A Zona Franca de Manaus precisa corrigir as deficiências históricas da região para sobreviver. Ao mesmo tempo, é necessário pensar em novas atividades produtivas que garantam a saúde financeira do Amazonas, afirma o professor Augusto César Barreto Rocha, da Ufam (Universidade Federal do Amazonas), em entrevista ao programa “A da Questão”, do ATUAL, na quarta-feira (18).
“Essas deficiências são logísticas, educacionais, de representatividade e de conectividade das indústrias com a natureza. Uma das saídas está na forma diferenciada de desenvolvimento para o interior do estado, conforme potencialidades específicas”, diz Augusto Rocha. Ele cita o turismo em alguns municípios como alternativa à indústria.
Para o professor, que é engenheiro civil, o modelo Zona Franca “não pode ser eterno, tem que ser um modelo com data finita”. E sanar essas deficiências é primordial para acabar com a dependência de decisões que vêm de fora do estado.
“A Zona Franca de Manaus depende de um diferencial fiscal para se viabilizar, porque temos uma série de deficiências históricas que não são sanadas. A ZFM está há muitos anos, mas não se enfrenta os grandes desafios de como sanar as deficiências da região”, diz.
As falhas atrapalham o desenvolvimento não só de Manaus, como de todos os municípios do Amazonas, afirma Augusto Rocha. “São fatores sistêmicos. Logística é um deles. Nós não temos infraestrutura abundante aqui. Falta estrada, faltam portos, falta custo competitivo para transportes. Isso é um aspecto”.
Cesar Rocha cita o impasse sobre a BR-319 (Manaus-Porto Velho/RO). O reasfaltamento de trecho da rodovia é apenas promessa que passa de governo para governo.
Augusto Rocha, que também é diretor da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), aponta falhas na capacitação profissional adequada. “Nós temos deficiências do sistema educacional. Faltam pessoas abundantes dentro da formação necessária para o tipo de indústria da Zona Franca de Manaus”.
Outro desafio que Augusto Rocha cita é a necessidade de construir uma indústria vinculada com a natureza da Amazônia e integrada aos fatores industriais. “O rompimento de deficiência é de infraestrutura, de energia, é de educação e é também de vinculação com a floresta, para que a gente seja uma indústria sem essas ‘amazonidades’, sem essas questões amazônicas presentes”, diz o professor.
De acordo com Augusto Rocha, a saída é enfrentar e resolver os problemas e usar os recursos das florestas remunerando as comunidades tradicionais. “É preciso dialogar para chegar a um meio termo, respeitando o meio ambiente e a sociedade local porque tipicamente ignoramos a sociedade local, ignoramos a sociedade amazonense”, afirma.
“Quando Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro, Londres, Nova York, Tóquio fazem juízo de valor sobre a Amazônia é predatório. É um juízo de valor de guardar para um uso futuro, um futuro que nunca chega. Ou de usar e usurpar as riquezas para levar para outro lugar do mundo. Como se fosse um banco, mas que é só para os interesses de fora da região”, diz Augusto.
Mas, para alcançar resultados, é necessário ação e vontade. “A problemática é que a gente nunca faz o nascente do próximo passo. Nunca faz o nascente do rompimento da deficiência da infraestrutura e nunca faz o nascente da indústria de tecnologia com base nos recursos regionais”.
Como exemplo, ele defende o desenvolvimento dos municípios do interior conforme suas potencialidades, sempre com a exigência de melhorias na infraestrutura. “É possível ter turismo de pesca em Barcelos, desque que houvesse aeroporto, voo fácil, conexão imediata com voos internacionais, hotéis…”
“Teria que se eleger cinco projetos estratégicos para o interior e usar os recursos que já existem, como o FTI [Fundo de Fomento ao Turismo, Infraestrutura, Serviços e Interiorização do Desenvolvimento], uma contribuição feita pela indústria”, defende.
O programa A da Questão é transmitido ao vivo todas as quartas-feiras pelo canal de YouTube e pelo perfil no Facebook do Amazonas Atual
Fonte: Amazonas Atual
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