Um cenário que vai nos permitir vislumbrar a Democracia de que precisamos para nortear os destinos do país.
Por Alfredo Lopes
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E a FIESP, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, assinou o Manifesto de 11 de Agosto, a favor da Democracia, numa atitude que ilustra o compromisso da sociedade com a manutenção das instituições, sua estrutura e funcionamento no Estado Democrático. Mais do que isso, sinaliza que planejar, empreender e construir uma nova ordem social – mais justa e mais fraterna – é tarefa impossível em clima de perplexidade, ou seja, de insegurança jurídica e institucional. Os aplausos à decisão da FIESP traduzem tão somente a exaltação coletiva em favor da Democracia, uma atitude da mais vigorosa entidade de classe do país, linha de frente da economia, que reúne a elite do setor privado e 30% dos estabelecimentos industriais do Brasil. É lamentável que o país, com tantas dificuldades estruturais, precise passar pelo constrangimento da polarização que empurra o interesse nacional para lados opostos num momento em que interlocução nacional precisaria de alinhamento em torno dos gargalos de infraestrutura, segurança jurídica e reforma administrativa. Seria o momento mais urgente de priorizarmos o que nos une e relegar a segundo plano a mesquinharia que nos separa.
Costume de casa vai à praça
Os adágios da população são fonte de sabedoria. Se ensaiarmos a interlocução colaborativa no cotidiano de nossas entidades, sem sombra de dúvidas estaremos influenciando outras aglomerações de classe. E qual seria o papel das entidades de classe no contexto civil senão representar os interesses e a visão de mundo de seus associados? Eles representam o microcosmo fabril das relações corporativas que as entidades de classe gerenciam. Daí a importância e necessidade da rotatividade constante de seus dirigentes para que sejam asseguradas as vantagens do exercício democrático no interior dessas instituições. Este exercício permite a circulação de ideias, valores, críticas e responsabilidades. A alternância do poder significa a revitalização das instituições e de suas atribuições no interior do tecido social e empresarial.
A saída dialogada
Enquanto o debate político não avança por conta da polarização, o cotidiano do CIEAM, faz da interlocução um instrumento do amadurecimento institucional. Como se trata de uma entidade que representa os interesses das empresas instaladas no Amazonas, particularmente aquelas que vieram para cá a convite do governo brasileiro, uma de suas prioridades tem sido estreitar o diálogo com a sociedade. Para isso, é fundamental alinhar internamente os pilares, argumentos e realizações que dão amparo a este programa de desenvolvimento regional. Muitas empresas estão aqui há mais de meio século, para empreender o desafio da redução das constrangedoras desigualdades entre o Norte e o Sul do Brasil em troca de compensação tributária. Para mau humor dos opositores deste programa, no curto, médio e, provavelmente no longo prazo, nenhuma modulação econômica substituiria o Polo Industrial de Manaus. Portanto, a despeito das pressões e questionamentos obscuros de setores empresariais de outras regiões, ou daqueles que a eles se associam, para denegrir este programa, ele seguirá em frente. Isso porque, muitos brasileiros – lúcidos e comprometidos pelo conhecimento de nossa realidade – reconhecem a Zona Franca de Manaus como o maior acerto de política fiscal par reduzir desigualdades regionais na história da República. A saída, pois, é o diálogo.
Democracia e civismo
Dois episódios a registrar. O primeiro diz respeito à primeira reunião da Diretoria dos Associados do CIEAM, dirigida por uma Mulher, em caixa alta, a empresária Régia Moreira Leite, empreendendo em Manaus há 20 anos, com dignidade, talento e espírito público. Conselheira da entidade, Régia dirige o movimento voluntário da entidade, a Ação Social Integrada da ZFM, formado para atender os desassistidos da pandemia, que levou o Brasil e nossa região a recuar seus padrões de desenvolvimento humano e de segurança alimentar a padrões de extrema vulnerabilidade. Um trabalho meritório, efetivo e que ilustra o alcance da responsabilidade das entidades de classe da indústria no Amazonas. Clareza de propósitos, dinamismo, tomada de decisões ponderadas e efetivas em momentos de crise, em suma, sabedoria e acolhimento, são algumas das suas contribuições ao universo masculino e ao interesse da sociedade e da maior distribuição das oportunidades.
Novas trilhas e avanços
Outro fato dessa entidade da Indústria foi desembarcar em Brasília para ilustrar, no final da missão, a diferença entre narrativas espetaculosas e interlocução colaborativa. Acompanhado de Saleh Hamdeh, que dirige o Observatório da ZFM em Brasília, o presidente do CIEAM, Luiz Augusto Rocha, percorreu os gabinetes do poder público federal de onde emanam orientações e decisões de governança do programa ZFM. A Suframa está a caminho da autonomia administrativa a largos passos como autarquia responsável pela gestão da contrapartida fiscal, a Superintendência da Zona Franca de Manaus, SUFRAMA. Apesar de seu Conselho Administrativo ser dirigido pelo Ministério da Economia, sua conduta tem construído autonomia pelo rigor e densidade de suas iniciativas. É certo que do ME vieram as decisões governamentais que obrigaram a mobilização institucional dos atores locais – a bater na porta da Suprema Corte – para resguardar a sobrevivência do Polo Industrial de Manaus. Isso, porém, não inibiu os avanços. Ou seja, uma eloquente demonstração de narrativa de política fiscal para redução de tributos sobre a indústria do Amazonas que vai diluindo com uma interlocução sadia e fundada no interesse do país. Este é o caminho, o melhor caminho para alcançar os objetivos de proteção da totalidade e das partes envolvidas em contexto de brasilidade. Proteger a economia do Amazonas é fugir das narrativas e priorizar a interlocução.
Narrativa de intenções e interlocução de propósitos
Diziam os antigos, “o inferno está cheio de boas intenções” para traduzir o desfecho das boas narrativas, estéreis e enganosas. Considere-se aqui a teologia assertiva segundo a qual o inferno é o lugar para onde deveriam ir aqueles que não sabem amar o próximo nem a Lei que deveria proteger a todos. No caso da telegovernança da ZFM, são sempre alvissareiras as notícias, propósitos e promessa de que, por exemplo, a segurança jurídica é um valor sagrado ou uma premissa intocável. E que ninguém pode estar acima dos dispositivos constitucionais. Essas narrativas cumprem o papel de impressionar seus ouvintes. Mas não é bem assim que funciona. A interlocução, quando fincada na relação direta com a alteridade efetivamente responsável pela decisão, ela compromete, se situa no tempo e no espaço, tem cronograma, agenda, métricas, metas, resultados e avaliação. Oxalá, essa diferença possa ser – nos dias que correm – o parâmetro de identificação das narrativas eleitoreiras em contraponto à interlocução, olho no olho, que permita ao representado criar vínculos de compromisso e de responsabilidade com seu candidato a representante. Um cenário que vai nos permitir vislumbrar a Democracia de que precisamos para nortear os destinos do país.
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