/Califórnia. E nela ele destaca que Manaus tem uma vocação econômica baseada na industrialização, inserindo em seus estudos os aspectos históricos de sua revisão bibliográfica. Ali o mestrando destaca um dado curioso. Em 1967, quando foi assinado o Decreto-Lei 288/67, criando a ZFM, Manaus contava com 173.000 habitantes e 8700 empregos industriais, isto é , 5% da população era empregada nas indústrias remanescentes do Ciclo da Borracha.
E quais eram essas indústrias? Na ocasião, as fábricas eram chamadas também de usinas, tanto de castanha, borracha, sova, balata, pau rosa, beneficiamento de madeira, curtume de couro… Os bairros da Cachoeirinha e do Educandos eram o nosso Distrito Industrial e nós empregávamos 5% da população de Manaus. Outros tantos nós empregávamos no interior, era muita gente no beiradão amazônico na coleta, triagem e transporte desses produtos.
Perdemos esta conexão, um vínculo que estamos precisando reconstruir em outros moldes. Cabe, ainda, observar que, nos anais da contabilidade pública, vamos descobrir que 1975 foi o melhor ano da Zona Franca de Manaus. E na relação de empregos industriais nós tínhamos quase 15% da população empregada no Distrito Industrial. Com a automação e a eficiência fabril que se ganhou nas indústrias no mundo inteiro, isso não foi só aqui, esses empregos foram diminuindo gradativamente. Esta proporção anotada em em 2012, quando contabilizamos 120.000 empregos industriais, segue em queda.
Em 2021, foram 103.000 empregos diretos, que representam 4,6% da população, mesmo multiplicando-se valor por 5, para descrever os empregos indiretos. No mundo inteiro a indústria está perdendo a capacidade de gerar empregos com a robotização, com automação e a obsolescência tecnológica. Basta ver a questão da telefonia celular, que está devorando os produtos que nós produzíamos há bem pouco tempo, uma lista deles, como aparelho de som, computador, relógio, calculadora, videogame, GPS, câmara fotográfica e os próprios televisores. Os itens estão migrando para dentro do telefone celular. E qual o problema se nós produzimos os telefones celulares? O problema é porque o valor não está no telefone celular. Um telefone celular que custa R$ 5.000,00, é muito mais barato do que todos os outros produtos, pois o valor está no aplicativo, no software. Pois quem substitui a calculadora não é propriamente o telefone celular é o aplicativo do telefone celular quem substitui o GPS é o software e nós não produzimos, ou produzimos minimamente, isto é, sem expressividade esses itens tecnológicos. Essa tendência não será revertida facilmente, por isso temos que pensar outros formatos de geração de empregos e oportunidades.
Quais são as alternativas do turismo?
Nós temos o Teatro Amazonas, construído no período da borracha, há mais de 120 anos. Temos o Encontro das Águas, não foi construído por ninguém, foi Deus nos legou, e temos o Festival dos Bumbás de Parintins, três grandes âncoras turísticas. Fora isso, algumas outras pequenas atrações sem maiores chamamentos, como os hotéis de selva, temos alguns museus, Navios de cruzeiro e possibilidades de fazermos teleféricos para apreciação da floresta. Para comparação, vejamos Costa Rica, um país que tem 30º da área do Amazonas, 50.000 km². O Amazonas tem 150.000 Km². A Costa Rica tem 12 parques temáticos com teleféricos, nós não temos nenhum. Não temos um aquário, apesar de possuirmos mais de 3.000 espécies de peixes, nem sei quando conseguiremos construir algum.
Temos exemplares magníficos de aquários em Gênova, São Francisco, Nova Orleans, na Coreia. Por que deixamos escapar essas oportunidades de reter o visitante, tornar essa região um destino melhor, mais envolvente e fascinante. Temos uma vocação ainda maior, pois estão aqui todas as áreas de canoagem, de pesca de triatlo, de corridas off road, observação de pássaros, de orquídeas… Vejamos o caso de de Cingapura, um país que tomou em suas mais as rédeas do seu destino, e o Estado de Roraima, que construiu alguns belos parques. Os dois lugares precisam ser estudados em sua capacidade de mostrar suas maravilhas, incluindo a genialidade de seis gestores, em transformar atrações turísticas em recursos para a gestão socioeconômica do lugar. Voltaremos
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