Pesquisa revela que a pegada climática da empresa superou as emissões da Itália ou Espanha
Uma nova pesquisa descobriu que a JBS, maior empresa de carnes do mundo, aumentou suas emissões de gases de efeito estufa em 51% nos últimos cinco anos. Com o aumento, a empresa é agora responsável por emissões superiores à pegada climática anual da Itália e da Espanha.
As novas informações foram obtidas pelo Institute for Agriculture and Trade Policy usando uma metodologia aprovada pela ONU em parceria com a ONG Feedback e site de investigação DeSmog. De acordo com a pesquisa, as emissões anuais de GEE da empresa saltaram de 280 milhões de toneladas (mmts) em 2016 para cerca de 421,6 mmts em 2021.
Isto é mais do que a pegada climática anual da Itália ou da Espanha e próxima à da França (443 mmt) e do Reino Unido (453 mmt). É aproximadamente equivalente às emissões da gigante dos combustíveis fósseis Total em 2020.
Com operações em 20 países que vão do Brasil aos EUA e faturamento anual recorde de 76 bilhões de dólares, a JBS processou 26,8 milhões de bovinos, 46,7 milhões de suínos e 4,9 bilhões de frangos somente em 2021.
“O fato de que uma única empresa de carne pode causar mais poluição do que um país membro do G7 inteiro deveria ser um alerta de que precisamos de uma escala maciça de proteínas vegetais e cultivadas, e precisamos delas agora”, alerta Alex Wijeratna, Diretor de Campanha da Mighty Earth.
Investidores e clientes
Uma coalizão de ONGs – incluindo o Institute for Agriculture and Trade Policy (IATP), Feedback e Mighty Earth – expressou indignação com o aumento vertiginoso das emissões JBS. A coalizão está instando os investidores e clientes da JBS a abandonarem a empresa sediada no Brasil.
“Nenhuma empresa que compra carne da JBS pode alegar ser séria sobre a mudança climática”, diz Alex Wijeratna, Diretor de Campanha da Mighty Earth.
Entre os principais investidores da JBS estão o brasileiro BNDES, a BlackRock, e os bancos Barclays e Santander. Seus principais clientes no setor de varejo incluem os gigantes dos supermercados Carrefour, Costco, Tesco, Walmart e Ahold Delhaize. No setor de fast food, seus clientes incluem o McDonald’s, Burger King e KFC.
Carina Millstone, diretora executiva do Feedback, disse: “Já é hora de bancos e investidores, muitos dos quais adotaram suas próprias metas ‘net-zero’, de se comprometeram a acabar com o desmatamento, deixando de bancar o caos climático e a destruição da natureza, colocando um tampão de seu apoio financeiro à tóxica JBS e suas subsidiárias”.
Promessas vazias
Apesar da promessa de alcançar emissões líquidas zero até 2040, os planos da empresa anunciados no ano passado fornecem poucos detalhes e têm sido planejados, segundo ambientalistas, para omitir as chamadas emissões do ‘Escopo 3’ – que representam até 97% da contribuição da JBS para a mudança climática.
As emissões do Escopo 3 abrangem a poluição de toda a sua cadeia de fornecimento: gases potentes de efeito estufa como o metano emitido pelo gado, assim como as emissões do desmatamento, incêndios florestais e conversão de terras, além da produção de ração animal, fermentação entérica e o uso de agroquímicos.
Hazel Healy, editora britânica de notícias de investigação climática DeSmog, disse que a JBS está usando as mesmas táticas de greenwash empregadas pelas grandes empresas de petróleo e gás durante décadas.
“Ela se apresenta como uma empresa com genuína ambição climática, mas não revela suas emissões totais para que elas possam ser comparadas com as comunicações públicas da empresa. E como esta pesquisa mostra, as emissões da JBS estão aumentando substancialmente, não diminuindo”, diz Healy.
Em 2018, o Institute for Agriculture and Trade Policy, estimou que as emissões da JBS eram aproximadamente metade das emissões de grandes empresas petrolíferas como BP, Shell ou ExxonMobil.
“Precisamos de sistemas públicos, independentes e responsáveis para monitorar as emissões destas empresas. Os governos precisam intensificar e regular estas empresas e apoiar uma transição para fora deste modelo destrutivo de produção pecuária industrial”, explica Shefali Sharma, diretora européia do Institute for Agriculture and Trade Policy.
Pecuária e emissões de GEE
O último relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) destacou as emissões de metano relacionadas à pecuária, recomendando que elas sejam reduzidas em um terço até 2030, a fim de manter o aumento da temperatura global a 1,5ºC.
No entanto, as emissões da JBS devem saltar ainda mais, pois ela persegue planos agressivos de expansão e busca acesso a maior financiamento por meio de uma possível listagem em uma bolsa de valores dos EUA.
Corrupção e desmatamento
Lançado juntamente com as revelações da IATP sobre emissões da JBS, um novo relatório sobre a empresa da Mighty Earth – chamado The Boys From Brazil – destaca como a JBS usou corrupção e enormes subsídios governamentais para financiar seu crescimento internacional.
O relatório destaca que a JBS foi responsável por cerca de 1,5 milhões de hectares de desmatamento em suas cadeias de suprimentos indiretos no Brasil desde 2008 e adverte que a JBS, atingida por escândalos, quebrou repetidamente suas promessas de acabar com o desmatamento na Amazônia ou de conservar outros ecossistemas-chave, como o Cerrado e o Pantanal. Ela também conta uma longa história de propinas, cartel de preços, invasão de terras indígenas, exploração de trabalhadores, escravidão moderna e poluição ambiental.
“A JBS é um dos piores infratores climáticos do mundo e é por isso que estamos incitando seus principais clientes, como os supermercados gigantes Carrefour, Costco e Tesco, a abandonarem urgentemente a JBS”, disse Alex Wijeratna, Diretor de Campanha da Mighty Earth.
Fonte: ClimaInfo
Comentários