Entrevista com Augusto Barreto Rocha
“Se a estupidez prevalecer não sobrevive, não tem como sobreviver porque o modelo é muito frágil. O arranjo da Zona Franca é muito fragilzinho”. A declaração é de Augusto Barreto da Rocha, diretor adjunto da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), professor da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), articulista do Amazonas Atual e parceiro do portal Brasil Amazônia Agora ao ser questionado sobre os riscos que ameaçam o principal modelo econômico e de desenvolvimento regional da Amazônia. ” É muito fácil destruir a Zona Franca”.
Barreto foi o convidado desta quarta-feira (19) do programa O A da Questão, transmitido pelas redes sociais do ATUAL. Em pouco mais de 51 minutos ele falou sobre as dificuldades e os desafios para a manutenção da Zona Franca. “O ser humano sempre pode ser mais estúpido. Se nós formos estúpidos, a Zona Franca não sobrevive”, reforçou.
Barreto fez uso de metafóra para alertar sobre os riscos do modelo, comparando a situação da ZFM com o cultivo de plantas. “É muito difícil fazer arranjos fáceis. Quem já plantou algo na vida sabe. E a nossa plantinha da Zona Franca de Manaus precisa do solo fértil, do sol certo, da água certa, de tudo certinho”.
Ele indica que a fraqueza está na segmentação concentrada e a saída de uma pequena parcela de empresas decretaria o fim do modelo econômico. “Se nós pegarmos três sub-setores é 80% do faturamento. Se nós pegarmos 15 empresas é 80% do faturamento”.
A Zona Franca impacta na receita pública não só para o Amazonas, mas para todo o Brasil e a receita pública é o que sustenta o serviço público e a saúde pública, de acordo com o professor.
“A gente precisa esclarecer isso, debater isso, defender isso”, alerta, e lembra que o Amazonas, com a força da Zona Franca, arrecada mais do que recebe. “É importante perceber que apesar de ser Zona Franca de Manaus, talvez seja uma ‘zona do fisco’, porque mais arrecada do que investe”.
Para Augusto Rocha o poder decisório dessas empresas fora do Brasil e de Manaus aumenta a vulnerabilidade da Zona Franca. “Para essas empresas, tanto faz se elas produzem aqui ou na China ou na Costa Rica. Não há essa preocupação. As grandes multinacionais vão estar onde for mais interessante. O processo decisório é derivado de uma decisão de gestão tomada fora do Brasil”.
Ao analisar a redução de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), Barreto criticou as decisões do governo federal.
“A Zona Franca de Manaus depende de diferencial fiscal para se viabilizar. Ao reduzir a alíquota do IPI equânime como se o Brasil fosse um país igual, e nós somos profundamente desiguais, nós desconhecemos um fato da realidade, que é a desigualdade da região norte, da região de Manaus e do Amazonas em relação ao restante do Brasil”.
O professor diz que se o direcionamento do governo federal prevalecer, pode significar a extinção da Zona Franca de Manaus.
“Infelizmente é o que eu leio nas declarações [do governo federal e equipe econômica], nas portarias, nos pequenos documentos. Há um grupo de pessoas que defende que a industrialização tem que ficar só no Sudeste. Se eu tenho uma visão de mundo que a ciência atrapalha, eu vou asfastar a ciência, afastar a universidade, afastar o empresariado nacional”.
Confira a entrevista, na íntegra:
Fonte: Amazonas Atual
Comentários