Extinção de espécies pode iniciar efeito cascata nas comunidades em que essas aves e plantas interagem de forma mais intensa
Muitas espécies de beija-flores brasileiros polinizam uma diversidade de plantas. A relação traz benefícios para os dois lados, já que a ave bebe néctar nutritivo e as plantas são polinizadas e, com isso, produzem frutos e sementes. No futuro, no entanto, a dependência envolvida na interação pode se tornar uma desvantagem – quando as aves forem afetadas pelo clima mais quente. Uma única espécie-chave que desaparece pode prejudicar todas as espécies de plantas que ela poliniza, bem como outras espécies de beija-flores que se alimentam dessas plantas, iniciando um efeito cascata que tornaria algumas comunidades mais vulneráveis, de acordo com estudo que analisou 84 comunidades de beija-flor no continente americano, publicado esta semana (28/3) na revista científica Nature Ecology & Evolution.
“As comunidades de beija-flores estão organizadas de formas distintas em diferentes regiões da América”, explica o ecólogo dinamarquês Jesper Sonne, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, que realizou o estudo como parte de seu doutorado. No Brasil, o recrudescimento do aquecimento global – previsto por pesquisadores por meio de modelagens climáticas – deverá afetar espécies-chave conectadas com outras espécies, tornando todas elas mais vulneráveis do que em outras regiões. O beija-flor-rajado (Ramphodon naevius), por exemplo, um dos maiores do mundo, visita mais da metade das plantas polinizadas por beija-flores nas comunidades onde vive, do sul ao sudeste da Mata Atlântica. Isso significa que sua eventual extinção afetaria uma diversidade de espécies vegetais, assim como o desaparecimento de qualquer uma dessas flores representaria um empobrecimento em sua dieta.
A maioria das comunidades estudadas está na região norte da cordilheira dos Andes, no Brasil (Mata Atlântica e Cerrado), em países da América Central e no México. O banco de dados compilado pelo estudo inclui as redes de interações entre aves e plantas e a frequência com que ocorrem, e foi usado para alimentar simulações que mostravam o risco de extinção das espécies e de acontecer em cadeia, também chamada de coextinção, além de prever o potencial de colonização de novas áreas pelas espécies existentes. “A colonização não compensou a extinção, especialmente nas comunidades brasileiras mais vulneráveis”, ressalta o ecólogo Pietro Maruyama, da Universidade Federal de Minas Gerais, coautor do estudo.
Fonte: Revista FAPESP
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