Por Fidel Forato
O sintoma mais conhecido da varíola dos macacos (monkeypox) são as erupções na pele, mas a doença também pode apresentar outras marcas características e complicações mais sérias. A partir de surtos anteriores, a ciência já conhece algumas complicações graves da doença, como a cegueira e a encefalite — quadro de inflamação no cérebro causado por um vírus.
Apesar da existência do risco, é preciso explicar que não serão todos os pacientes infectados que terão estas complicações. “Os casos que podem levar a cegueira e inoculação do vírus no olho não acontecem em todo mundo. Mas, de todas as sequelas da varíola dos macacos, talvez, seja a mais comum”, explica Clarissa Damaso, virologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e assessora do comitê da Organização Mundial da Saúde (OMS), para o jornal Folha de S. Paulo.
Varíola dos macacos pode evoluir para cegueira
Considerada uma complicação rara, a cegueira pode ser um desdobramento para os pacientes da varíola dos macacos. Publicado no periódico Boletim da OMS, um estudo verificou a relação entre alguns casos da doença e a perda da visão na República Democrática do Congo, entre os anos de 1981 e 1986.
Participaram do estudo 338 voluntários, sendo que 245 foram infectados pela varíola dos macacos através do contato com animais. Além disso, outros 95 pacientes foram contaminados pelo contato entre humanos. A cegueira afetou cerca de 10% do grupo que contraiu o vírus de um animal. Enquanto isso, a taxa da sequela foi estimada em 5% para aqueles que foram infectados a partir do contato humano.
Segundo Damaso, os problemas oculares podem ocorrer quando uma pessoa toca em alguma erupção — que foi causada pela varíola dos macacos — e depois leva a mão para o olho, sem adotar nenhuma forma de higienização.
Conjuntivite também pode ser um sintoma
A conjuntivite — uma inflamação na membrana do olho — também pode ser um dos sintomas da varíola dos macacos em humanos e é uma das possíveis explicações para a cegueira. Publicado na revista científica The International Journal of Infectious Diseases (Ijid), um estudo observou que 23% dos pacientes desenvolvem este tipo de sintoma, a partir de casos coletados no Congo, entre 2010 e 2013.
Esse é um dos tipos de complicações oculares que podem afetar pacientes contaminados pela varíola dos macacos e, em surtos anteriores, foi verificada com mais frequência em crianças com menos de 10 anos. “Os casos de varíola dos macacos com conjuntivite correm risco de [formação de] cicatrizes, que podem causar a cegueira”, detalham os autores.
Quadros raros de encefalite
A encefalite também pode ser considerada uma complicação rara da varíola dos macacos, segundo relato de caso, publicado na revista científica The Journal of Infectious Diseases.
O caso de encefalite associado com a varíola dos macacos ocorreu, em 2003, no primeiro surto da doença nos Estados Unidos. No estudo, os médicos acompanharam os casos de dois adultos e uma criança, após serem infectados pelo monkeypox. Apenas a criança desenvolveu a inflamação no cérebro, considerada grave, enquanto os outros apresentaram apenas as erupções na pele.
“É raro, porém temos que estar atentos. Pode acontecer, como já ocorreu nos surtos prévios”, conta Marzia Puccioni, professora da Escola de Medicina e Cirurgia da Unirio e do programa de pós-graduação em doenças infecciosas e parasitárias da UFRJ.
Fonte: Ijid, The Journal of Infectious Diseases, Folha de S. Paulo e OMS
Texto publicado em Canal Tech
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