Em alusão ao Dia do Meio Ambiente, celebrado em todo o mundo na data de 5 de junho, propomos ao conselho de Administração do Idesam a difícil tarefa de eleger três pautas prioritárias para a agenda ambiental brasileira. O termo ‘difícil’, aplicado aqui à tarefa, não reflete dificuldade em encontrar temas que precisam de imediata atenção; pelo contrário, são tantos temas urgentes e necessários que se torna, no mínimo, desafiador escolher apenas um. Mas por algum lugar devemos começar.
Como você verá ao longo da leitura, todos estão conectados, e isso se assemelha muito à forma de atuação do Idesam, que desenvolve um trabalho importante em diversos elos das cadeias de valor amazônicas. Os mais críticos podem afirmar que seria mais simples direcionar esforços em um ponto específico desse complexo ecossistema, mas, a Amazônia é, por essência, o contrário de simples. A maior biodiversidade do planeta propõe desafios tão complexos que, ao resolver uma solução aqui, já precisamos redirecionar a atenção ao elo seguinte, pois parar não é uma opção para as milhões de famílias que dependem da floresta para sobreviver.
“Prover a humanidade com alimentos saudáveis e sem veneno”
– Elisa Wandelli, bióloga e doutora em Biologia Tropical, pesquisadora da Embrapa, fundadora do movimento SOS Encontro das Águas e vice-presidente do Conselho de Administração do Idesam
A agricultura convencional no Brasil é a principal causadora do desmatamento e, consequentemente, é a principal causadora das mudanças climáticas que já estamos sofrendo em todos os setores da sociedade com eventos extremos, diminuição da sociobiodiversidade e falência dos próprios sistemas agroalimentares demandantes de agrotóxicos e adubos sintéticos. No entanto, agricultores, movimento sociais, cientistas e instituições para a agricultura sustentável e meio ambiente do mundo todo experimentam a Agroecologia, com suas associações entre conhecimentos científicos e tradicionais, como a propulsora de sistemas agroalimentares que não envenenam o solo, o ar e as águas e capazes de recuperar áreas degradadas, respeitar todas as formas de vida, gerar o bem viver comum e prover a humanidade com alimentos saudáveis e sem veneno.
A execução de políticas públicas ligadas à educação e à saúde do campo, assistência técnica e extensão rural, segurança alimentar e nutricional, pesquisa e fomento são urgentemente necessárias para que mais experiências, como as que o IDESAM desenvolve com agroflorestas agroecológicas, agroindústrias agroflorestais, uso sustentável da sociobiodiversidade e articulação das políticas públicas e Redes de Agroecologia sejam fortalecidas.
O papel do cidadão como consumidor de produtos orgânicos e demandante de políticas públicas para a Agroecologia é também fundamental para que a forma predatória como a humanidade produz seus alimentos e se alimenta possa a ser transformada em uma agricultura geradora de vida.
“Valorização dos Sistemas Agroflorestais e Segurança Alimentar”
– Neliton Marques, Engenheiro Agrônomo e doutor em Entomologia Agrícola, é professor titular de Ciências Agrárias da Ufam e presidente do Conselho de Administração do Idesam.
A humanidade no mundo inteiro tem assistido ao agravamento dos eventos extremos resultantes, em grande parte, das mudanças climáticas. Na Amazônia não é diferente. Seus efeitos sobre a produção agrícola têm contribuído para impactar a segurança alimentar. Dinamizar novos modelos e sistemas de produção agrícola, a exemplo dos sistemas agroflorestais (SAFs), é uma necessidade inadiável, enquanto estratégia de adaptação e mitigação a essas mudanças.
Os SAFs proporcionam conforto térmico aos agricultores e atribuem maior sustentabilidade aos solos e aos aspectos fitossanitários das plantas cultivadas. Porém, sabemos que isso é insuficiente se não vier acompanhada de ações de fortalecimento de novas cadeias de valor, que valorizem os produtos da agrobiodiversidade amazônica e promovam a melhoria da qualidade de vida dos povos da floresta e populações ribeirinhas.
Ao celebrar o dia mundial do meio ambiente temos que focar nosso olhar para a produção de alimentos com sustentabilidade e, a consequente diversificação das cadeias de valor como forma de melhorar o padrão de renda e de segurança alimentar do planeta.
“Povos Indígenas e comunidades tradicionais protegidos”
– Muriel Saragoussi, Engenheira Agrônoma pela ESALQ e doutora em Fisiologia vegetal, fundadora da Fundação Vitória Amazônica (FVA) e membro do Conselho de Administração do Idesam
Vivemos em uma época difícil, assustadora, de muitas mudanças – nas relações sociais, nas relações econômicas e de trabalho, no clima. Vivemos em uma época de muita violência, com pessoas armadas, no sentido figurativo e no sentido literal.
Tristemente, parte da população acredita em ideias equivocadas de que o desenvolvimento da Amazônia passa pela destruição de seus ecossistemas e sua substituição por monoculturas, pastagens e mineração. Nada mais longe da verdade, ainda mais no contexto das mudanças climáticas onde a simples existência de nossa floresta ajuda na resiliência em todo o planeta.
Povos Indígenas e comunidades tradicionais têm acumulado experiências de uso sustentável dos recursos naturais da Amazônia. No entanto, seus territórios, seus direitos e suas vidas têm sido atacados por todos os lados: pelo desmonte dos órgãos que deveriam levar as políticas públicas a eles, pelas mudanças nessas políticas e na própria legislação para impedir que seus direitos se realizem, pelas ameaças de violência física e mesmo de morte de suas lideranças.
Estas pessoas precisam urgentemente ser protegidas contra seus agressores, contra os agressores do meio ambiente. A sobrevivência da Floresta Amazônica, do seu papel no clima global e do uso de seu potencial em favor de toda a humanidade depende do trabalho destas pessoas, de sua vida e de seus conhecimentos.
Ser humano é proteger a vida dos defensores de direitos humanos e da floresta – é urgente, é agora!
Fonte: IDESAM
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