Investimento federal em Ciência e Tecnologia retrocedeu mais de uma década durante atual governo. MTCI foi pasta com maior volume bloqueado em 2022
Estava anunciada como uma “palestra sobre Inovação, Tecnologia e Empreendedorismo no Brasil – ministrada pelo Presidente da República”. Mas a visita de Jair Bolsonaro a São José dos Campos, nesta quinta-feira (18), se resumiu a discurso e agenda de campanha.
São José é sede do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e do Parque Tecnológico, referência em inovação no país. O tema da palestra que seria ministrada pelo presidente chamou a atenção de pesquisadores residentes na região e também da imprensa.
Mas durante os poucos minutos em que falou, Bolsonaro focou seu discurso no que ele considera como resultados positivos da sua gestão. Sobre o tema do evento, se limitou a dizer que “o país que não investe em ciência e tecnologia está condenado a ser escravizado por outro país”.
Em outro momento, também contrariando o que a ciência recomenda sobre o controle da pandemia da Covid-19, Jair Bolsonaro exaltou o fato de ser “o único chefe do mundo que foi contra o ‘fica em casa’ que a economia a gente vê depois”. A ovação que recebeu da plateia, majoritariamente composta por apoiadores, corrobora o pensamento negacionista do presidente.
A realidade sobre o setor, no entanto, não tem sido aplaudida nos últimos anos.
Segundo estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) no final de 2021, os investimentos federais em Ciência e Tecnologia, que já vinham caindo desde 2015, chegaram ao seu menor valor em mais de uma década durante o Governo Bolsonaro. Em 2009, foram investidos no setor R$ 19 bilhões. Em 2020, esse valor era de R$ 17,2 bilhões, em valores corrigidos pela inflação do período.
Outro levantamento, do Observatório do Conhecimento, publicado em 2022, mostrou que o Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (CNPq), ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, teve uma queda de 49,7% no valor orçamentário de 2015 para cá.
Já a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), ligada ao Ministério da Educação, teve corte de 42,6% entre 2014 e 2021.
Capes e CNPq são os dois principais órgãos públicos que financiam pesquisas e oferecem bolsas a pesquisadores para que eles realizem seus estudos.
Além deles, outros importantes órgãos de ciência e tecnologia sofreram cortes significativos, como o próprio INPE, que tem vivido os últimos anos em contenção extrema de despesas.
Em 2022, os investimentos em Ciência chegaram a subir, mas sofreram novamente com o contingenciamento imposto pelo Governo Federal no decorrer do ano. O Ministério da Ciência e Tecnologia foi a pasta com maior volume de recursos bloqueados no Orçamento de 2022. Só no MCTI, o corte foi de R$ 2,5 bilhões
A visita ao Parque tecnológico constava na agenda oficial de Bolsonaro para esta quinta-feira. Após a “palestra”, o presidente seguiu em motociata para um evento de campanha.
Segundo o Sindicato dos Servidores da área de Ciência e Tecnologia, SindCT, ao invés de usar a agenda oficial para divulgar resultados que não condizem com a realidade, Jair Bolsonaro deveria “refletir” sobre seus próprios erros.
“O negacionista que fez uso da palavra neste dia 18 poderia, talvez, refletir o quanto errou em seu mandato, avaliar o mal que causou ao país e quem sabe, inspirado no Ministro Marco Antonio Raupp, que dá seu nome ao Auditório que o recebeu, possa finalmente entender que Ciência não é crença que possa ser manipulada com fake news, é trabalho, é construção, é investimento e dedicação de homens e mulheres que, mais que uma crença, têm compromisso com a verdade”, disse o Sindicato, em nota.
Fonte: O Eco
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