O ouro que vem sendo extraído ilegalmente de áreas de proteção ambiental e territórios indígenas amazônicos não está enriquecendo ninguém da região. Pelo contrário: toda a população acaba arcando com as consequências econômicas, sociais e ambientais da atividade, com o lucro nas mãos de poucos e poderosos criminosos.
Uma análise do Instituto Socioambiental (ISA) tornou mais evidente esse quadro. O estudo comparou o Índice de Progresso Social (IPS) dos municípios mais afetados pelo garimpo na Amazônia com a média da região e do resto do país.
O IPS é um indicador internacional que combina três dimensões (necessidades básicas de sobrevivência, fundamentos do bem-estar, e oportunidades) por meio de uma série de referências sociais e ambientais.
De acordo com o levantamento, o IPS médio dos municípios garimpeiros é de apenas 52,4 pontos, menor do que a média registrada para toda a Amazônia (54,5) e bem abaixo da média nacional (63,3).
Registro de piores números de garimpo
No recorte local, os municípios com registro de garimpo com os piores números do IPS são Jacareacanga/PA (46,83 pontos), Amajari/RR (47,44), Alto Alegre/RR (47,87) e Trairão/PA (48,81); estes quatro municípios possuem IPS ao menos 10% menor que a média da Amazônia e 24% inferior à nacional.
Em toda a Amazônia Legal, cerca de 6 milhões de pessoas, espalhadas em pelo menos 216 municípios, sofrem com os efeitos do garimpo ilegal. Além do desmatamento e da perda de biodiversidade, essas comunidades também são impactadas pela intensificação da violência armada e pela contaminação por mercúrio e outras substâncias utilizadas na exploração do ouro. Os grupos mais vulneráveis são os Povos Indígenas, que lutam para evitar o avanço dos garimpeiros em suas terras, muitas vezes de forma fatal.
“O avanço da área degradada pelo garimpo, além de ampliar os impactos ambientais e reduzir as condições para o progresso social, gera enormes gastos públicos como, por exemplo, despesas para o sistema de saúde, segurança pública, assistência social e fiscalização ambiental”, comentou o pesquisador Antonio Oviedo, do ISA, um dos autores do estudo.
A Folha de Boa Vista e o Portal Amazônia repercutiram as informações.
Em tempo 1: Quase 100 indígenas da etnia Munduruku receberam no começo do mês os resultados de exames de sangue realizados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) para detectar a concentração de mercúrio nos seus organismos. Uma análise parcial já tinha revelado que todos os indígenas analisados possuíam níveis de mercúrio muito acima do seguro; no entanto, os resultados finais são ainda mais preocupantes.
Aproximadamente seis em cada dez participantes da pesquisa apresentaram níveis de mercúrio acima de 6 µg/g, que é o limite máximo aceitável de segurança estabelecido por agências de saúde. O Projeto Colabora deu mais detalhes.
Em tempo 2: O Parque Estadual Cristalino II, na divisa entre Mato Grosso e Pará, é uma das Unidades de Conservação mais ameaçadas da Amazônia brasileira. Com sua criação judicializada, a proteção ambiental tem sido mais formal do que prática. Um reflexo disso está na quantidade de pedidos para pesquisa e exploração mineral dentro da reserva: de acordo com O Globo, o número de requisições aumentou 126% neste ano, com 61 pedidos até aqui – quase o triplo de todas as requisições feitas nos últimos anos (27). Desse total, pelo menos três autorizações provisórias de funcionamento foram concedidas a propriedades rurais que ficam dentro do parque.
Texto publicado originalmente em CLIMA INFO
Comentários