Entrevista por Suzana Camargo – Conexão Planeta
Um dos principais desafios na agricultura do mundo todo é a dependência no uso de fertilizantes, muitas vezes tóxicos e poluentes, para aumentar a produtividade na lavoura. Até hoje, sem essas substâncias, a produção de alimentos em larga escala para atender a demanda global se torna inviável.
Todavia, sabe-se que o emprego de alguns desses produtos, fabricados com materiais à base de polímeros e nanopartículas metálicas, como o ouro e a prata, provoca impactos graves no meio ambiente, provocando a contaminação do solo e cursos d’água, por exemplo.
Entretanto, ao longo dos últimos anos, pesquisadores têm se debruçado muito para desenvolver alternativas mais sustentáveis e de preferência, naturais, à utilização dos mesmos. Uma delas, inclusive, acaba de receber o mais importante prêmio de inovação que a Sociedade Brasileira de Química concede: um biofertilizante criado pelo professor da Universidade de Brasília (UnB) Brenno Amaro.
Aos 43 anos, o gaúcho é formado em Química e tem pós-doutorado em Biotecnologia Molecular e Celular. “É muito importante receber um prêmio como esse, o maior de inovação dado pela sociedade. A primeira vez que um professor da UnB recebe este prêmio. Na verdade, primeira vez de um professor no centro-oeste”, celebra o profissional.
A Arbolina, o nome do novo biofertilizante produzido com nanotecnologia e matéria-prima 100% nacional, é atóxica, não poluente e pode aumentar em até 40% a produtividade de alguns tipos de cultivos.
“O biofertilizante é composto por carbono orgânico, nitrogênio, oxigênio e hidrogênio. É basicamente o que a planta precisa. Ele é ‘bio’ porque é atóxico, feito de material produzido na natureza. E é sustentável, portanto, não gera resíduos sólidos e nem líquidos na produção”, explica.
Conversamos com Amaro sobre a novidade e a entrevista sobre o Biofertilizante você confere a seguir:
Como surgiu a ideia para o desenvolvimento da Arbolina?
A Arbolina surgiu da ideia de se desenvolver materiais carbonáceos luminescentes. Ou seja, materiais que pudessem emitir luz dependendo das condições. Neste processo, se observou que algumas propriedades poderiam ser atrativas para o desenvolvimento de vegetais.
Como exatamente a nanotecnologia é utilizada para o desenvolvimento do biofertilizante?
Os materiais carbonáceos são produzidos de forma que podemos controlar o seu tamanho. Por esta razão eles são sintetizados na escala manométrica, ou seja, um bilionésimo do metro. Sendo tão pequena e em escala nano, estes materiais são absorvidos de forma mais eficientes. Desta forma se utiliza a nanotecnologia tanto para produção quanto para aproveitamento por parte dos vegetais.
Quais são seus principais benefícios?
Os benefícios são inúmeros. Mas, dentre os principais, podemos destacar que são materiais atóxicos, não poluem, não são perigosos e são biologicamente compatíveis.
Por que o fertilizante aumenta a produtividade de alguns cultivos?
O aumento de produtividade ocorre em decorrência do melhoramento da saúde da planta. Como um biofertilizante organomineral, a Arbolina contribui para uma nutrição mais eficaz da planta. Plantas mais saudáveis produzem mais.
Esse biofertilizante pode ser usado em qualquer tipo de cultivo?
Pode ser usado em qualquer cultivo. Entretanto, cada cultivo tem uma dosagem certa de aplicação e seu tempo próprio de aplicação. Se estes parâmetros não forem bem controlados juntamente com a condição nutricional e qualidade do solo, o resultado será apenas o de causar estresse na planta. Por esta razão, este material é para aplicação em condições controladas. Do contrário, a planta apenas ficará estressada e não produzirá mais
O biofertilizante já é comercializado? Sua produção pode ser feita em larga escala?
Sim, o biofertilizante é comercializado pela Krilltech e é produzido em larga escala.
Como o custo do biofertilizante se compara a demais produtos disponíveis no mercado?
O preço do biofertilizante é compatível com os demais produtos disponíveis no mercado dentro deste ramo.
O que tem sido feito com o dinheiro arrecadado com a venda do produto?
A Krilltech paga royalties para a Universidade de Brasília e para a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) pelo uso da tecnologia patenteada. É o fruto da ciência contribuindo na geração de mais ciência.
Ainda há muita resistência por parte dos agricultores em buscar novas alternativas para substituir os pesticidas/herbicidas tradicionais e tóxicos?
A resistência a mudança é sim uma realidade. Mas os resultados da Arbolina são tão expressivos que o produtor já tem se rendido à esta tecnologia.
Texto publicado originalmente em Conexão Planeta 22/09/2022
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