Brasil teve uma aumento de 12,2% nas emissões de gases de efeito estufa no ano de 2021 – desmatamento foi a principal causa.
A poucos dias da Conferência da ONU sobre o Clima, o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG) divulgou um número nada animador para a imagem do país no cenário internacional: as emissões brasileiras em 2021 tiveram sua maior alta em 19 anos.
No ano passado, o país emitiu 2,42 bilhões de toneladas brutas de CO2 equivalente. Em 2020, o número registrado havia sido 2,16 bilhões, o que representa um aumento de 12,2% quando comparados os dois períodos.
Segundo o SEEG, alta maior só foi verificada em 2003, ano em que o Brasil atingiu seu recorde histórico de lançamento de gases estufa na atmosfera. Naquele ano, a alta foi de 20%, puxada pela explosão do desmatamento na Amazônia.
Este também é o quarto ano seguido que o Brasil registra alta nas emissões. O quadro coloca o país como o quinto maior emissor mundial, com 4% do total, atrás de China (23,7% do total), Estados Unidos (12,9%), Índia (6,5%) e Rússia (4,2%).
Os números, apresentados na manhã desta terça-feira (01), mostram que o Brasil contraria o Acordo de Paris, do qual o país é signatário. O acordo é um compromisso internacional que prevê a redução gradual das emissões mundiais, a fim de limitar o aquecimento global a 2ºC. Atualmente, o planeta já está 1,1ºC mais quente em média, quando comparado com níveis pré-industriais.
“Neste momento, temos um governo que se revelou uma bomba climática, uma verdadeira máquina de gerar aquecimento global e de jogar carbono para a atmosfera, para o planeta. Nós temos um governo que negou a agenda do clima e que fez tudo o que podia para destruir a governança ambiental de nosso país, especialmente na Amazônia, que é nosso maior foco de emissões”, disse Márcio Astrini, secretário-executivo do Observatório do Clima, durante lançamento dos dados.
Vilões do clima
De acordo com o levantamento divulgado nesta terça-feira, quase todos os setores da economia tiveram forte alta em suas emissões em 2021: 3,8% na agropecuária, setor que costuma ter flutuações pequenas nos gases de efeito estufa, 8,2% no setor da indústria e 12,2% no setor de energia, a maior alta desde o “milagre econômico” da ditadura militar, em 1973.
Mas quem realmente puxou as emissões totais do país para cima foi o desmatamento, diz o SEEG. Impulsionadas pelo terceiro ano seguido de crescimento da área desmatada na Amazônia e demais biomas no governo de Jair Bolsonaro, as emissões por mudança de uso da terra e florestas tiveram uma alta de 18,5% entre 2020 e 2021.
A destruição dos biomas brasileiros foi responsável pelo lançamento de 1,19 bilhão de toneladas brutas de gases estufa na atmosfera no ano passado, contra 1 bilhão em 2020. O número é maior do que as emissões nacionais do Japão.
O setor de resíduos foi o único com emissões estáveis de 2020 para 2021.
Ranking de emissores
Considerando todas as emissões brasileiras, as mudanças de uso da terra abocanharam 49% do total. Somente o desmatamento na Amazônia, diz o SEEG, respondeu por 77% das emissões deste setor em 2021.
“A taxa de desmatamento em 2021 na Amazônia Legal foi de 13.038 km, a maior desde 2006 […] Isso demonstra que o aumento das emissões atualmente está refletindo esse retrocesso nos padrões de desmatamento”, comenta Bárbara Zimbres, pesquisadora do Instituto de Pesquisas da Amazônia (IPAM).
Mas o bioma não está sozinho: o desmatamento na Mata Atlântica em 2021 fez as emissões nesta formação florestal crescerem 65%; e, no Cerrado, 4%.
O segundo setor que mais emitiu em 2021 foi a agropecuária, com 25% do total do país. Segundo o levantamento, este setor lançou ao ar 601 milhões de toneladas de CO2 bruto equivalente no ano passado, contra 579 em 2020. A alta, segundo o SEEG, se deve principalmente à pecuária, em especial o metano emitido pela fermentação entérica do rebanho bovino – o chamado “arroto do boi”–, responsável por 79,4% do setor.
O SEEG também destaca o expressivo aumento do número de cabeças de gado em 2021 como motivação para esse crescimento. No ano passado, o rebanho bovino no país cresceu seis vezes mais que a média dos últimos 18 anos.
Na agricultura, os principais responsáveis pelas emissões foram o consumo de fertilizantes e o volume de calcário nas lavouras.
“O mais preocupante é que, mesmo com os compromissos assumidos pelo país em sua NDC [a meta no Acordo de Paris], no Compromisso Global do Metano e no Plano ABC, que tem mais de dez anos, em 2021, tivemos o recorde de emissões para a pecuária e a agricultura do Brasil”, salienta Renata Potenza, coordenadora de Clima e Cadeias Agropecuárias do Imaflora. “Considerando as metas de redução de emissões assumidas na NDC do país para 2025 e 2030, o patamar atual torna o alcance dessas metas cada vez mais distante.”
O setor de Energia ficou na terceira posição do ranking de maiores emissores, com 18% do total emitido em 2021. No ano passado, o setor lançou na atmosfera 435 milhões de toneladas de CO2 equivalente, contra 387 milhões em 2020. Esta foi a maior alta em 50 anos, dizem os pesquisadores do SEEG.
“Proporcionalmente, as emissões explodiram pelo fato de o consumo ter caído em 2020 por causa da Covid. No ano passado, o consumo energético voltou a patamares de 2014”, explica Felipe Barcellos, analista de projetos do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA), organização responsável pelos cálculos de energia e processos industriais do SEEG.
Outros dois fatores explicam a alta no setor de energia, diz Barcellos: a crise hídrica de 2021, que secou hidrelétricas e forçou o acionamento de termoelétricas, e a queda na safra de cana no Sudeste, que levou a uma alta do preço do etanol, reduzindo, consequentemente, a participação do biocombustível no transporte.
Os processos industriais e o setor de resíduos empatam na quarta posição do ranking de emissões, com 4% do total emitido no país em 2021, cada.
Segundo Tasso Azevedo, coordenador do SEEG, o balanço de dez anos do Sistema mostra que o Brasil teve uma década perdida para controlar sua poluição climática. “Desde a regulamentação da Política Nacional sobre Mudança do Clima, em 2010, nós estamos patinando. Não apenas não conseguimos reduzir nossas emissões de maneira consistente, como as aumentamos nos últimos anos, e de forma expressiva”, ressalta.
Fonte: O Eco
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