Estudo do IEEFA mostra que quase 90% da capacidade de CCS proposta no setor de energia falhou no estágio de implementação ou foi suspensa antecipadamente
Por Nayara Machado – EPBR
Carbono
Projetos de captura de carbono com baixo desempenho superam os bem-sucedidos em todo o mundo e por grandes margens, mostra um estudo do Instituto de Economia da Energia e Análise Financeira (IEEFA, na sigla em inglês).
Os principais problemas orbitam em torno de tecnologia e estrutura regulatória, ou a falta dela.
O IEEFA destaca que quase 90% da capacidade de captura e armazenamento de carbono em larga escala (CCS) proposta no setor de energia falhou no estágio de implementação ou foi suspensa antecipadamente. Além disso, a maioria dos projetos não conseguiu operar nas taxas projetadas.
“Como resultado, a meta de redução de emissões de 90% geralmente reivindicada pela indústria tem sido inalcançável na prática”, diz o relatório.
O grupo, que reúne analistas da Ásia, Austrália, Europa e América do Norte, estudou 13 projetos de CCS e de utilização e armazenamento (CCUS) nos setores de gás natural, indústria e energia — representando cerca de 55% da capacidade operacional atual em todo o mundo.
Sete deles tiveram desempenho inferior, dois falharam e um foi desativado.
“A tecnologia CCS existe há 50 anos e muitos projetos falharam e continuaram a falhar, com apenas alguns funcionando”, conta Bruce Robertson, um dos autores do relatório.
Para o analista, os achados acendem um alerta para empresas e governos que estão contando com essa tecnologia para alcançar suas metas de emissões líquidas zero.
“Embora haja alguma indicação de que possa ter um papel a desempenhar em setores difíceis de reduzir, como cimento, fertilizantes e aço, os resultados gerais indicam uma estrutura financeira, técnica e de redução de emissões que continua superestimada e com desempenho inferior”.
Entre os projetos de baixo desempenho estão:
- Shute Creek, da ExxonMobil nos EUA, que ficou cerca de 36% abaixo de sua capacidade de captura de carbono ao longo de sua operação;
- Boundary Dam, da estação de carvão da SaskPower no Canadá, em cerca de 50% abaixo da capacidade;
- e o projeto Gorgon, para CCS associada à produção de gás natural liquefeito, da Chevron na costa da Austrália Ocidental, com desempenho também inferior a cerca de 50% em seus primeiros cinco anos.
Já os dois projetos de maior sucesso estão no setor de processamento de gás — Sleipner e Snøhvit na Noruega.
“Isso se deve principalmente ao ambiente regulatório único do país para empresas de petróleo e gás”, diz o coautor Milad Mousavian.
Outro ponto crítico é o armazenamento. É preciso encontrar reservatórios adequados e monitorar o CO₂ preso no subsolo por séculos para garantir que não volte à atmosfera.
Solução climática?
Em 2021, mais de 100 novas instalações CCUS foram anunciadas pelo mundo, levando a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) a estimar que a capacidade global de captura de CO₂ possa quadruplicar nos próximos anos.
Atualmente, o mundo tem projetos com capacidade de capturar cerca de 40 milhões de toneladas de CO₂. E a IEA indica que é preciso chegar a 1,6 bilhão de toneladas em 2030 para colocar o mundo no caminho de emissões líquidas zero até 2050.
Ou seja, o tempo é curto e há um longo caminho pela frente, muito recurso a ser investido, e ainda solucionar questões tecnológicas e regulatórias.
Embora esteja na agenda de governos e empresas intensivas em emissões, a exemplo da indústria de óleo e gás, os pesquisadores apontam que a captura de carbono não é exatamente uma solução climática e tem servido para recuperação aprimorada de petróleo.
“Hoje, mais de 70% dos projetos de captura de carbono são, na verdade, projetos de recuperação aprimorada de petróleo usados para produzir mais óleo e gás, resultando em mais emissões de gases de efeito estufa”, critica Robertson.
GNL em alta
Seca na China pode apertar o mercado de GNL, prevê relatório da hEDGEpoint Global Markets. Assim como a Europa, a China está passando por uma onda de calor histórica que fez o nível dos rios diminuir abaixo das médias históricas.
A geração de energia hidrelétrica caiu e autoridades locais estão tentando estabilizar o fornecimento de energia com carvão, cujos estoques estão em níveis sazonais limitados, enquanto as exportações da Rússia diminuem.
Esta combinação de fatores tem potencial para fazer a China aumentar as importações de GNL. “A Europa está pagando altos prêmios sobre o gás asiático para atrair a oferta e terá que pagar ainda mais se os chineses voltarem ao mercado”, comenta Heitor Paiva, analista de Energia e Macroeconomia da hEDGEpoint.
Eólica offshore, hidrogênio verde e aquecimento no RePowerEU
Parte do programa da União Europeia para reduzir sua dependência do gás russo entrou em ação esta semana com o Mecanismo de Interligação da Europa (CEF) apoiando financeiramente três projetos de renováveis.
Os projetos são: um parque eólico offshore híbrido entre a Estônia e a Letônia; uma rede de aquecimento urbano entre a Alemanha e a Polônia; e produção de eletricidade na Itália, Espanha e Alemanha e da conversão, transporte e uso de hidrogênio verde na Holanda e na Alemanha. MegaWhat
Aliança para descarbonizar a indústria
A Agência Internacional de Energia Renovável (Irena, na sigla em inglês) lançou uma aliança com 14 empresas nesta quinta (1/9) para acelerar as ambições climáticas na indústria e incentivar o uso de renováveis.
A Aliança Global para a Descarbonização da Indústria tem como membros Siemens Energy (cofundadora), Enel Green Power, TAQA Arabia, Eni, Technip Energies, EDF Renewables, JSW, Tata Steel, Sable Chemicals, Tatanga Energy, Roland Berger, Repsol, Equinor e TAQA.
Nayara Machado é Jornalista especializada em energia e combustíveis com foco em clima e sustentabilidade.
Texto publicado originalmente em EPBR
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